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Fico em silêncio, não há muito o que dizer. Observo Nyra, ela também é alguém fácil de ler, enquanto come a carne posso ver seus olhos brilharem em cada mordida, esse brilho pode ser facilmente comparado ao brilho das estrelas, seus olhos quase se fecham de tanta felicidade, isso é engraçado.

- E você?

- O que tem eu?

- Em pé, adagas voltadas para baixo, provavelmente protegendo a região íntima, braços cruzados na frente, também em sinal de proteção, atenta aos arredores. Você sofreu com alguma coisa, não foi?

O sangue desapareceu do meu corpo, meu coração acelerou os batimentos, deslizo minha mão até o cabo da adaga, me preparando para qualquer coisa que viesse dela. Ninguém sabe disso.

- Desculpe se te assustei, é que com o tempo eu aprendi a ler o comportamento das pessoas. Mas aconteceu, não foi?

Minha respiração curta, faz com que Nyra comece a me olhar e me examinar. Não quero ficar aqui, não quero ouvir suas palavras. Sua expressão feliz é desfeita, e percebo que ela sabe.

- Me desculpe. Eu não quis...

Está negando, não podia ser obvio, não, não podia, eu fiz de tudo para tentar esquecer, eu tento não deixar transparecer! Eu não sei como ela sabe, mas ela sabe e agora eu sei, essas lembranças nunca vão desaparecer!

- Olha.

Me afasto, tenho que sair dali. Tenho que voltar para Hércules para que nós possamos ir embora.

- Ei!

Ela segura meu pulso, giro pegando o dela e o torcendo, está suando, ela também girou me fazendo soltá-la, está me olhando com pena, eu não quero sua pena! Não quero nada que vem dela. Guardo minhas adagas e volto para o rio.

- Espere! – Começa a me acompanhar. – Me desculpe por invadir seu espaço. Eu sei que você não me conhece e que depois disso não quer me conhecer, mas... – Inspira fundo e olha para o céu enquanto me acompanha. – Eu perdi minha mãe recentemente e fugi. É que eu perdi minha mãe e como você é uma estranha e eu também sou uma estranha, eu pensei que poderia desabafar ou algo assim.

Ela se esforçou para não deixar as lágrimas caírem. Meu peito se aperta, conheço bem esse sentimento, mas isso não me importa. Eu tenho que sair daqui.

- Eu só... tentei fugir daquilo que não se pode correr.

- Dor. – Inconscientemente, acabo dizendo.

- Você também perdeu pessoas?

Não a respondo e continuo andando. Seu choro silencioso me deixa incomodada, para não dizer agitada. Eu não gosto de ver pessoas chorarem, acabo perguntando para que me despeça dela e cada uma de nós seguimos nosso caminho.

- Você vai ficar bem?

Nyra sorri enquanto seca as lágrimas.

- Nyra?

Nyra congelou ao ouvir a voz de Hércules, sua cor foge de seu rosto em uma velocidade desumana, seus joelhos tremem levemente e fica inquieta. Seus olhos ficam arregalados, parece que não acredita na voz que a está chamando. Hércules caminha até ela e a encara de frente, seus dedos enxugam as lágrimas da menina que recebia o carinho. Nyra segura os pulsos de Hércules enquanto ele faz o carinho.

Que tipo de intimidade é essa? Ele só tem esse tipo de intimidade comigo. Ele nunca dirigiu esse olhar compreensivo a ninguém, além de mim e da minha mãe. Quem é essa mulher? E porque eu estou ficando tão irritada com isso?

O conto da Princesa Perdida (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora