Capítulo 3

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Carlos Eduardo

Quando entro nos aposentos de Rafael avisto uma moça sentada de maneira dispersa sobre o sofá cama que fica do outro lado do quarto. Seu jeito acomodado imediatamente me incomoda.

Sem prestar muita atenção no garoto, caminho em direção à morena de cabelos longos, que me olha surpresa. Ela tenta levantar-se, mas a antes que o faça aceno para parar.

- Fique exatamente onde está. - Falo percebendo a beleza de seus olhos. Não só a cor azul, mas a expressividade que eles me passam. - Não precisa se recompor só porque cheguei. Todos os funcionários têm que manter a postura por todo o horário de trabalho. Viviana não te explicou isso? - Questiono irritado com a maneira que ela retribui o olhar.

Uma espécie de mistério me prende a seus olhos de uma forma explicável.

- Desculpa, Senhor Carlos Eduardo. - Diz com a voz rouca, suave, enquanto parece não saber o que fazer. Seu corpo permanece estático, exatamente da mesma maneira que estava como ordenei que parasse. - Viviana me explicou tudo direitinho. Foi apenas displicência minha e não vai se repetir. Eu prometo.

- Não preciso de promessas. O que preciso aqui é de competência, coisa que você não parece possuir. Aliás, quem é você? - Pergunto sério, como sempre, mas já sabendo de quem se trata. Mais cedo a vi na companhia de Viviana e eu jamais esqueceria olhos tão expressivos.

- Meu nome é Leyla. Sou a nova cuidadora de Rafael. - Ela estende a mão para um aperto, mas ignoro seu gesto virando-lhe as costas.

Tenho plena consciência de que não sou muito simpático com as pessoas, principalmente com os que me servem nesta casa. Não tenho paciência para cortesias. Todos eles foram contratados e são muito bem remunerados para me prestar serviços com eficiência, apenas isso e nada mais.

Quando percebe que não vou cumprimenta-la, a moça puxa de volta a mão para si e olha para o outro lado do ambiente, visivelmente constrangida.

- Não quero entrar nesse quarto outra vez e encontra-la à vontade.

- Mas senhor, isso é impossível! - Embora ela fale com a voz suave, noto uma ponta de irritação em seu semblante. - Estarei conseguirei permanecer totalmente à disposição de vocês vinte quatro horas por dia até que encontrem outra cuidadora. Não conseguirei ficar a postos o tempo inteiro.

Franzo o cenho e a observo com estranheza. Quando me ligou avisando sobre a nova contratação, Viviana não mencionou que essa moça trabalharia em tempo integral.

Bufo, irritado. Minha governanta sabe que não gosto de agir fora da lei. Se essa garota resolver acionar a justiça do trabalho, com certeza me prejudicarei.

- Você não pode trabalhar o tempo inteiro, garota. Ninguém pode. - Bufo e afrouxo o nó da gravata.

Meu dia no escritório foi extenso e estressante, e não contava que chegaria em casa e haveria algo fora das regras que impus.

- Não se preocupe, senhor. Posso dar conta do serviço, e, além disso, a remuneração é boa.

No mesmo instante me dou conta de ela deve estar precisando muito do dinheiro. Ninguém aceitaria algo tão desgastante se não tivesse necessidade. Por outro lado, não sou homem de abrir exceções.

- Não é você quem decide as regras por aqui, menina. - Aceno impaciente. - Finalize seu dia e vá para casa.

- Mas... - Ela insiste, com os olhos pidões, mas antes que termine a frase, aceno novamente para que se cale.

Leyla me obedece sem questionar, mas seu semblante entrega sua indignação. Ela comprime os lábios e baixa a cabeça. Quando seu corpo passa por mim, sinto um aroma que faz meu coração acelerar de imediato.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora