Leyla
Ao chegarmos próximo a casa, vejo Fernando se aproximar novamente.
- Precisa de ajuda? - Sorri se adiantando em pegar a cadeira de Rafael.
- Sim, obrigada. - Retribuo o sorriso. - Mas deixe-me pegar o garoto. Assim ficará mais leve para você levar a cadeira dele até a porta.
- Claro. - Assente e me observa atentamente pegar Rafael no colo.
Subo as escadas cuidadosamente enquanto o veterinário sobe lado a lado junto de nós.
Ao chegar próximo a porta de entrada, ele posiciona a cadeira de modo que eu possa acomodar o garoto e pergunta de forma discreta:
- Nosso encontro de hoje a noite está confirmado?
- Confirmadíssimo. - Abro um sorriso fraco ao lembrar da reação de Carlos Eduardo há pouco.
- Às oito estarei aqui na porta te aguardando. - Retira o chapéu, me cumprimenta com a cabeça e passa uma das mãos pelos cabelos de Rafael antes de se retirar.
Solto um ar pesado, confusa, sentindo o coração apertar. Abro a porta principal da casa e uma cena emocionante enche meus olhos.
Carlos Eduardo está ajoelhado ao chão abraçado a seus pais, que estão sentados no sofá. Os três só se desvencilham seus corpos quando percebem a minha presença e a de Rafael.
Dona Cássia, Senhor Haroldo e Carlos Eduardo parecem extremamente emocionados o que me causa certo constrangimento por ter presenciado um momento tão íntimo ao mesmo tempo em que me causa curiosidade em saber o que pode ter acontecido para que estejam abalados dessa forma.
Apesar de querer saber mais, nada falo, apenas conduzo a cadeira de Rafael até o quarto deixando-os novamente sozinhos.
*** *** ***
Não consigo imaginar o que possa ter acontecido para Carlos Eduardo chorar nos braços dos pais, mas pelo semblante percebi que parecia sofrido, talvez arrependido do modo como os trata. Senhor Haroldo e Dona Cássia pareciam também estar emocionados, e acolhendo a dor do filho.
O fato é que encontra-lo, entregue, sem a frieza costumeira estampada em seu olhar, mexeu demais comigo. Foi a primeira vez que o vi dessa forma e confesso que meu coração apertou instantaneamente e a vontade que tive foi de me aproximar, porém nunca sei como agir diante de Carlos Eduardo, pois ele tem o poder de confundir minha mente, me deixar completamente desestabilizada.
Agora estou tentando imaginar o que pode ter acontecido, o que se passa em sua cabeça e o que o fez ficar dessa forma. O fato é que tenho percebido que ele está estranho ultimamente. Nunca imaginei que ele poderia aparecer no rio e brincar com Rafael daquela forma. Parecia outra pessoa. Seu semblante estava leve e ele parecia realmente querer estar ali.
Quando suas mãos envolveram minha cintura, senti uma espécide de corrente elétrica tomar conta de mim. Meu corpo inteiro tremeu em retribuição e até agora parece não ter se recuperado. Se Rafael não estivesse presente, talvez eu não tivesse me contido e me deixasse levar pelo momento, pois ainda sinto a presença dele entre minhas pernas.
Sou despertada de meus pensamentos pela voz de Rafael:
- Foi estranho, não foi? - Pergunta lançando sobre mim um olhar preocupado.
- Sim, foi. - Assinto, balançando positivamente com a cabeça.
- O que será que está acontecendo? - Indaga.
- Não tenho a mínima ideia. - Respondo pensativa.
- De qualquer forma ele está estranho para melhor. - Rafael afirma mudando seu semblante para animado. - Você viu como ele brincou comigo na água?
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Trapaças do Coração
Roman d'amourCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...