Capítulo 15

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Carlos Eduardo

Enquanto me abraça, Maria Eugênia beija meu pescoço lentamente, deixando a ponta de sua língua tocar minha pele de forma lasciva e, sem disfarçar suas intenções, aproxima seu corpo do meu de maneira que suas próteses de silicone toquem meu tórax. Posso sentir seu hálito quente em minha orelha e suas unhas pontiagudas acariciarem meus braços suavemente.

Sua provocação poderia surtir efeito se eu não estivesse incomodado com algo que não sei bem o que é.

- Aqui não, Maria Eugênia. Alguém pode nos flagrar. - Peço me afastando e garantindo uma distância razoável entre nós dois.

- Pensei que você não tivesse problemas com isso. - A menina semicerra os olhos e sorrir parecendo não se importar com a minha aspereza. - Que tal um mergulho? - Insiste enquanto se livra da saída de banho azul marinho que cobria seu corpo.

- Não, obrigado. - Recuso o convite observando o dia ensolarado que provavelmente deve estar bonito aos olhos das outras pessoas. - Prefiro ler jornais. - Forço um sorriso mostrando-lhe a principal manchete do dia.

- Tem certeza? - Ela questiona. - Posso fazer nosso banho ser muito interessante.

- Eu agradeço Eugênia, mas sugiro que se divirta sozinha. - Concluo firmemente, enquanto me acomodo numa das poltronas da varanda.

A moça baixa o olhar e comprime os lábios antes de dar as costas e seguir rumo à piscina.

Observo quando entra na água. Agora ela parece séria e pensativa.

Maria Eugênia é uma moça jovem e pertence a uma família rica de São Paulo. Nos conhecemos numa festa beneficente na qual fui o anfitrião da noite. Apesar de não me considerar uma pessoa benevolente, fundei uma instituição de caridade que leva o nome de Sara. Minha esposa sempre fez questão de contribuir para obras sociais e esta foi uma maneira que encontrei de mantê-la viva.

Desde o primeiro contato, Maria Eugênia não disfarçou seu interesse por mim. Depois de trocarmos algumas palavras ela me chamou para uma dança, e como estávamos na companhia de seus pais, não quis parecer grosseiro e aceitei seu convite.

Após uma ou duas músicas Eugênia deixou claro que gostaria de conhecer minha cama e desde então transamos de vez em quando. Ela faz parte da considerável quantidade de mulheres que planeja me levar ao altar, mas ainda é praticamente uma menina e tenho certeza que, mais cedo ou mais tarde, vai entender que não temos futuro algum juntos. Apesar de ser extremamente bonita e fogosa, Maria Eugênia tem se tornado uma má companhia nos últimos tempos, pois quando estamos juntos, rotineiramente se mostra possessiva e costuma trocar farpas com qualquer outra mulher que tente se aproximar de mim.

Mas pela madrugada, quando vi seu número no registro de ligações perdidas de meu celular, não pensei duas vezes e a convidei para vir ao Guarujá passar o dia comigo. Só recuperei a clareza de raciocínio depois que Leyla se retirou da sala de jantar.

Naquele instante percebi que minha arrogância não tem limites, mas também tive a certeza que ainda tenho coração. Uma espécie de remorso tomou conta de mim e precisei controlar minha vontade de ir atrás da cuidadora de meu filho.

Quando nossos olhares se cruzaram pude ver claramente sua decepção. Por uma fração de segundo, Leyla parou no meio percurso que fazia até a mesa, e naquele instante, pude sentir o descompasso frenético do meu coração.

Pela primeira vez durante muito tempo, eu não soube como agir diante da reação de uma mulher. Em meio a minha confusão de pensamentos optei por manter a postura costumeira. Fui rude, frio e sarcástico. Fiz questão de mostrar que a noite passada não significou nada para mim e imediatamente fui nocauteado por seu semblante.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora