Capítulo 25

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Leyla.

Dona Cássia e Sr. Haroldo são pessoas extramente acolhedoras e carinhosas. Cheguei na casa deles a menos de uma hora e me sinto muito bem recebida.

Agora que os conheço fico ainda mais intrigada com o temperamento rude e explosivo de Carlos Eduardo, Cadú como seu pai o chamou e como ele mesmo quis ser chamado por mim no Guarujá.

Certamente ele teve uma infância bem diferente da minha. É nítido como teve amor, carinho e proteção. Mesmo cercado de tanto cuidado ele faz questão de ser amargurado e solitário e nem ao menos consegue disfarçar o incômodo por estar aqui. Parece que está retornando por mera obrigação. Não é algo espontâneo. Os pais dele perceberam, Rafael percebeu e eu percebi.

Mas em contraponto, tenho minhas dúvidas de que o todo poderoso Carlos Eduardo D'ávila se renda às convenções de frequentar a casa dos pais por mera obrigação. Suas atitudes só mostram sua burrice. Esse lugar é lindo, além de ter uma energia leve e acolhedora.

Abro a janela do quarto e sigo para a varanda. Fecho os olhos e sinto a brisa do campo acariciar meu rosto. Inspiro fundo e me concentro nos ruídos terapêuticos das águas correndo pelo riacho e dos pássaros cantando. Uma paz indescritível invade meu interior. Permaneço na mesma posição por alguns minutos numa espécie de meditação.

Tento não pensar, apenas procuro deixar que essa sensação de paz tome conta de mim pelo maior tempo possível, afinal são raros os momentos em que consigo me sentir dessa forma. Sempre estou acompanhada por traumas, lembranças ruins, remorso, vergonha e outros sentimentos que me fazem me sentir pequena e podre.

Mas agora não, agora posso sentir uma força maior me proteger, me elevar para uma dimensão diferente e superior a que vivo. Posso me sentir forte e plena.

Abro os olhos vagarosamente agradecendo com um largo sorriso por este momento raro, mas sou despertada de meu transe quando avisto Carlos Eduardo na varanda ao lado. Ele caminha em direção a grade falando ao celular e estar vestindo apenas uma calça de moleton cinza deixando seu tórox totalmente exposto.

Ele não percebe minha presença e conversa em um tom de voz baixo, como se confessasse algo a alguém. Seu cenho franzido e o modo como morde o lábio inferior demonstra inquietude.

Ele debruça o corpo sobre a grade e olha em direção a escuridão. Seu olhar distante, encandeado pelos últimos raios de sol o faz parecer indefeso, desprotegido.

Faz poucas horas que chegamos na fazenda e uma equipe de seguranças contratada para fazer sua escolta se instalou em frente à casa e provavelmente ficará aqui por todo o tempo em que tivermos.

Olho para Carlos Eduardo e não consigo imagina-lo em minhas mãos. Sempre subestimei os homens até conhece-lo. Ele é incrivelmente seguro. Não cogita relacionamentos, não se encanta por ninguém, não romantiza situações e não se deixa levar por tentações. Seu autocontrole me condena, pois daria tudo para ter qualquer tipo de influência sobre ele. Mas me assusto por saber que meu desejo não vem da vontade de conseguir engana-lo e sim por querer veementemente que ele volte sua atenção para mim, me enxergue. Mesmo sabendo o quão duro pode ser com as mulheres, o quão mal me fez sentir depois da noite que tivemos, mesmo assim ainda sou capaz de deseja-lo e me sinto absurdamente contrariada por não está conseguindo mudar a situação.

Em muitos momentos consigo odia-lo por suas atitudes, comportamentos agressivos e estúpidos, mas logo em seguida sou dominada por minha impotência de ao menos manter esse sentimento que me guiaria aos meus objetivos com facilidade ao invés de ficar travada por sentimentos e sensações que eu ainda não conhecia. Sinto-me incapaz e assustada, além de encurralada por Matheus.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora