Carlos Eduardo
Sinto-me mais leve após a conversa franca que tive com meus pais. Pedir perdão com o coração aberto foi a melhor atitude que eu pude ter tomado nos últimos tempos e saber que eles nunca sentiram mágoa e sempre estiveram dispostos a esquecer todas as diferenças, me faz agradecer internamente por ser filho de pessoas muito altruístas.
Sinto-me mais leve também por ter ouvido os conselhos de Gustavo em relação à Leyla. Ter ido até o rio e tentando uma aproximação me deixou um pouco mais tranquilo em relação a ela. Pelo menos tentei e não vou me martirizar por ela preferir sair com o Fernando a mim, pois sem bem o que a fiz passar no Guarujá e tenho plena consciência de que qualquer mulher com coerência de pensamentos não aceitaria mais minha presença ao seu lado. Mas ao contrário, ela ainda cedeu às minhas investidas se entregando para mim ontem à noite.
Não irei me martirizar, não irei desistir de me aproximar, de mostrar a ela que estou disposto a mudar e a tê-la ao meu lado, sem mentiras, preconceitos ou apegos à convenções da alta sociedade. Mas preciso de tempo para pensar e traçar uma estratégia de como farei para aos poucos provar que posso ser um homem melhor.
Estou muito feliz, ainda, por está conseguindo me aproximar de Rafael. Sinto remorsos de todas às vezes que ele retribui minhas investidas com seu olhar doce ou com um sorriso largo, sempre permitindo minha aproximação. Isso prova como ele sempre quis me ter por perto enquanto eu me afogava em minha dor.
Não posso negar que tenho gostado de sentir seu carinho, ainda que seja tão difícil para mim me aproximar, pois acredito que transformei a redoma que criei em minha zona de conforto e tenho precisado fazer um esforço hercúlio para sair dela.
*** *** ***
Após o almoço me despeço de meus pais e de Rafael e sigo para o quarto. Preciso descansar um pouco e pensar no que fazer de agora em diante.
Tenho plena consciência de que minha jornada não será fácil e que precisarei de muita resiliência para conseguir retomar minha vida. O mais importante é que tomei coragem de lutar para voltar a ser um homem equilibrado e feliz.
Mas tenho consciência também que não conseguirei mudar de uma hora para outra e, por isso, terei que monitorar meu comportamento e atitudes para não deixar que o Carlos Eduardo arrogante e egocêntrico volte a reinar sobre minha vida.
Preciso iniciar um processo de autoconhecimento e, aos poucos, saber como conduzirei minhas relações para que consiga me fazer bem e não machucar mais as pessoas que amo.
Por isso precisarei agir com calma hoje a noite, pois meu sangue ferve somente em imaginar que Leyla terá um encontro com o veterinário. Não consigo imaginá-la nos braços de outro homem. É quase incontrolável minha vontade de ordenar para que ela não vá ou mesmo invente algo para prende-la na fazenda hoje a noite. Entretanto, se eu agir dessa forma, agirei igual tenho agido há anos, com arrogância, prepotência e sem respeitar às vontades e desejos das outras pessoas.
Por outro lado também não quero que ela fique na fazenda por obrigação. Quero que esteja ao meu lado por vontade própria, por opção, mas toda essa minha maturidade não impede que eu torça para que esse encontro seja um fracasso. Espero que esse veterinário não tente fazer nada que ela não queira ou permita, pois caso contrário, eu teria o maior prazer do mundo em deformar cada centímetro do seu rosto com todos os golpes de aprendi nos últimos anos.
Apesar dos planos de relaxar, não consigo parar um minuto sequer de recapitular os últimos anos de minha vida e confesso o remorso corroer meu peito ao lembrar de como fui capaz de agir com meus amigos, familiares, funcionários e com todas as mulheres que ousaram se aproximar de mim.
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Trapaças do Coração
Roman d'amourCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...