Capítulo 17

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Carlos Eduardo D'ávila

- Mas o que diabos aconteceu? - Pergunto a Mateus no mesmo instante em que ele, Viviana, Leyla e Rafael entram em casa.

- Peço desculpas, Senhor D'ávila, não consegui evitar que o veículo saísse do asfalto. - O motorista responde, aflito, vindo lentamente em minha direção.

- E o que te fez perder o controle da direção? Algum animal atravessou o asfalto? - Pergunto interessado.

- Não senhor. - Mateus nega, perecendo um pouco incomodado com a pergunta.

- Se não foi isso então me explique de uma vez por todas o que aconteceu! - Ordeno impaciente, fitando de soslaio Leyla e Rafael que nos observam, paralisados.

- Tivemos um pequeno contratempo momentos depois que saímos do Guarujá. Fui pego de surpresa e perdi o controle do carro.

- Mas que diabos de contratempo foi esse? - Insisto tentando não prender o olhar no curativo que percebo na testa de Leyla.

Mateus fica momentaneamente estático e minha curiosidade só aumenta quando noto os semblantes preocupados da cuidadora e de Rafael.

- Vocês, por acaso, estão me escondendo algo? - Questiono arqueando a sobrancelha - Exijo que me seja relatado neste exato momento o que aconteceu para que meu carro fosse batido contra uma árvore.

- Houve... houve um pequeno desentendimento... - Mateus fala com a voz fraca e entrecortada.

- Que desentendimento? Desembuche de uma vez! - Indago impaciente - Chega de suspense, rapaz.

- Maria Eugênia provocou Leyla. Provocou muito, demais, incessantemente, testando todos limites de civilidade. - Rafael toma a frente da conversa, aproximando-se de mim em sua cadeira de rodas.

- Mas o que você está dizendo, menino? - Inquiro com o pensamento embaralhado.

- Isso mesmo que você ouviu, papai. Maria Eugênia provocou muito Leyla, e...

- E foi você quem provocou esse acidente, garota? - Levanto o olhar novamente, encarando a cuidadora pela primeira vez desde que ela retornou do litoral.

É visível o descompasso na respiração da morena. Ela morde o lábio, enquanto seu olhar passeia pela sala, desordenado, parecendo não saber onde pousar.

- O que aconteceu naquele carro, Leyla? Diga de uma vez por todas. Não quero ter que perguntar outra vez. - Falo e logo vejo o efeito da firmeza de minhas palavras.

Ela engole em seco e finalmente crava seu olhar no meu de forma profunda.

- Sua convidada passou dos limites. Maria Eugênia me provocou, foi arrogante e me agrediu. - Leyla afirma estendendo o braço direito em minha direção.

Mesmo a alguns metros de distância, consigo perceber marcas em seu antebraço. Aproximo-me sem pensar e toco suavemente o local machucado, aproveitando para sentir a maciez de sua pele.

Meu coração bate num ritmo acelerado, mas minha ânsia é interrompida quando a moça puxa de volta o braço de forma abrupta.

Recuo imediatamente, irritado por sua atitude.

- E o que aconteceu com sua testa? - Pergunto enquanto caminho em direção ao bar. - Também foi Maria Eugênia? - Ironizo ao me servir uma dose do meu uísque favorito.

- Não. Bati no painel do carro. - A voz de Leyla sai baixa, quase inaudível.

E quando viro novamente em sua direção, sou surpreendido por um semblante envergonhado.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora