Capítulo 56 - Parte II

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Leyla

Solto o ar pesadamente tentando controlar o choro que me consome. Sara se matou. Aquilo não foi acidente, foi suicídio!

Ela não aguentou a pressão das chantagens de Mateus e Viviana e simplesmente preferiu morrer ao encarar a realidade, confessar seus erros e entregar esses cafajestes para Carlos Eduardo.

Enquanto imagino os motivos de Sara, dobro as folhas de papel lentamente e as devolvo para o envelope. Minhas mãos estão frias e trêmulas por constatar que essa história é mais triste do que eu imaginava.

Quanto mais eu lembro do que acabei de ler, menos consigo analisar friamente a situação. Sara foi, sim, fraca e egoísta, mas imagino como o remorso deve tê-la consumido por dentro a ponto de ela querer pagar com a própria vida.

Além disso, é impossível não se impressionar que ela preferiu morrer do que encarar a reação de Carlos Eduardo. Preferiu, ainda, condenar Rafael a morte do que deixa-lo sob os cuidados do pai já prevendo como seria o luto do marido e o que o filho sofreria.

Embora eu tente não julga-la pelo que fez, eu jamais agiria da mesma forma que ela. Jamais desistiria de viver por covardia. Sim, Sara foi covarde. Eu sei exatamente a dor e o medo que ela sentiu por saber que se contasse tudo iria perder o amor e admiração de Carlos Eduardo, contudo, derrubar um avião propositalmente com o próprio filho de quatro anos a bordo foi muito cruel e egoísta.

Ela não tinha o direito de escolher pela vida de Rafael e por culpa dela o menino está condenado a uma cadeira de rodas para o resto da vida e ainda teve a coragem de deixar uma carta escondida confessando tudo.

O que Sara pensou quando fez isso? Achou que agindo dessa forma teria sua redenção?

Guardo o envelope no bolso do uniforme e pego novamente o vestido de noiva enquanto imagino como ela devia estar desesperada quando tomou essa decisão.

Por outro lado, mesmo em meio ao desespero, foi capaz de esconder essa carta em um local onde sabia que ninguém o violaria numa data próxima a sua morte, ou seja, ela teve tempo para planejar tudo e mesmo assim não desistiu de seus planos.

Carlos Eduardo, em meio a dor de perde-la, jamais conseguiria ao menos olhar para seu vestido de noiva e muito menos permitiria que alguém o fizesse.

Ela escondeu essa carta no véu por que sabia que seria um lugar seguro, pois é óbvio que Viviana teve tempo suficiente para vasculhar cada caixa, mala e sacola que estão nesse quarto atrás de alguma pista que pudesse incrimina-los.

- Mas o que é isso, Leyla? - Viro para trás e vejo Viviana me observar, atônita. - O que você está fazendo aqui? - Ela pergunta e imediatamente se aproxima. - Como conseguiu entrar nesse quarto e o que você está fazendo com esse vestido na mão?

Ela me faz uma pergunta atrás da outra enquanto abro e fecho a boca algumas vezes tentando encontrar um desculpa qualquer.

- Responde! Como você entrou neste quarto? - Questiona entre dentes, alterando o tom de voz.

É nítido como ela tentar me intimidar com seu olhar inquisitivo, mas a raiva que sinto neste momento não me deixa raciocinar e muito menos recuar.

- Como você acha que consegui entrar aqui, velha safada? - Devolvo a pergunta jogando para o lado o vestido de Sara.

- Por que você está falando comigo dessa forma? - De repente Viviana abranda o tom de voz e me fita dissimulada. - Por algum acaso estar louca? É terminantemente proibido a entrada de alguém neste quarto sem a minha autorização ou companhia. São ordens de Carlos Eduardo.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora