Leyla
O despertador do meu celular toca às sete da manhã. Luto contra o cansaço para levantar rapidamente. Confesso que meu corpo está desacostumado a pegar no pesado, além de que o ferimento em meu ombro ainda dói e hoje sinto-o latejar.
Sei que eu deveria estar em repouso, mas não posso me dar esse luxo. Preciso sobreviver e um mero ferimento não pode me parar.
Higienizo o local da bala e faço um novo curativo. A ferida está um pouco inflamada, mas tenho feito o possível para mantê-la cuidada.
Tomo o antibiótico e antiinflamatório, faço minha higiene pessoal cuidadosamente para não molhar o curativo, visto meu uniforme e sigo para o salão do restaurante.
Ontem a noite, após o expediente, Marcos me levou até sua casa para buscar todos os meus pertences. Ele parecia feliz por poder retornar a sua casa, mas pude notar satisfação por eu ter arrumado emprego e abrigo.
Apesar de eu estar devastada por dentro, me sentir acolhida por ele e sua mãe, me faz sentir um pouco melhor.
Quando chego ao salão do restaurante, as portas de ferro estão abertas somente até a metade, mostrando a quem passa na rua que o estabelecimento ainda está fechado, mas vejo Dona Kátia atrás do balcão do bar organizando algumas coisas.
Ela esboça um sorriso quando nota minha presença e logo volta a atenção para seus afazeres.
- Tem café quentinho na garrafa - Aponta para a cozinha. - Fiz ovos mexidos também. Veja o que você quer comer. Vá a cozinha e se sirva do que quiser.
- Obrigada! - Agradeço sentindo minha barriga roncar.
Além dos ovos, frito algumas fatias de calabresa e faço um sanduíche com um pedaço de baguete que acho no armário. Lavo toda a louça que usei e retorno para o salão.
Empilho as cadeiras e as mesas, depois as levo para os fundos do salão. Jogo água no piso e faço uma mistura de sabão em pó e água sanitária. Enquanto esfrego o chão, lembranças dos D'ávila tomam minha mente, mas sou rapidamente despertada de meus pensamentos pela voz de Marcos.
- Bom dia, meninas! - Fala divertido indo ao encontro da mãe para um abraço.
- Bom dia! - Dona Kátia e eu respondemos em uníssono.
O carinho entre mãe e filho me faz abrir um sorriso breve.
- Você tomou café da manhã? - Dona Kátia pergunta ao filho.
- Ainda não. - Marcos responde passando a mão pelo abdômen.
- Espere um pouco. Vou preparar algo rápido para você. - Dona Kátia se desvencilha dos braços de Marcos e segue para a cozinha.
Ele senta em um banco próximo ao bar e me observa esfregar o chão do salão.
- Como foi seu primeiro dia de trabalho? - Pergunta curioso.
- Cansativo, mas pelo menos consegui manter minha mente ocupada. - Respondo sem tirar os olhos do serviço.
Mesmo sem o fitar, sinto seu olhar cair sobre mim.
- Não consigo parar de me perguntar o que te fez vir parar de volta a Renascença. Algo me diz que seu retorno não foi algo planejado.
- Você é muito perspicaz! - Retruco irônica.
- Foi um tiro ou uma facada? - Pergunta me deixando imóvel por uma fração de segundo.
Decido ignorar sua pergunta e continuar meu trabalho.
- Sei que não é da minha conta, mas quero que saiba que pode confiar em mim. - Ele levanta e para a minha frente, tomando a vassoura de minha mão.
- Não sou idiota. - Segura em meu queixo me fazendo encara-lo. - Sei que você se meteu em encrenca.
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Trapaças do Coração
RomanceCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...