Capítulo 20

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Leyla.

Acordo e agradeço internamente por não ter que trabalhar hoje, embora a lembrança de Rafael me deixe um pouco preocupada.

Viviana garantiu que cuidaria dele e que procuraria arduamente alguém para alternar os horários comigo.

Ajeito o travesseiro e me recosto na cama. Ligo a TV, que fica em cima de um armário improvisado com a tábua de passar e tento me concentrar em um programa de variedades.

Sinto o estômago roncar e sigo até a cozinha, a procura de algo para comer.

- Merda! Mateus não se dignificou a comprar nada para esta casa. - Reclamo baixinho enquanto verifico geladeira e o pequeno armário que usamos como dispensa.

Fecho os olhos tentando controlar minha irritação, ao lembrar que além disso estou sem dinheiro suficiente para comprar suprimentos.

Bato a porta do armário com força e sigo até a cama novamente, pego meu celular que está entre os lençóis e ligo para Mateus. Mas antes que ele possa atender ouço o barulho da porta da frente se abrir.

- Leyla! - Me chama com tom de voz irônico.

Sem nada responder encerro a ligação e jogo o aparelho de telefone de volta na cama.

Mateus abre um sorriso largo e ergue as várias sacolas de supermercado que trás nas mãos.

- Olha o que eu trouxe para você!

- O que é isso? Comida! - Caminho apressada em sua direção.

- Sim, comida o suficiente para passarmos o mês inteiro se quisermos. - Pisca e estende o rosto para um beijo.

Selo seus lábios num beijo casto e me apresso para verificar o que há dentro das sacolas.

- O que deu em você? - Pergunto surpresa ao observar a variedade e qualidade dos mantimentos que trouxe para casa.

- Em mim nada, gatinha. - Dá de ombros - Isso tudo aqui foi presente do patrão.

No mesmo instante em que ouço as palavras de Mateus, inexplicavelmente, meu coração se enche de alegria.

- Sério? Foi Carlos Eduardo que te pediu para comprar tudo isso? - Pergunto, ainda sem acreditar no que ouvi.

- Na verdade ele ordenou que Viviana comprasse. Ela por sua vez, pediu que eu trouxesse até aqui. - explica satisfeito. - Pelo jeito o patrão se preocupa com você.

Ainda com o coração parecendo sair do peito, procuro manter a coerência do meu raciocínio.

Mateus me observa quieto, enquanto retiro os itens de dentro das sacolas.

- Não é nada disso. - Dou de ombros tentando jogar para longe os pensamentos confusos que invadem minha mente. - O patrão apenas está cumprindo com a obrigação dele. Carlos Eduardo me disse isso ontem à noite quando me levou ao hospital. Ele só está fazendo tudo isso porque sofri um acidente de trabalho.

Mateus cruza os braços e continua a me observar com o olhar divertido.

- Você realmente acreditou nisso, Catarina?

- E como não acreditar? - Dou de ombros, me sentindo cada vez mais confusa. - Aquele homem é uma pedra de gelo, embora realmente pareça agir com ética em seus negócios.

- Se ele agisse com ética não teria te levado para a cama na primeira oportunidade. - Mateus me segura pelos dois braços. - O que está havendo com você?

- Não está havendo nada, apenas não acredito que ele se preocupe comigo. - Engulo em seco tentando fugir do olhar analítico de Mateus.

- Claro que se preocupa, caso contrário teria apenas enviado uma cesta básica. - Aponta para as compras. - Isso aqui é luxo demais.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora