Capítulo 60

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Leyla

Saio do escritório de Carlos Eduardo o mais rápido que consigo. Sinto fisgadas no local do tiro, mas mesmo assim caminho o mais rápido possível rumo aos elevadores. Os funcionários me observam atentos e intrigados, pois não consigo e nem quero disfarçar meu choro compulsivo.

As palavras dele me atingiram como uma lança e embora eu entenda seu posicionamento, meu coração sangra por saber que preciso aceitar que não existe mais qualquer chance de ficarmos juntos e que tenho que me manter o mais longe possível dele e de Rafael.

Tenho consciência de que errei demais nos últimos anos e que Carlos Eduardo tem razão de me desprezar, afinal como posso exigir que ele acredite no que digo se entrei na sua casa para engana-lo, rouba-lo.

Apesar de ter consciência de tudo isso, estou sofrendo demais pelo seu desprezo. Quando eu imagino que irei passar do resto da minha vida longe da família D'ávila, sinto uma dor excruciante em meu peito. Lembrar do sorriso carinhoso de Rafael e do olhar provocante e apaixonado de Carlos Eduardo, faz meu estômago doer.

Por mais que machuque e que eu sofra, precisarei me acostumar a conviver com a ausência e desprezo deles.

Desço o elevador tentando enxugar as lágrimas que inundam meu rosto, mas o desespero que sinto só faz com que eu me recoste no espelho ao fundo e chore mais ainda deixando meu corpo escorregar até o chão.

Por sorte ninguém entra no elevador e me encontra neste estado deplorável e quando chego ao térreo, caminho apressada até a saída do prédio.

Retiro o celular do bolso e chamo um Uber. Preciso voltar até a quitinete para pegar minhas roupas e outros objetos pessoais. Quando o carro do aplicativo chega, aproveito para pesquisar passagens de ônibus para Renascença. Apesar de a viagem ser mais cansativa, o preço é mais baixo e tem linha direto para minha cidade, assim não precisarei pegar outra condução até lá.

Espero que o dinheiro que tenho disponível na conta e no cartão de crédito seja o suficiente para a viagem, pois depois de tudo o que ouvi de Carlos Eduardo, não quero mais nada que venha dele.

*** *** ***
Durante o caminho pesquiso o valor da passagem em alguns sites de busca e me certifico que o restante de dinheiro que tenho na conta é suficiente para chegar a Renascença.

Chego em frente ao prédio onde fica a quitinete e olho para cima, observando a fachada e as janelas até que meu olhar fixar na janela do local onde morei. De repente uma espécie de filme passa em minha cabeça. Lembro de quando Mateus e eu mudamos para cá. Estávamos praticamente sem dinheiro e não fazíamos ideia do que fazer para pagar as contas, até que ele conseguiu emprego na casa dos D'ávila e um belo dia  apareceu com a ideia de dar o grande golpe de nossas vidas.

Desde que chegamos nesta cidade tivemos inúmeros endereços, mas esse certamente será o que vai ficar marcado em minha memória. Foi aqui que Mateus me apresentou a família D'ávila. Foi aqui que vi Carlos Eduardo pela primeira vez através de fotografias e foi aqui que eu tive minha última noite de amor com o homem da minha vida.

Apesar de eu odiar Mateus, quero dizer, Alexandre, com todas as minhas forças, se não fosse a ganância e cobiça dele, eu jamais teria tido a oportunidade de viver a intensidade do último mês.

Em pouco mais de trinta dias fui apresentada a sentimentos que antes eram desconhecidos por mim. Nesse curto período de tempo pude conhecer sentimento de proteção e cuidado que Rafael me presenteou e ao mesmo tempo senti nascer dentro de mim uma paixão avassaladora junto de um amor genuíno e de um desejo latente por Carlos Eduardo.

Nesse último mês, aos poucos senti meus dias serem preenchidos por sentimentos bons. Além desses sentimentos nascerem e vibrarem em mim, pude senti-los vindos de outras pessoas.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora