Carlos Eduardo.
Engulo em seco somente de imaginar que o avião está pousando próximo ao local do acidente de Sara e nesse momento me questiono se foi uma boa ideia ouvir o conselho do Guga e encarar tudo de frente.
Quantas vezes tentei e não consegui? Quantas vezes perdi o controle e praticamente enlouqueci envolvido pela dor de perder minha esposa, a companheira da minha vida?
Retornar a este lugar pode não ter sido uma boa ideia, assim como não tenho a mínima noção de como me portar quando reencontrar meus pais. Estou indo até eles sem ao menos ter avisado e não sei o que vou dizer quando estiverem a minha frente.
Nosso último reencontro não foi nada agradável e daquele dia até hoje tenho evitado qualquer tipo de aproximação.
Sinto falta deles, é claro, mas a mania de querer dar palpites em como devo conduzir minha vida e conviver com Rafael me tira do sério. Não sei se conseguirei controlar meu temperamento explosivo quando certamente voltarem a tocar no mesmo assunto.
Sento na poltrona e coloco o cinto de segurança. Fecho os olhos tentando encontrar uma boa maneira de conseguir me reaproximar sem discussões e ressentimentos. Sei que estão magoados por tê-los distanciado da minha vida.
Quando o avião para e o piloto sai da cabine levanto e olho para Leila. Ela rapidamente faz o mesmo e retorna para o lado de Rafael. Sinto minhas mãos suarem por receio dos próximos momentos e fico confuso sem saber como agir.
Apenas sigo em frente e desço da aeronave, deixando que ela, a comissária e o piloto se responsabilizem pela condução de Rafael.
Observo alguns trabalhadores da fazenda se aproximarem rapidamente, certamente curiosos para saber quem chegou.
Respito fundo e observo se há algum automóvel que possa nos levar até a casa de meus pais, mas só consigo avistar dois tratores e um caminhão.
O piloto se aproxima e para ao meu lado observando a paisagem, parecendo gostar do que vê.
- Sou mineiro. - Sorri - Mesmo que por pouco tempo é sempre bom estar no lugar de origem.
Nada respondo, apenas me questiono porque ainda não consigo sentir a mesma satisfação.
- Alguém vem busca-los? - tenta puxar assunto.
- Quis fazer uma surpresa para meus pais, mas temo não ter sido uma boa ideia. - Solto o ar pesadamente pensando em meus traumas e em ter que ir andando até a casa de meus pais.
Olho para trás e vejo Leyla e Rafael. Meu filho está devidamente acomodado em sua cadeira de rodas e parece animado por estar aqui. Seu olhar atento e o breve sorriso nos lábios me faz pensar que tipo de homem sou eu por até hoje não ter sido capaz de superar aquele terrível acidente.
- Boa tarde! - Sou despertado de meus pensamentos por um rapaz alto e moreno, vestido numa calça de jens surrada e camisa quadriculada, nas cores azul marinho e branco. As mangas da sua camisa estão dobradas até o anti braço e os três primeiros botões abertos mostrando o suor escorrer por sua pele.
- Sou Carlos Eduardo D'ávila. Filho de Haroldo D' ávila. - Respondo oferecendo a mão para um aperto cordial.
- Chamo-me Fernando Bezerra. Sou funcionário da Fazenda. Veterinário. - Responde confiante, fitando-me com atenção. - Precisam de ajuda? - Pergunta olhando para os lados, certamente percebendo que estamos sem transporte. - Pelo jeito seus pais não sabem da visita. Acertei?
- Você está de carro? - Pergunto ignorando sua curiosidade.
- Sim. - Responde rapidamente, analisando meu semblante impaciente. - Vou buscar o carro. Com licença.
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Trapaças do Coração
RomanceCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...