Leyla
Assim que guardo o celular no bolso noto Carlos Eduardo sair do quarto onde Rafael está dormindo.
Seu semblante está fechado e percebo seus olhos vermelhos e marejados.
- O que aconteceu? - Caminho preocupada em sua direção e pergunto quase em um sussurro.
- Como pude ser tão imprudente com meu próprio filho, Leyla? - Me fita com o olhar entristecido - Como pude ser egoísta ao ponto de não perceber que a tristeza de Rafael era muito mais plausível do que a minha? Como pude ser insensível ao ponto de não perceber tudo o que ele passava e o mal que eu estava lhe fazendo?
- Calma, Carlos Eduardo. - Peço segurando sua face com as duas mãos. - O que importa é que você está reconhecendo seus erros.
- Erros?- Solta um sorriso sarcástico. - Eu não fui um péssimo pai; eu fui o pior pai do mundo.
- O que aconteceu? - Pergunto, preocupada. - O que você estava fazendo no quarto agora a pouco?
- Fui pedir desculpas a ele, tentar me redimir, mas quanto mais busco a minha redenção, mais percebo meus erros e confesso que estou me sentindo péssimo, com muito remorso. Não consigo aceitar o modo como agi. - Fala passando uma das mãos pelos cabelos. - Ele precisa de mim, Leyla.
- Sim, precisa. - Assinto balançando a cabeça em sinal positivo. - Na verdade ele sempre precisou de você. Mas, - Arfo - que bom que você está percebendo isso.
- Preciso ser um pai melhor, eu quero ser melhor, eu vou ser melhor. - Carlos Eduardo repete e percebo receio em sua voz.
- Sim, você vai. - O incentivo me sentindo aliviada internamente por saber que Carlos Eduardo enxerga a necessidade de sua mudança como pai.
- Preciso que me ajude. - Me fita com atenção. - Estou apavorado, com medo de não conseguir ser o pai que ele precisa que eu seja, que ele merece que eu seja. Me ajuda, por favor.
- Não sei como posso te ajudar - Questiono sentindo de repente meu coração apertar.
- Ficando ao nosso lado, ficando atenta ao meu modo de agir. Confesso que eu ainda não sei bem o que fazer, mas eu vejo que vocês dois se entendem muito bem, vocês têm uma conexão inexplicável. - Fala parecendo um pouco mais tranquilo. - Na verdade eu sei o que fazer, mas ainda me sinto inseguro em como devo fazer. Sinto receio de titubear, de fracassar e eu não pretendo magoar mais o Rafael.
- Você não vai fracassar. - O interrompo acenando para que se mantenha calmo - Te conheço o suficiente para saber que você não é o tipo de homem que fracassa e sei que daqui para frente você vai saber como agir. - O encorajo tentando ser o mais convincente possível, pois na verdade não tenho tanta certeza do que estou falando.
- Eu sei que posso parecer o homem mais seguro do mundo, Leyla, mas muitas vezes por trás dessa carapaça existe um cara assustado. Te confesso que nesse momento estou muito apavorado, pois não quero mais errar com meu filho.
Ouvir Carlos Eduardo admitir fraqueza faz meu coração se encher de amor. Não contenho meu impulso e o abraço forte.
- Eu tenho certeza que daqui para frente você vai ser um excelente pai para Rafael - Falo com o rosto deitado sobre seu peito - Mas isso não quer dizer que você não irá errar. Você irá errar várias vezes, mas o importante é que você reconheça seus erros e tente corrigi-los, como está fazendo agora. - Me afasto e o fito com atenção.
O que falei há um segundo para Carlos Eduardo é exatamente o que eu quero fazer. Consegui enxergar a tempo que o que vim fazer na vida dele e na de Rafael seria o maior erro da minha vida, e tudo o que eu quero agora é arranjar uma maneira de evitar que eles possam ser prejudicados pela ganância de Mateus.
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Trapaças do Coração
RomanceCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...