Capítulo 41

55 6 1
                                    

Carlos Eduardo

Abro a porta do quarto percebo que Rafael está dormindo. Mesmo assim me aproximo e sento na beirada da cama. Enquanto observo seu semblante sereno, penso no que fazer para reparar todo o mal que lhe fiz.

Quando eu era criança, recebi muito amor e cuidado dos meus pais, entretanto, tenho sido completamente incapaz de replicar isso ao meu próprio filho.

Não quero mais ser negligente ou permissivo. Quero corrigir meus erros e escrever uma nova história daqui para frente. Apesar de ter tido uma história magnífica e inesquecível com a mãe dele e tudo ter acabado de uma forma muito trágica, Leyla entrou em nossas vidas para mostrar que a tristeza não precisa imperar em nossos dias, na nossa rotina.

Agora sou capaz de entender que apesar de ter que conviver com a saudade de Sara pelo resto da vida, sei que sou capaz de amar outra mulher sem desrespeitar sua memória, sou capaz de ser feliz sem carregar remorso por isso. Agora sei que posso transformar as lembranças de Sara em algo doce, e principalmente, sei que sou capaz de cuidar e de amar nosso filho para que ele seja um homem justo, próspero e feliz.

Acaricio lentamente os cabelos de Rafael observando sua expressão serena, relaxada. Sua pele alva está corada e seu sono parece tranquilo.

Ele mexe a cabeça levemente, parecendo sentir meu afago e noto seus olhos abrirem aos poucos. Ele desperta devagar e esboça um  sorriso leve, ainda sonolento, ao perceber minha presença.

- Olá, pai. - Fala com a voz rouca.

- Desculpa por te acordar. - Digo quase num sussurro.

- Eu estava sonhando. - Semi cerra os olhos.

- Sonhando com o quê? - Pergunto curioso.

- Eu estava correndo. - De repente abre um sorriso animado. - Estava brincando de pique-esconde com Leyla e... - nesse momento seu sorriso aumenta - ...minha mãe.

- Com Leyla e sua mãe? - Indago intrigado. - Conte-me mais sobre o sonho.

- Nós três estávamos na beira do rio. Desse rio da fazenda. Eu podia correr no sonho. - Explica contente, fazendo meu coração apertar. - Nós três sorríamos muito.

- Sua mãe parecia feliz? - Indago emocionado.

- Sim, muito feliz. - Afirma, convicto. - No sonho ela correu atrás de mim enquanto Leyla nos observava sorridente.

- E Sara conseguiu te alcançar?

- Sim. E depois que me alcançou, minha mãe rolou comigo no chão. - Continua a contar com o olhar distante, porém feliz. - Depois ela cochichou no meu ouvido.

- Cochichou o quê? - Pergunto interessado.

- Ela me pediu perdão e pediu para eu ir com Leyla. - Semi cerra os olhos outra vez, parecendo confuso. - Minha mãe pediu para eu confiar em Leyla e para cuidar dela também.

- E de mim, ela não falou nada? - Questiono em expectativa.

- Sim. - Balança a cabeça em sinal positivo. - Minha mãe disse que estava muito feliz pelo senhor. Ela disse que não via a hora desse dia chegar.

- Que dia? - Questiono emocionado sentindo meu corpo inteiro arrepiar.

- Eu não sei. - Dá de ombros. - Ela não falou mais nada. Ela somente ficou de pé e me ajudou a levantar também. Depois sinalizou para que eu fosse até Leyla, que me esperava de braços abertos. - Rafael faz uma breve pausa e seu sorriso diminui. - Quando cheguei aos braços de Leyla, olhei para trás e minha mãe tinha desaparecido. - Solta o ar pesadamente.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora