Carlos Eduardo D'ávila
- Mas o que diabos aconteceu? - Pergunto a Mateus no mesmo instante em que ele, Viviana, Leyla e Rafael entram em casa.
- Peço desculpas, Senhor D'ávila, não consegui evitar que o veículo saísse do asfalto. - O motorista responde, aflito, vindo lentamente em minha direção.
- E o que te fez perder o controle da direção? Algum animal atravessou o asfalto? - Pergunto interessado.
- Não senhor. - Mateus nega, perecendo um pouco incomodado com a pergunta.
- Se não foi isso então me explique de uma vez por todas o que aconteceu! - Ordeno impaciente, fitando de soslaio Leyla e Rafael que nos observam, paralisados.
- Tivemos um pequeno contratempo momentos depois que saímos do Guarujá. Fui pego de surpresa e perdi o controle do carro.
- Mas que diabos de contratempo foi esse? - Insisto tentando não prender o olhar no curativo que percebo na testa de Leyla.
Mateus fica momentaneamente estático e minha curiosidade só aumenta quando noto os semblantes preocupados da cuidadora e de Rafael.
- Vocês, por acaso, estão me escondendo algo? - Questiono arqueando a sobrancelha - Exijo que me seja relatado neste exato momento o que aconteceu para que meu carro fosse batido contra uma árvore.
- Houve... houve um pequeno desentendimento... - Mateus fala com a voz fraca e entrecortada.
- Que desentendimento? Desembuche de uma vez! - Indago impaciente - Chega de suspense, rapaz.
- Maria Eugênia provocou Leyla. Provocou muito, demais, incessantemente, testando todos limites de civilidade. - Rafael toma a frente da conversa, aproximando-se de mim em sua cadeira de rodas.
- Mas o que você está dizendo, menino? - Inquiro com o pensamento embaralhado.
- Isso mesmo que você ouviu, papai. Maria Eugênia provocou muito Leyla, e...
- E foi você quem provocou esse acidente, garota? - Levanto o olhar novamente, encarando a cuidadora pela primeira vez desde que ela retornou do litoral.
É visível o descompasso na respiração da morena. Ela morde o lábio, enquanto seu olhar passeia pela sala, desordenado, parecendo não saber onde pousar.
- O que aconteceu naquele carro, Leyla? Diga de uma vez por todas. Não quero ter que perguntar outra vez. - Falo e logo vejo o efeito da firmeza de minhas palavras.
Ela engole em seco e finalmente crava seu olhar no meu de forma profunda.
- Sua convidada passou dos limites. Maria Eugênia me provocou, foi arrogante e me agrediu. - Leyla afirma estendendo o braço direito em minha direção.
Mesmo a alguns metros de distância, consigo perceber marcas em seu antebraço. Aproximo-me sem pensar e toco suavemente o local machucado, aproveitando para sentir a maciez de sua pele.
Meu coração bate num ritmo acelerado, mas minha ânsia é interrompida quando a moça puxa de volta o braço de forma abrupta.
Recuo imediatamente, irritado por sua atitude.
- E o que aconteceu com sua testa? - Pergunto enquanto caminho em direção ao bar. - Também foi Maria Eugênia? - Ironizo ao me servir uma dose do meu uísque favorito.
- Não. Bati no painel do carro. - A voz de Leyla sai baixa, quase inaudível.
E quando viro novamente em sua direção, sou surpreendido por um semblante envergonhado.
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Trapaças do Coração
RomansaCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...