Um silêncio sepulcral se instala entre nós e então percebo que as feridas do meu patrão estão tão abertas quanto as minhas.
O que impera agora são nossas lembranças, e de um jeito estranho, sinto que estamos unidos pela dor e só agora me dou conta como ela é capaz de modificar as pessoas e às vezes capaz até de matá-las, como fez com Cadú e com Catarina.
Sou despertada dos meus pensamentos quando ele levanta e estoura a garrafa de champanhe que estava no balde de gelo. Acredito que esta seja uma maneira de se desvencilhar do clima pesado que se instalou entre nós.
Quando parte do líquido se espalha pelo ar, ele se apressa em pegar e encher duas taças limpas que estavam sobre a mesa. Ele me entrega uma e com a outra em mãos, acena para um brinde.
Seus olhos estão mais brilhantes, e me fitam de uma maneira diferente. Não é lascívia, não é luxúria; é algo que não consigo decifrar.
Dou um pequeno gole no champanhe, e sinto sua mão tocar a minha, entrelaçando rapidamente seus dedos nos meus.
- Vamos dançar. - Diz me conduzindo para perto dos músicos.
Sinto uma vibração estranha e forte quando ele envolve minha cintura e aproxima nossos corpos. O cheiro amadeirado de seu perfume invade meu nariz e embaralha todos os meus sentidos. E de uma maneira quase instintiva entrelaço meus braços em seu pescoço, me deixando levar pela melodia suave da música.
Me sinto leve, quase flutuando, me deixando conduzir por seu corpo alto e forte. A brisa toca meu rosto e quando olho para o lado, me dou conta que estamos distante do cais. Olho para as luzes da cidade, tão pequenas, e sinto um frio na espinha quando sou surpreendida pelo toque suave dos dedos de Carlos Eduardo, acariciar minhas costas. Eles passeiam por minha pele com delicadeza, fazendo leves movimentos de vai e vem.
Sinto uma paz inexplicável me envolver, e quase sem perceber, repouso a cabeça sobre seu peito, ouvindo o compasso do seu coração. O calor do seu corpo me acalanta, e em seus braços me sinto estranhamente protegida.
Crio coragem e acaricio sua nuca, subindo em seguida para seus cabelos macios. Sinto seu coração bater mais forte, e sua respiração irregular causa calafrios em meu corpo.
A música nos embala na dança enquanto meu corpo se conecta ao dele de uma forma diferente, especial, intensa. Ergo a cabeça e levanto o olhar aos poucos até sua boca bem delineada, e não consigo deixar de fita-la.
Engulo em seco quando Carlos Eduardo para no meio do convés e solta minha mão. Sofro com a perda, mas logo ela é compensada quando ele segura meu queixo com exatidão fazendo com que eu fite seus olhos.
Os percebo pesados, embriagados pelo desejo que os denunciam. De repente tudo ao meu redor parece desaparecer e só consigo me concentrar nos detalhes das feições de Carlos Eduardo. Nunca pude observa-lo tão de perto, a ponto de sentir o calor de seu hálito me entorpecer.
Nossos rostos se aproximam e sinto uma espécie de frenesi que destrói totalmente minha clareza de raciocínio. Fecho os olhos descobrindo sensações que eu nem sabia que existiam. Meu coração bate pesado ao mesmo tempo em que sinto um frio na barriga. Sinto uma espécie de dormência em todo meu corpo, que cessa apenas quando os lábios de Carlos Eduardo tocam os meus.
Neste momento, é como se houvesse um choque térmico, fazendo incendiar onde há pouco tempo estava congelado.
Sem qualquer controle sobre meus atos, seguro forte em seus cabelos na altura da nuca, me deixando levar pelo melhor beijo de minha vida.
Carlos Eduardo morde meus lábios e solta um pequeno gemido antes de penetrar minha boca com sua língua quente e macia, fazendo meu ventre contrair. Ele aperta minha cintura e me puxa para mais perto de si. Sinto seu corpo grande me envolver com impetuosidade e desejo enquanto meus sentidos se perdem na luxúria de meus pensamentos.
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Trapaças do Coração
RomanceCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...