Carlos Eduardo
Entro em casa e subo as escadas rapidamente ignorando a presença de Viviana que está à postos na porta para receber minha pasta.
Afrouxo a gravata, retiro os sapatos e a roupas rapidamente. Preciso colocar para fora toda a raiva que estou sentindo.
Coloco um short de lycra, desço as escadas na mesma velocidade que subi e para minha surpresa vejo Viviana no primeiro degrau.
- Ia até seu quarto perguntar se está precisando de algo.
- Estou precisando que você me deixe em paz! - Falo entre dentes. - Para de ficar o tempo todo querendo me agradar.
- Cadu...
- Não me chame de Cadu.
- O que aconteceu? - Insiste com o semblante assustado.
Ignoro sua pergunta e sigo para o jardim, mas antes de sair pela porta uma força repentina me faz voltar.
- Ligue para Leyla e diga que dou duas horas para ela estar aqui, à postos no trabalho.
- Mas ela ainda está de folga.
- Não está mais. Leyla está há mais de 36 horas longe desta casa.
- Mas ela estava se sentindo mal.
- Exatamente! Estava! - Grito descontrado. - Ela agora está bem até demais. Está recuperada ao ponto de sair para flertar com o Wagner. Se pode sair para flertar, pode retornar ao trabalho também.
- Carlos Eduardo, Leyla está cansada. Ela trabalhou vários dias em tempo integral e merece alguns dias de descanso. - Viviana insiste de maneira irritante. - Você não está agindo com coerência e conforme as leis trabalhistas.
- Dane-se as leis trabalhistas. Quero aquela mulher dentro desta casa em duas horas, e se for preciso pago quantas multas for necessário. - Aponto o dedo em direção ao rosto de Viviana deixando claro que não estou brincando.
Viro-lhe às costas e atravesso o jardim até a academia.
Abro a larga porta de blindex com força suficiente para que ela fique escancarada e sigo em direção ao saco de pacadas até uma distância suficiente para acerta-lo com uma voadora. Grito quando sinto o impacto da minha canela contra o saco extravasando apenas um resquício da raiva que estou sentindo.
O que Wagner viu em Leyla ao ponto de ficar babando igual a um cachorrinho enquanto ela estava em seu hospital?
Ele não perdeu tempo chamando-a para sair e ainda teve a audácia de pedir para que Viviana não fosse busca-la me garantindo que Leyla estaria bem nas mãos dele.
Ontem notei os olhos dele cair sobre ela, mas não imaginei que seu interesse chegasse a esse ponto.
Não gosto de desrespeito com meus funcionários. Não deveria ter permitido que isso acontecesse. Eu deveria ter falado o que penso, pois não estaria com tantas palavras engasgadas.
Enrolo as ataduras nas mãos e acerto o saco entre socos e chutes até sentir meu excesso de energia se esvair. Treino em ritmo acelerado por mais de uma hora.
Descanso um pouco enquanto abaixo e apoio as mãos nos joelhos trabalhando aos poucos minha respiração até que ela normalize.
Mesmo na penumbra noto alguém andar pelo jardim. É Leyla.
Ela caminha rapidamente em direção a ala dos empregados. Está linda vestida de modo casual e pelo jeito não estava em seus planos retornar ao trabalho hoje.
Sem saber ao certo o que me impulsiona, caminho em sua direção e pelas costas, a surpreendo quando seguro em seu pulso.
- Ah! - Ela deixa um breve grito escapar. - O que o senhor está fazendo aqui?
- Esta casa é minha e posso transitar por todos os cantos dela. - Retruco fitando pela penumbra da noite sua boca entreaberta.
- Sei disso, Sr. D'ávila. Apenas não esperava encontra-lo agora e nem aqui. - Leyla, fala com a voz rouca e entrecortada.
Observo seu rosto bem delineado com mais atenção do que deveria. Seus olhos brilham sob a luz do luar e posso perceber tensão dentro deles.
- Retornei ao trabalho como o senhor ordenou mesmo sem entender motivo, pois ainda estava de folga.
- Seu lugar é aqui. - Digo sentindo uma vontade incontrolável de chegar mais perto. - Quero você aqui.
- Não estou entendendo o senhor. - Leyla fala quase num susurro, o que me atrai ainda mais.
Mas em um lapso de consciência me dou conta do disparate que acabei de dizer e solto-a de repente dando alguns passos para trás.
- Quero você perto do meu filho. Ele está sentindo sua falta.
Sinto os olhos de Leyla abrandarem e seu semblante muda ao ouvir falar de Rafael.
- Ele está bem? - Pergunta em meio a um sorriso contido.
- Está sentindo sua falta. - repito ao me afastar ainda mais. - Apresente-se para Viviana e peça para ela dispensar a folguista.
- Sim senhor. - Leyla assente e vira às costas seguindo seu caminho enquanto eu me sinto estranhamente aliviado por vê-la aqui nesta noite.
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Boa leitura!!!!🌹
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Trapaças do Coração
Roman d'amourCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...