Capítulo 34

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Carlos Eduardo

Leyla me fita assustada, demonstrando não esperar que eu aparecesse na cidade hoje a noite. Talvez ache que minha presença possa atrapalhar seus planos com o veterinário.

Junto todo meu autocontrole e os cumprimento com a cabeça antes de procurar uma mesa para sentar de modo que eu possa ficar posicionado de frente para ela. Quero saber até onde vai seu cinismo de fingir que nada acontece entre nós.

Posso estar fazendo papel de bobo, mas preciso tentar saber o que se passa dentro dela, pois não pretendo investir em alguém que não sinta o mesmo que eu.

Rapidamente um senhor de aparentemente sessenta anos aparece com um cardápio e cumprimenta meus pais com simpatia. Depois se vira em minha direção e diz:

- O senhor deve ser Carlos Eduardo D'ávila. - Sorrir e me estende a mão para um cumprimento. - Sinta-se à vontade em meu humilde estabelecimento.

Retribuo seu gesto e assinto com a cabeça sem retirar os olhos de Leyla, que nesse momento me olha de modo apreensivo.

- Muito obrigada, Senhor. - Respondo tentando demonstrar tranquilidade enquanto estou incrivelmente irritado.

Acomodo-me novamente à mesa e olho para o ambiente ao redor pensando se por algum acaso eu me embreagar hoje a noite qual seria a chance de agir de forma imprudente, então penso melhor e decido pedir um suco de acabaxi com hortelã enquanto meus pais e Rafael escolhem juntos o sabor da pizza.

Enquanto estão entretidos com o cardápio aproveito para observar discretamente Leyla e Fernando e os dois parecem mais contidos desde quando cheguei. É nítido como estão constrangidos com minha presença. Quando cheguei notei que conversavam algo sério e o clima parecia de intimidade.

Não consigo aceitar que Leyla esteja cogitando se envolver com esse veterinário depois do que aconteceu entre nós ontem à noite.

Sou despertado de meus pensamentos quando meu pai pergunta se estou de acordo com a escolha deles. Confesso que nem me atentei ao sabor da pizza, somente assenti com a cabeça.

- Tive uma ideia - Rafael fala animado em direção a minha mãe - Por que não convidamos Leyla e o amigo dela para vir sentar conosco?

- Nem pensar, garoto! - Respondo rapidamente de forma ríspida.

Perspicaz, minha mãe toca o braço de Rafael e fala carinhosamente:

- Não acho que seja uma boa ideia, meu querido. Leyla está em seu momento de folga junto de um amigo.

O menino rapidamente assente, mas seu semblante se entristece.

Solto o ar pesadamente por não poder dizer para ele que me sinto igual neste momento.

Por mais que eu queira me concentrar em algo só consigo prestar atenção em cada movimento de Leyla e Fernando. Os olhares que eles trocam, quando ele toca a mão dela e o sorriso malicioso que joga sobre ela.

- Maldito seja. - Sussurro entre dentes.

Fazia muitos anos que eu não sentia o gosto do ciúme. Logo eu que nunca soube lidar com esse sentimento.

Sinto minha mãe me observar atentamente e me incomoda saber que ela já notou meu interesse por Leyla, mas não consigo perceber o que ela acha disso, afinal, me mantive longe de qualquer envolvimento sentimental durante anos, além de nunca ter me envolvido com funcionárias.

Durante todo o jantar, comemos praticamente calados. Parece que meu pai, minha mãe e Rafael sabem por que eu quis vir até aqui, e me sinto um idiota por isso. Não gosto de parecer fraco, de certa forma fragilizado perante quem quer que seja.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora