Capítulo 22

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Carlos Eduardo

Acordo de mau humor e odeio saber o motivo. Odeio quando perco o controle de algo e ainda não entendo o porquê de ter me deixado levar novamente pelo impulso de assediar a cuidadora de meu filho. Fui cafajeste o suficiente com ela no Guarujá e não pretendo agir daquela forma novamente.

Preciso olha-la somente como uma funcionária qualquer. Não posso deseja-la e muito menos usa-la da mesma forma que fiz no último fim de semana. Confesso que exagerei. Fui duro demais com ela, perdi o controle, o senso. Quis afasta-la, joga-la para longe de mim. Quis mostrar que a noite que tivemos não foi importante, e acabei por humilha-la.

Tenho consciência de que exagerei ao mandar buscar Maria Eugênia antes mesmo que Leyla acordasse e fui um grande covarde por simplesmente fugir e deixar as duas sozinhas naquele lugar.

Talvez por isso eu não tenha sido severo quando soube o que aconteceu com meu carro. Tive uma grande parcela de culpa nisso tudo. Normalmente não ajo como um cafajeste com as mulheres. Sempre fui sincero com todas elas. Sempre deixei claras as minhas intenções. Mas com Leyla não.

Depois de ela ter me rejeitado na piscina quis provar para que conseguiria leva-la para cama quando eu quisesse e por vaidade fui capaz de armar um veradeiro circo.

*** *** ***

Levanto da cama e tomo uma ducha rápida. Visto um terno grafite, camisa azul petróleo e gravata preta.

Sento à mesa e me sirvo de salada de frutas, iogurte natural e uma torrada com geléia de tangerina, reparando na ausência de Rafael.

Viviana, que à distância fica à postos no aguardo de um eventual pedido meu, parece ler meus pensamentos e se aproxima.

- Rafael está quase descendo, senhor. - Explica da maneira cordial de sempre.

Quando Viviana se cala, vejo meu filho vir em minha direção, no controle de sua cadeira de rodas e Leyla logo atrás, seguindo-o. Sinto-me envergonhado quando meu olhar encontra o dela e instanteneamente lembro de minha investida mal sucedida de ontem à noite, mas opto por manter a postura firme e não me importar com o que supostamente ela possa estar pensando sobre mim.

Cumprimento Rafael e o observo enquanto se serve. Seu semblante está mais leve deixando-o com a aparência mais feliz e saudável.

Levanto-me rapidamente cumprimentando a todos que estão presentes e sigo para o trabalho.

*** *** ***

Chego no escritório sabendo de todos os compromissos do dia e tento focar no trabalho, mas algo ainda me incomoda, tira minha concentração. Entre a análise de um documento e outro me pego pensando na vida. Passam pequenas retrospectivas em minha cabeça.

Lembranças de minha infância feliz em Minas Gerais perto de meus pais. Lembranças de minha adolescência humilde e animada perto de meus amigos de escola e de Sara. Lembranças de minha esposa, de sua felicidade, de sua doçura, de sua beleza e do amor que sentia por mim e Rafael.

Inexplicavemente hoje estou sendo tomado apenas por lembranças boas, o que me faz questionar o tipo de vida que estou levando e o que estou fazendo dos meus dias e em que transformei a minha família.

Sou despertado de meus pensamentos por Gustavo. Ele veio de Minas para uma maratona de reuniões que teremos com prováveis novos fornecedores durante a semana.

- Bom dia, Cadu. - Se aproxima e me cumprimenta animado.

- Bom dia, Gustavo. - Retribuo o aperto de mãos - E não me chame de Cadu, por favor. - Peço tentando ser gentil, mas desisto quando percebo o revirar de olhos de meu amigo; do único amigo que me sobrou. - Como estão as coisas? - Pergunto interessado.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora