Capítulo 58 - Parte I

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Leyla

Ouço ruídos incomuns ao meu redor. Abro os olhos e me dou conta de que estou em um hospital com eletrodos em meu corpo, ligados a um aparelho que mede meus sinais vitais. Há uma cortina que envolve todo o meu leito e me impede de ver o que tem mais a diante.

Aperto os olhos quando relembro o que aconteceu ontem a noite e aos poucos vou assimilando os detalhes das lembranças que me açoitam por dentro.

Um bolo se forma em minha garganta e o desespero toma conta de mim quando lembro do olhar revoltado, desesperado e magoado que Carlos Eduardo me lançava à medida que descobria mais detalhes sobre o golpe que foi planejado contra ele.

Viviana foi muito esperta. Ela tinha pensado na possibilidade de eu desistir de tudo e montou um dossiê contra mim, certamente com a intenção de me chantagear e é óbvio que ela fez com mesmo com a esposa de Carlos Eduardo. Por isso Sara não aguentou a pressão e numa atitude desesperada preferiu morrer do que ter seu erro exposto e seu casamento arruinado.

Sara amava o marido a ponto de não aguentar viver sem seu casamento. Ela foi fraca, mas neste exato momento compreendo o que ela deve ter sentido, pois a sensação que tenho é a de que enfiaram um punhal em meu coração que ainda está fincado, cravado me fazendo sangrar sem parar e me matando aos poucos.

Certamente a essa hora Carlos Eduardo deve saber detalhes da minha vida pregressa e deve se sentir enojado por ter se envolvido com alguém como eu.

Por mais que eu tente, não consigo imaginar como ele e Rafael estão agora, mas espero que eles estejam bem e a salvo de Mateus e Viviana. Tomara que Carlos Eduardo seja esperto o suficiente para enxergar que não fui a única a engana-lo.

Ao mesmo tempo em que me sinto desolada, também me sinto aliviada por finalmente não ter mais que esconder nada sobre meu passado ou sobre esse golpe sujo. O que me angustia é saber que Viviana vai fazer de tudo para se safar dissimulando a situação e saber que Mateus foi capaz de tentar me matar porque pus um fim em nosso plano.

Sou despertada de meus pensamentos quando vejo que dois homens abrem a cortina e se aproximarem.

- Bom dia, senhorita Leyla. - Um deles me cumprimenta enquanto checa meu prontuário que está preso à cama. - A senhora será transferida agora. A ambulância está posicionada para leva-la.

- Me levar para onde? - Pergunto confusa. De repente sou tomada pelo receio de ser presa.

- Para o Hospital Santorini. - O rapaz diz gentilmente.

De repente meu coração se enche de esperança, pois é óbvio que foi Carlos Eduardo quem providenciou minha transferência para o Santorini, e se ele fez isso, não deve estar me repudiando como eu imaginava.

- Tudo bem. - Limito-me a responder e solto um suspiro profundo esquecendo por uma fração de segundo o incômodo que sinto no local do curativo.

Os rapazes me retiram da cama e me posicionam na maca rapidamente tomando cuidado com os eletrodos e acessos de medicamentos intravenosos.

*** *** ***

Chego ao Hospital Santorini e subo para um apartamento confortável, mas confesso que me sinto confusa e perdida por não saber ao certo o que está acontecendo.

Não demora para que um médico venha ao meu encontro e me explique meu quadro clínico:

- Boa tarde, senhorita. - Me cumprimenta cordialmente. - Como se sente?

- Sinto-me um pouco fraca, somente. - Digo reparando no nome bordado em seu jaleco.

- Você perdeu muito sangue, mas a bala não atingiu nenhum órgão, então logo logo você terá alta. - Vai ficar aqui por mais um ou dois dias em observação e se tudo der certo, voltará para casa.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora