Capítulo 46

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Leyla

A viagem de volta a São Paulo foi tranquila. Carlos Eduardo e eu aproveitamos o trajeto para falar mais sobre o retorno de Rafael aos seus tratamentos e à suas atividades extra curriculares e confesso que tive receio que ele percebesse minha falta de conhecimento técnico sobre reabilitação, então me contive na conversa o máximo que pude e resolvi que irei estudar mais sobre o assunto.

Quando pousamos no hangar percebo Mateus à nossa espera no Volvo XC azul marinho e é inevitável me sentir incomodada com sua presença. Ele me observa disfarçadamente descer do avião e guarda a bagagem no porta malas do carro.

Noto seu olhar satisfeito quando Carlos Eduardo se acomoda no banco traseiro do veículo junto a mim e Rafael.

- Direto para sua residência, Senhor D'ávila? - Pergunta ao colocar o cinto de segurança.

Carlos Eduardo pensa por uma fração de segundo e responde:

- Sim. Deixaremos Rafael em casa. - Cadú responde retirando o celular do bolso da calça.

Mateus liga o motor e segue rumo à mansão. No caminho troco algumas palavras com Rafael tentando não prestar atenção olhares analíticos que o motorista me lança pelo retrovisor.

Por todo o caminho Carlos Eduardo faz e recebe breves ligações sobre negócios e se mantém entretido em seus trabalhos.

Ao chegarmos na propriedade, avisto Viviana posicionada na entrada da casa, provavelmente à nossa espera. Fito Carlos Eduardo de soslaio e penso como seria maravilhoso poder dar-lhe um beijo de despedida antes de ele ir trabalhar, mas apenas procuro sua mão com a minha e entrelaço discretamente seu dedo mindinho no meu, chamando sua atenção para mim.

Nesse momento nossos olhares se conectam brevemente e ele parece entender meu recado, pois se mantém discreto e apenas esboça um sorriso no canto da boca enquanto continua em uma ligação.

Mateus para o carro em frente à mansão e Viviana rapidamente vem ao nosso encontro enquanto o motorista desce do veículo para retirar a bagagem.

- Sejam bem-vindos de volta. - A governanta abre a porta e abre os braços para um abraço em Rafael.

O menino retira o cinto de segurança e retribui o gesto. Noto quando Viviana pede a Mateus que posicione a cadeira de rodas próximo à porta e nesse momento me preparo para sair, mas sou impedida por Carlos Eduardo que entrelaça seus dedos nos meus, o que me faz fita-lo, surpresa e assustada.

- Você merece o dia de folga hoje. - Avisa devolvendo o celular para o bolso.

- Não é necessário. - Me desvencilho de seu toque e balanço a cabeça em sinal negativo, pois sei que se eu for para casa é muito provável que Mateus vá até lá para tirar satisfações sobre meu sumiço e fazer uma verdadeira sabatina sobre a viagem.

- Sim, é. Enviei mensagem para Viviana e ela arrumou uma folguista para cuidar de Rafael até amanhã.

O encaro contrariada, mas desisto de fazer outra objeção quando lembro que ele ainda é meu patrão.

- Irei apenas me despedir do garoto. - Digo antes de descer do carro e me acocorar à frente da cadeira de rodas de Rafael, que à esta altura foi acomodado por Viviana.

- Amanhã estarei de volta. - Aviso sob o olhar pesaroso do menino e deito rapidamente a cabeça em seu colo.

- Até amanhã. - Diz ao acariciar meus cabelos com as duas mãos. - Vou sentir saudades.

Nesse momento sinto um aperto excruciante em meu peito e imagino o quanto seria sofrido não ter mais Rafael em minha vida.

Sem nada falar, apenas retorno rapidamente para o carro e tento dissipar pensamentos tristes que envolvem minha mente.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora