Capítulo 4

97 12 2
                                    

Leyla.

Além de arrogante e autoritário, Carlos Eduardo também parece ser louco. Ainda não entendi o porquê de ter me segurado pelo braço daquela maneira. Ele parecia abalado, nervoso, emocionado. Em seu olhar, pude ver dor. Mas por quê?

Essa pergunta martela em minha cabeça desde o momento em que ele saiu deste quarto. Será que o poderoso chefão sofre de algum transtorno psicológico?

Penso, na tentativa de achar respostas plausíveis para meus questionamentos e depois de algum tempo, perdida em meus devaneios, desperto e observo o olhar distante do garoto que continua deitado em sua cama. No mesmo instante me pergunto se não está sentindo dores por conta da posição que permanece há horas.

- Você quer levantar? - Como era de se prever, ele não me responde e continua a encarar algum ponto vazio à sua frente.

- Você não sente dores? Está parado aí há muito tempo. - Questiono intrigada.

Rafael finalmente vira o rosto em minha direção e me fita com a expressão de tédio.

- Claro que sinto. Da cintura para cima meu corpo funciona normalmente, sua burra!

Imediatamente a raiva toma conta de mim. Como um menino tão pequeno pode ser atrevido ao ponto de me xingar, sem motivos?

- Ei! - Aceno para que se cale. - Eu te fiz uma pergunta de maneira educada, mocinho, e não vou aceitar que você me destrate dessa forma. Não fui contratada para ouvir desaforos, ok?

Ele revira os olhos e solta um sorriso irritante.

- Se você ficar nesta casa ainda ouvirá muitos desaforos, mocinha. - Ironiza me encarando profundamente.

Esse menino parece mais velho do que realmente é. Não sei se é somente a primeira impressão, mas ele me passa certa sabedoria, uma maturidade que ainda não consigo entender, mensurar.

- Quem te disse isso? Você está muito enganado. - Falo apontando o dedo em sua direção. Prefiro imaginar que as coisas não serão difíceis por aqui.

- Não estou, não. Meu pai vai ainda vai te xingar muito. Ele maltrata todo mundo o tempo inteiro. Quer dizer, menos a Viviana. - Encolhe os ombros, como se o que falou fosse óbvio.

- E você. - Complemento rapidamente.

Mas o garoto baixa o olhar e balança a cabeça em sinal negativo.

- Ele não gosta de mim. Você não percebeu quando ele entrou aqui?

- Percebi o quê? - Pergunto curiosa.

- Meu pai nem falou comigo. Assim que entrou no quarto ele foi direto brigar com você e aposto que nem percebeu que eu estava aqui.

No mesmo instante me dou conta de que o garoto fala a verdade. Carlos Eduardo D'ávila, tomado pela ira e arrogância, sequer olhou para o filho deitado na cama.

- Ele devia estar zangado. Seu pai é um homem muito ocupado e deve resolver milhões de problemas todos os dias.

- Ele é mau. Não gosta de ninguém. - Rafael dá de ombros e percebo revolta em seu tom de voz.

- Claro que gosta. Todo mundo gosta de alguém. - Me aproximo sento numa poltrona próxima à sua cama.

- Ele não. - A criança fala como se o desamor do pai fosse algo lógico e passo a imaginar que tipo de homem é aquele que me pegou pelo braço agora há pouco.

- Tenho absoluta certeza de que o senhor Carlos Eduardo ama você. - Afirmo quase em um sussurro, duvidando de minhas palavras.

- Deveria amar, mas não ama. A única pessoa que ele ama, morreu; minha mãe. - Rafael fala com o olhar duro e distante, como se essas constatações fosse algo superado por ele.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora