Capítulo 66

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Leyla

Marcos me convence ir à delegacia, pela manhã, prestar queixa contra meu padrasto.

Na hora combinada ele bate á porta do meu quarto e avisa que está a minha espera. Faço minha higiene pessoal, limpo o ferimento e troco o curativo, visto um vestido de linho branco, calço rasteiras bege e faço uma maquiagem leve.

Saio do quarto e fico surpresa quando percebo uma das mesas do salão montadas para o café da manhã. Alguns quitutes como geleias, torradas, pães de queijo, cuscuz, mini sanduíches naturais, sucos e iogurtes compõem a mesa.

- Quanto capricho! - Elogio surpresa.

- Venha, Catarina! Sente-se! - Dona Kátia me chama enquanto serve o filho. - Hoje você terá um dia intenso e precisa estar bem alimentada.

Olho para Marcos e noto que ele contou para a mãe sobre nossa conversa.

- Não o repreenda, por favor! - Pede fazendo sinal de oração. - Eu também fiquei muito preocupada com você quando a vi chorando por conta daquele velho bêbado. Não descansei até entender o que estava acontecendo, mas não se preocupe, pode contar comigo para o que precisar.

Abro um sorriso breve e caminho até Dona Kátia. Sem mais nada dizer, dou-lhe um abraço fraterno.

- Está tudo bem. Se tudo der certo, em pouquíssimo tempo todos nesta cidade ficarão sabendo o que Geraldo fez comigo.

Dona Kátia cruza os dedos em sinal de torcida e sentamos à mesa. Durante a refeição procuramos falar amenidades, pois não quero ter que me concentrar no que vou falar em meu depoimento.

Antes da saída, Dona Kátia faz o sinal da cruz em meu rosto e ergue as mãos em sinal de oração.

Em cerca de dez minutos chegamos a delegacia e como era de se esperar, o expediente parece calmo. Marcos e eu somos os únicos a chegar no local, chamando atenção dos agentes.

Um deles cumprimenta Marcos com certa intimidade e logo pergunta do que se trata nossa presença.

- Vim fazer uma denúncia. - Digo após puxar todo o ar dos meus pulmões.

- Que tipo de denúncia? - Pergunta acenando para que eu sente.

- Fui estuprada pelo meu padrasto. - Digo voltando a me sentir vulnerável, mas Marcos percebe minha aflição e permane ao meu lado segurando em minha mão.

- Quando ocorreu o crime? - O rapaz pergunta digitando no computador.

- Teve início há doze anos e perdurou por cerca de cinco ou seis anos. Quando tudo começou eu tinha apenas dez anos de idade.

- Vou leva-la até o delegado. - O agente levanta e acena para que eu o acompanhe.

Relato todo o acontecido com o máximo de detalhes possível, pois faço questão que Geraldo pague por tudo o que ele me fez. Se a falta de algum detalhe poderia ajuda-lo a se safar, garanti que isso não acontecesse.

Após o registro da denúncia, o delegado me pergunta o motivo que me fez permanecer em silêncio durante tanto tempo e explico que senti muito medo de que Geraldo cumprisse as ameças que fazia, além da vergonha que eu sentia de as pessoas da cidade saberem o que ocorria entre nós dois.

- Muito tempo passou e isso dificulta a apuração de provas. - Explica calmamente - Existe alguma testemunha?

- Não.

- Não se preocupe, vamos investigar, mas quero deixar claro que precisamos de provas contundentes para prendê-lo.

- O que vai acontecer a partir de agora? - Pergunto, me sentindo frustrada.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora