Leyla.
Rafael e eu ainda estamos na sala quando escutamos um barulho intenso vir do lado de fora da casa, e no mesmo instante reconheço ser o som de vidros e talheres caindo no chão.
Respiro fundo e tento controlar minha irritação, ao contrário de Carlos Eduardo D'ávila, que com certeza derrubou tudo de propósito. Esse homem se mostra mais arrogante a cada dia, e faz questão de me destratar sempre que me ver, com a exceção de ontem à noite.
Ontem, seu olhar intenso, lascivo, me fez pensar que eu estava no caminho certo, e até arrisquei repeli-lo, mas depois de agora há pouco, estou quase convencida de que ele não tem coração.
Meu peito aperta quando olho para expressão de Rafael. O garoto não consegue disfarçar sua tristeza. O entendo perfeitamente, pois creio que não deve ser agradável ser filho daquele crápula.
Por uma fração de segundo penso em desistir de toda essa trama. Pela primeira vez na vida, um homem além de Geraldo me intimida e por mais que eu tente lutar contra esse sentimento, não consigo me sentir segura quando ele está por perto. É como se Carlos Eduardo tivesse o poder de, instantaneamente, desmoronar quem me transformei.
Quando estou ao lado dele, me sinto indefesa, coagida, mas ao mesmo tempo algo nele me atiça, me atrai e sei que nada disso tem nada a ver com sua fortuna. Ontem à noite, enquanto eu saía da piscina, flagrei seu olhar impetuoso percorrer todo o meu corpo, e naquele instante me senti completamente nua, apesar da lingerie que eu usava. Carlos Eduardo me olhou de uma maneira diferente, poderosa, segura o suficiente para despir minha alma.
Senti como se a qualquer momento ele pudesse descobrir minhas verdadeiras intenções, e o medo sobrepôs o desejo que me consumia. Por isso o repeli quando nossos corpos se aproximaram de maneira perigosa. Pela primeira vez durante anos, eu não soube como agir diante de um homem, e a única saída que achei foi ameaça-lo daquela forma.
No instante seguinte me arrependi, mas senti que era tarde demais para voltar atrás, pelo menos naquele momento. Carlos Eduardo praticamente me jogou de volta na piscina e pude ver faíscas saírem de seus olhos. Não posso negar que senti prazer em confronta-lo, mas também não posso negar para mim mesma que me decepcionei por ele não ter insistido um pouco mais.
Passei horas acordada tentando entender a confusão de sentimentos que ele desperta dentro de mim. O odeio. Isto é fato, mas ao mesmo tempo, de uma maneira controversa, o desejo e pressinto que essa atração pode atrapalhar os meus planos.
Não posso deixar que Mateus note o que se passa dentro de mim. Para ele, preciso mostrar que permaneço firme em nosso trato. Aliás, é assim que devo permanecer de fato, pois apesar de ser dono de um charme irritante e quase irresistível, Carlos Eduardo D'ávila merece ser passado para trás. Quem sabe depois que voltar para a pobreza ele não lembre como se deve tratar as pessoas? Confesso que estou curiosa para ver seu orgulho e arrogância indo para o ralo depois que sua fortuna inteira lhe for tirada.
Conseguir que assine algo me passando todos os poderes será a parte mais difícil do plano, pois ele é safo, esperto demais, e não e à toa que se tornou um dos homens mais ricos deste país.
*** **** ***
Quando Rafael e eu chegamos ao quarto, o menino pede para que o ajude a deitar na cama. Assim o faço, compreendendo seu estado de espírito. Ele não chora, mas sei que está triste e zangado.
Arfo e caminho até a janela, abro as cortinas e a vidraça deixando que a luz junto com a brisa da manhã alegrem o ambiente.
- Está um lindo dia lá fora. Que tal aproveita-lo? - Pergunto tentando anima-lo.
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Trapaças do Coração
RomanceCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...