Capítulo 33

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Leyla

No caminho para a cidade, Fernando e eu conversamos amenidades sobre a vida no campo e suas vantagens. Ele também contou um pouco sobre sua infância e de como foi parar na fazenda dos D'ávila.

Quando Carlos Eduardo comprou as terras para seus pais, Fernando já morava na fazenda, pois ele é filho de um casal de funcionários que vivem naquelas terras há mais de vinte anos trabalhando na lavoura e na lida com o gado e decidiram permanecer depois que Dona Cássia e Senhor Haroldo se tornaram donos.

- O Senhor Haroldo e a Dona Cássia são bons patrões. São justos, pagam em dia e sabem conduzir o trabalho dos peões. Apesar de não terem muita experiência com a vida no campo sabem se virar bem. - Elogia atento à estrada. - Fazia tempo que eu não via o filho deles. - Solta um ar pesado. - Desde o acidente que matou a esposa, Senhor Carlos Eduardo não tinha mais aparecido por aqui.

Confesso que me sinto curiosa para saber mais da vida dos D'ávila, inclusive sobre o dia do acidente de avião, então sutilmente, puxo assunto:

- Você viu quando o acidente aconteceu?

- Sim, estava aplicando vacinas nos cavalos quando aconteceu. - Solta um ar pesado. - Foi muito rápido.

- Imagino como deve ter sido horrível. - Afirmo tentando imaginar o caos que deve ter se instalado na fazenda.

- Sim. - Confirma e logo após comprime os lábios. - Ainda hoje lembro da cena quando o Senhor Carlos Eduardo conseguiu entrar no avião.

- Você estava lá nesse momento? - Questiono interessada.

- Sim, fui um dos primeiros a chegar e também fui um dos que ajudou a abrir a porta. - Arfa. - Lembro que ele pegou a esposa no colo e quando percebeu que ela estava morta, chacoalhou o corpo, sem acreditar no que tinha acontecido. Depois chorou desconsolado abraçado à esposa enquanto o pai chamava o socorro.

- E Rafael? Como estava? - Engulo em seco na expectativa da resposta.

- Estava jogado próximo ao corpo da mãe. - Balança a cabeça em sinal de pesar. - Quando olho para garoto, vivo, percebo que milagres realmente acontecem. - Fala me fitando de soslaio. - Ele estava sem cinto, deveria ter sido arremeçado da aeronave, mas acredito que de alguma forma a mãe o protegeu pagando com o própria vida.

- Meu Deus, que desastre! - Falo enquanto sinto as lágrimas se aproximarem.

Somente agora percebo o quando devo a Sara, por ter salvado a vida de Rafael. Se o menino não tivesse sobrevivido eu não o teria conhecido e realmente não consigo considerar essa hipótese em minha vida.

- A perícia constatou que ela provavelmente estava com o garoto no colo quando o avião começou a cair. - Encolhe os ombros. - Ela foi imprudente, pois se não tivesse com ele no colo talvez tivesse conseguido fazer um pouso forçado em algum dos pastos, talvez tivesse sobrevivido e o garoto não tivesse em uma cadeira de rodas. É uma história muito pesada, pois tem coisas que o marido dela não sabe até hoje, eu acho. - Fernado afirma com um ar misterioso que me chama atenção.

- Que tipo de coisa? - Questiono interessada, pois algo me diz que é algo sério.

- O que acha de mudarmos de assunto? - Fernando me fita com carinho e acaricia meu rosto.

- O que pode ser tão sério que eu não possa saber? Sei que estou sendo entrometida, mas o que pode ser tão sério que eu não possa saber? - Repito me sentindo inquieta.

- Assuntos íntimos. - Semi cerra os olhos - Assuntos que não dizem respeito a dois meros empregados como nós dois. - Solta o ar pesadamente. - É melhor para nossos empregos que nos mantenhamos longe disso tudo. Garanto!

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora