Leyla
O dia de hoje foi muito difícil. Não consegui me concentrar totalmente nas tarefas do restaurante. A lembrança de Geraldo me tiraram do prumo e por mais que eu tentasse disfarçar, Dona Kátia percebeu o tamanho impacto que a visita daquele velho causou em mim.
Quase no fim do expediente, enquanto lavávamos a louça do almoço, senti um clima tenso entre nós duas.
Após uma ducha fria, me jogo sobre a cama e tento esquecer tudo o que aquele velho representa, mas é impossível. Lembranças dos abusos que sofri invadem minha mente e choro compulsivamente alimentando todo o ódio que ainda habita em mim.
De repente ouço alguém bater na porta do quarto. Olho para o relógio na tela do celular e noto que já passa das dezoito horas.
- Quem é? - Pergunto, agitada, receosa de que Geraldo tenha retornado.
- Sou eu, Marcos! - Ouço uma voz familiar e acolhedora que acalma meu coração.
- O que você quer? - Pergunto enquanto limpo as lágrimas do meu rosto.
- Vim te chamar para dar uma volta.
- Obrigada, mas eu prefiro ficar sozinha.
- Catarina, eu preciso saber o que está acontecendo. Estou preocupado. - Ele fala e sinto tensão em seu tom de voz.
- Não precisa se preocupar. É bobagem, logo vai passar.
- Quero te ajudar. Por favor, abre essa porta e vamos dar uma volta? Juro que não sairei daqui enquanto você não fizer o que estou pedindo. - Ele insiste enquanto mexe na maçaneta. - Vamos dar uma volta na praça. Você precisa tomar um ar.
- Odeio essa cidade! - Praguejo, exasperada, imaginando os olhares julgadores das pessoas sobre mim.
- Então somos dois. Fui embora daqui na barriga da minha mãe. Sabia que morei em São Paulo? - Fala em tom divertido me fazendo soltar um sorriso fraco. - Vendi marmita na vinte e cinco de março durante anos ajudando minha mãe antes de ela decidir voltar para cá.
- Sério? - Questiono imaginando Marcos gritar oferecendo marmitas para a multidão que passava.
- Pois é. - Arfa.
- Tá bom! - Reviro os olhos e levanto da cama. - Vou só passar uma água no rosto e trocar de roupa. Ficarei pronta em dez minutos.
*** *** ***
Marcos dirige calmamente pelas ruas quase desertas da cidade. São dezenove horas e a única concentração de pessoas continua sendo na praça da igreja principal que é rodeada por pequenos comércios como alguns bares, lanchonetes, restaurantes e pizzarias.
Marcos estaciona o carro em uma rua paralela a um dos lados da praça e se apressa para abrir a porta do veículo para que eu desça.
Sorrio em agradecimento e me apoio em seu braço para erguer o corpo com cuidado para não machucar meu ferimento.
Visto um vestido jeans de alças e decote reto, acinturado que vai até um pouco acima dos meus joelhos. Calço tênis branco, amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo alto e como acessórios uso somente grandes argolas redondas e prateadas. Até pensei que disfarçar o inchaço dos meus olhos com maquiagem, mas não estava com paciência para isso, então coloquei apenas um gloss cor de boca.
Marcos me oferece o braço e caminhamos rumo a praça. Noto alguns olhares caírem sobre nós e o observo de soslaio. Ele parece tranquilo sem se importar com as pessoas que passam por nós.
- Sua namorada não se incomoda de você sair para passear de braços dados pela praça com outra mulher? - Pergunto, divertida.
- Com você não. - Ele pensa por uma fração de segundo e faz uma careta engraçada antes de responder.
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Trapaças do Coração
RomanceCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...