Capítulo 38

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Leyla

Na volta para a sede da fazenda, tento transparecer tranquilidade, mas na verdade estou totalmente apavorada com tudo que está acontecendo entre mim e Carlos Eduardo.

Parece loucura, mas eu me sentia melhor quando ele me repelia. Ser desprezada me colocava numa situação mais confortável do que a que estou agora. Pelo menos naquela posição eu poderia simplesmente assumir minha falha em não conseguir conquistá-lo e desistir de tudo.

Certamente daquela forma seria mais fácil ir embora, mas tudo parece ter mudado e agora eu simplesmente não sei como agir. Ao mesmo tempo em que preciso loucamente dos afagos e palavras amorosas de Carlos Eduardo, sinto-me muito mal por não poder viver isso da maneira que eu tanto gostaria.

O sentimento de culpa me consome por dentro e tenho plena certeza de que jamais serei capaz de fazer algum mal a ele e a Rafael. Ao contrário, se eu pudesse, passaria a vida inteira ao lado deles, me certificando e cuidando para que fiquem bem, mas as coisas não são tão fáceis.

Conheço Mateus o suficiente para saber que ele jamais permitiria que isso acontecesse. Se eu contasse toda a verdade e simplesmente dissesse que não vou mais dar segmento ao plano, não sei do que ele seria capaz.

Seria utopia crer que posso tentar viver um romance com Carlos Eduardo D'ávila. Tudo o que posso fazer é ganhar tempo para pensar e encontrar a melhor forma de sair da vida dos D'ávila sem causar danos e enquanto isso aproveitar tudo que está acontecendo entre nós dois para depois guardar como uma lembrança boa de algo que não pude viver.

*** *** ***

Ao chegar à sede da fazenda, avisto Rafael na varanda. Ele parece desanimado, brincando com um cavalinho de madeira. Me aproximo devagar observando-o com atenção.

- Olá. - Sorrio me ajoelhando em frente à sua cadeira de rodas, de modo que nossos olhos fiquem na mesma altura. - Como foi sua manhã?

Ele nada responde. Apenas me fita rapidamente e baixa a cabeça fingindo voltar sua atenção para o brinquedo.

- O que você fez durante o tempo que fiquei fora? - Insisto calmamente, antes de perceber Carlos Eduardo se aproximar.

- Dei uma volta nos arredores da casa com minha avó. - Arfa ainda sem olhar em minha direção.

- E não foi divertido? - Questiono pesarosa por seu desânimo.

- Minha avó é muito gentil, mas não tem forças para me carrehar nos braços. - Dá de ombros.

Comprimo os lábios me sentindo culpada por te-lo deixado sozinho.

- Não precisa ficar triste por isso, filho. - Carlos Eduardo afirma bagunçando os cabelos do garoto. - Que tal irmos até a cidade tomar sorvete?

O menino nada responde, apenas fita o pai com um olhar desafiador. Carlos Eduardo percebe e me olha rapidamente para ter certeza que compreendi a reação de Rafael, mas para falar a verdade nunca vi o garoto agir dessa forma.

- Posso saber o que está acontecendo? - Carlos Eduardo cruza os braços e questiona o filho com autoridade.

Rafael finge não ouvir a pergunta e continua a mexer no cavalo de madeira.

- Por que não me responde, Rafael? - Carlos Eduardo insiste exasperado.

- Por que você não se importa. - O menino o encara novamente com revolta no olhar. - Eu nem sei porque está me tratando dessa forma.

- Sobre o que você está falando? - Carlos Eduardo continua.

- Você nunca se importou comigo. Nunca me deu atenção, nunca quis ficar ao meu lado. Por que agora finge que se importa?

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora