Capítulo 23

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Leyla

Ao chegarmos no hangar tento não demonstrar deslumbramento, pois em meu currículo falso minhas referências são de pessoas endinheiradas, portanto, para todos os efeitos estou acostumada a voar em aviões particulares.

Demoro para perceber o semblante assustado de Rafael. O menino aperta minha mão e sinto sua pele fria e suada. Obviamente o garoto deve ter ficado traumatizado após o acidente que sofreu com sua mãe. Nesse exato momento esqueço tudo ao meu redor e me dedico a tentar passar-lhe segurança.

- Não precisa ter medo. Estou perto de você! - Sorrio e beijo sua testa, enquanto verifico se Matheus retirou sua cadeira de rodas do porta-malas do carro e a posicionou próximo a mim e Rafa.

Mesmo tomado pelo pânico, o garoto não esboça resistência em sair do veículo e retira o cinto de seguranças. Logo em seguida, com a ajuda das mãos se aproxima da porta e olha rapidamente para Matheus e imediatamente  dou o espaço necessário para que o motorista pegue Rafael nos braços e o acomode na cadeira de rodas.

O menino agradece com um sorriso e semicerra os olhos por conta do sol e, com o olhar vago, parece fixar em algo invisível a sua frente.

Rafael é uma criança extremamente corajosa e encara seu trauma de frente enquanto eu me afasto e me escondo até hoje atrás de lembranças dolorosas e uma realidade suja que deturpa o que ainda pode ter de bom em mim.

Engulo em seco diante de minha constatação e sentindo um bolo na garganta, o acompanho enquanto ele segue os passos do pai.

Carlos Eduardo caminha a nossa frente como se ninguém fosse o acompanhar nessa viagem o que faz eu me perguntar o que pode acontecer enquanto estivermos em Minas Gerais.

Sinto um frio na espinha quando imagino como ele pode magoar Rafael enquanto estivermos lá. Por mais que o garoto tente disfarçar sei que o desprezo do pai o afeta profundamente e me repreendo por saber que afeta a mim também.

Sinto-me totalmente vulnerável quando estou ao lado de Carlos Eduardo. Ele possui o poder de me destabilizar. Desde o dia que nos conhecemos não tive um segundo sequer no controle da situação e por mais que eu tente negar, nem no controle das minhas emoções.

Seu cheiro bagunça todos os meus sentidos, sua voz embaralha meus pensamentos e seu olhar estremece meu corpo e me faz praticamente suplicar por um pouco de atenção.

Isso tudo é absurdamente patético, mas é exatamente como me sinto. E só depois disso passo a compreender melhor como as protagonistas daqueles filmes de comédia romântica se descrevem. Agora entendo como é se sentir completamente fora do controle.

A cada dia que passa penso mais em desistir de tudo isso e retornar para minha vida medíocre de golpes baratos, mas ao menos tempo, uma espécie de força magnética me mantém ligada aos D'ávila. Além disso, fico assustada com a obsessão de Matheus pela fortuna de Carlos Eduardo. São bilhões de reais, eu sei, quem não quer ser dono de uma fortuna dessas? Mas ao mesmo tempo, tentar enganar um homem tão rico e poderoso é muito perigoso.

Matheus sabe o quanto estamos nos arriscando, mas nem mesmo assim cogita a possibilidade de desistir. Seu olhar me assusta cada vez que falamos no assunto. Tomar a fortuma dos D'ávila parece ser a coisa mais importante da vida dele.

Sinto-me sufocada por meus pensamentos e somente sou despertada quando o Sr. Dávila toca em meu ombro.

- Tudo bem como você? - Pergunta com o semblante desconfiado.

- Sim. - Passo a mão pelo rosto, envergonhada. - Desculpe-me, eu...

- Tem medo de avião? - Ele completa mudando o semblante para zombeteiro.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora