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Acordo em um lugar diferente, uma cabana perto de um riacho. Toco meu rosto e mesmo cansada eu não consegui parar de chorar. Meu corpo começa a esquentar e a visão na minha frente começou a ficar ondulada, as ondas de calor estão alterando minha perspectiva da realidade. Mas eu não ligo. Eu perdi tudo outra vez. A Mãe me deu esse poder, uma dádiva que deveria ser usada para o bem, eu a usei para o mal. 

Eu não mereço isso.

Eu não mereço nada.

Eu destruo tudo o que toco e sei que vou causar mais mal do que bem se continuar aqui.

Vou libertar Aaron e depois faço o que preciso.

- Você acordou. - O desconhecido se aproxima de mim e começa a suar. - Nossa, está calor aqui. Se quiser se acalmar, eu tenho um chá para isso. Pode tomar, se quiser.

- Eu estou indo embora. 

Falo e tento me levantar, no instante que meu pé toca a grama, a vegetação começou a ficar distorcida e alguns matos pequenos começaram a se incendiar e a se espalhar rapidamente. Volto para a cama. Parece que eu sou um perigo para a flora também. Ficar nessa cama é o mais seguro a se fazer. Eu faço o que preciso quando esse homem for embora.

A vontade de chorar está entalada na minha garganta, mas as lágrimas são evaporadas pelo calor intenso. Eu sinto meu corpo esquentar de dentro para fora e eu sei que em algum momento eu vou morrer de calor, não me importo se eu morrer lentamente, eu mereço depois do que eu fiz.

- Se eu fosse você não faria isso. 

Suas palavras saem calmas e compreensivas, como se ele já estivesse acostumado a essa situação. Quem é esse homem? Porque ele está me ajudando?

- Mesmo que eu não seja um mago psíquico, eu posso ver que está emocionalmente abalada e por isso sua magia está fora de controle.

Fora de controle é um eufemismo que acontece comigo. Sinto o vazio começar a me corroer por dentro, e dentro do próprio vazio, o calor está se mesclando, se tornando aquilo que sempre foi e sempre será, destruidor. O calor destrói e não me importo se eu morrer lentamente, torturada pelo meu próprio corpo, eu não me importo, eu mereço.

- Esse chá vai te ajudar a se acalmar para podermos conversar, está tudo bem para você?

Ele deixa o copo perto de mim e não demora muito para explodir por causa do calor.

- Ah. - Diz surpreso. - O que foi que aconteceu com você, criança perdida?

Abro a boca para falar, para pedir que vá embora, que me deixe sozinha, para que eu possa fazer o que tenho que fazer, de certo modo estou ansiosa porque vou ver meus pais outra vez. Mas não vou ficar com eles, depois do que eu fiz, eu não mereço o paraíso. Eu mereço o que o inferno reserva para mim. 

- Acho que você merece uma explicação. - Começa a se abanar pelo calor. - Eu sou Lucas e você trabalha comigo já faz seis meses.

Não escondo minha confusão, seis meses? Como assim seis meses? Isso aconteceu ontem, eu estava na casa do duque ontem a tarde.

- Você não notou, mas a cama e sua roupa estão enfeitiçadas para que não entrem em combustão. - Lucas degusta o chá. - Particularmente tive trabalho para achar o feitiço certo, demorou um pouco, mas consegui.

Minha garganta seca por causa do calor, tremo por um momento e minha voz mal é audível.

- Porque eu trabalho com você? 

- Você não se lembra? - Pergunta surpreso. 

- Não. 

- Realmente, não se lembra? 

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora