Carlos Eduardo
Sinto os raios do sol invadirem o quarto e bater em meu rosto.
- Merda! - Xingo baixinho ao perceber que dormi embriagado com a maldita carta na mão.
Li e a reli milhares de vez conferindo cada letra que nela está escrita e me convenci de que foi mesmo minha falecida esposa quem a escreveu.
Não sei explicar o que sinto desde que soube toda verdade. De repente a imagem imaculada que eu tinha de Sara foi desfeita, destruída.
Foram anos convencido de que eu era o mundo dela, assim como ela era o meu. Nunca imaginei que Sara podia ser capaz de me trair, de ter um caso. Jamais imaginei que ela pudesse me apunhalar pelas costas dessa forma.
Cada vez que fecho os olhos um filme de nossa história passa pela minha mente e a cena final é sempre a que eu cachoalho seu corpo inerte após a queda do avião.
Deixei meu filho de lado, me mantive distante porque fui capaz de responsabilizar uma criança de quatro anos por aquele acidente.
A gravação encontrada na caixa preta deixou claro que Rafael estava no colo de Sara e provavelmente aquele fato devia ter provocado o acidente.
Desenvolvi uma teoria que o menino a atrapalhou de alguma forma durante o voo e foi ele o grande culpado pela morte da mãe.
O negligenciei, desprezei a companhia dele por anos. Não dei atenção a sua paraplegia, não me preocupei com sua reabilitação. Transformei meu filho em uma criança isolada, triste e carente.
Somente após a chegada de Leyla nesta casa Rafael teve companhia, cuidado e atenção. Aos poucos notei meu filho mais contente, animado e aquilo de alguma forma me contagiou.
Através dela pude superar essa mágoa equivocada que alimentei durante anos e voltar a nutrir carinho pelo garoto. Aos poucos eu estava conseguindo voltar a me sentir pai de Rafael e responsável por ele novamente.
Mas meu mundo ruiu outra vez naquela maldita noite quando Viviana contou sobre a armação de Leyla. Ao notar que a tentativa de golpe realmente existiu e nem ao menos o nome dela era verdadeiro, me senti completamente desnorteado.
Quando Gustavo me contou sobre as informações contidas no dossiê, senti ciúmes, revolta, raiva, pois a história de amor que eu estava vivendo era falsa.
A partir daquele momento, cada palavra que saiu ou saísse da boca de Leyla não teria nenhum valor e foi o que aconteceu quando ela me contou sobre a carta.
Quando ela falou sobre o caso de Sara e Mateus eu perdi o controle e desferi palavras duras sobre ela. Não fui capaz de enxergar que apesar Leyla ter forjado documentos, ter entrado nesta casa participando de um conluio, ela teve coragem de me dizer a verdade. Apesar de saber do risco de eu jamais perdoá-la, ela tentou proteger a mim e Rafael contanto toda a verdade. Ao invés de se matar e tentar matar meu filho por pura fraqueza e egoísmo, Leyla arriscou a própria vida por nós dois e o que ganhou em troca foi desprezo.
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Passei a noite inteira bebendo neste quarto enquanto tentava colocar meus pensamentos em ordem e segurar meu impulso de ir até a casa de Viviana e faze-la confessar sua participação nisso tudo.
Mas pensei bem e decidi não espanta-la, e somente ir até a delegacia hoje para entregar a carta de Sara como prova de que ela a chantageou provocando seu suicídio.
Sinto-me um idiota por ter criado confiança nessa cobra peçonhenta e não ter acreditado em que mostrou que realmente se preocupa comigo. Leyla errou, eu sei, mas se arrependeu e provou isso contando toda verdade sobre o golpe.
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Trapaças do Coração
RomansaCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...