Leyla
Ouço ruídos incomuns ao meu redor. Abro os olhos e me dou conta de que estou em um hospital com eletrodos em meu corpo, ligados a um aparelho que mede meus sinais vitais. Há uma cortina que envolve todo o meu leito e me impede de ver o que tem mais a diante.
Aperto os olhos quando relembro o que aconteceu ontem a noite e aos poucos vou assimilando os detalhes das lembranças que me açoitam por dentro.
Um bolo se forma em minha garganta e o desespero toma conta de mim quando lembro do olhar revoltado, desesperado e magoado que Carlos Eduardo me lançava à medida que descobria mais detalhes sobre o golpe que foi planejado contra ele.
Viviana foi muito esperta. Ela tinha pensado na possibilidade de eu desistir de tudo e montou um dossiê contra mim, certamente com a intenção de me chantagear e é óbvio que ela fez com mesmo com a esposa de Carlos Eduardo. Por isso Sara não aguentou a pressão e numa atitude desesperada preferiu morrer do que ter seu erro exposto e seu casamento arruinado.
Sara amava o marido a ponto de não aguentar viver sem seu casamento. Ela foi fraca, mas neste exato momento compreendo o que ela deve ter sentido, pois a sensação que tenho é a de que enfiaram um punhal em meu coração que ainda está fincado, cravado me fazendo sangrar sem parar e me matando aos poucos.
Certamente a essa hora Carlos Eduardo deve saber detalhes da minha vida pregressa e deve se sentir enojado por ter se envolvido com alguém como eu.
Por mais que eu tente, não consigo imaginar como ele e Rafael estão agora, mas espero que eles estejam bem e a salvo de Mateus e Viviana. Tomara que Carlos Eduardo seja esperto o suficiente para enxergar que não fui a única a engana-lo.
Ao mesmo tempo em que me sinto desolada, também me sinto aliviada por finalmente não ter mais que esconder nada sobre meu passado ou sobre esse golpe sujo. O que me angustia é saber que Viviana vai fazer de tudo para se safar dissimulando a situação e saber que Mateus foi capaz de tentar me matar porque pus um fim em nosso plano.
Sou despertada de meus pensamentos quando vejo que dois homens abrem a cortina e se aproximarem.
- Bom dia, senhorita Leyla. - Um deles me cumprimenta enquanto checa meu prontuário que está preso à cama. - A senhora será transferida agora. A ambulância está posicionada para leva-la.
- Me levar para onde? - Pergunto confusa. De repente sou tomada pelo receio de ser presa.
- Para o Hospital Santorini. - O rapaz diz gentilmente.
De repente meu coração se enche de esperança, pois é óbvio que foi Carlos Eduardo quem providenciou minha transferência para o Santorini, e se ele fez isso, não deve estar me repudiando como eu imaginava.
- Tudo bem. - Limito-me a responder e solto um suspiro profundo esquecendo por uma fração de segundo o incômodo que sinto no local do curativo.
Os rapazes me retiram da cama e me posicionam na maca rapidamente tomando cuidado com os eletrodos e acessos de medicamentos intravenosos.
*** *** ***
Chego ao Hospital Santorini e subo para um apartamento confortável, mas confesso que me sinto confusa e perdida por não saber ao certo o que está acontecendo.
Não demora para que um médico venha ao meu encontro e me explique meu quadro clínico:
- Boa tarde, senhorita. - Me cumprimenta cordialmente. - Como se sente?
- Sinto-me um pouco fraca, somente. - Digo reparando no nome bordado em seu jaleco.
- Você perdeu muito sangue, mas a bala não atingiu nenhum órgão, então logo logo você terá alta. - Vai ficar aqui por mais um ou dois dias em observação e se tudo der certo, voltará para casa.
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Trapaças do Coração
RomanceCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...