Capítulo 26

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Carlos Eduardo

A angústia costumeira volta a me atormentar. Por que diabos fui dar ouvidos aos conselhos do Gustavo? Voltar a esta fazenda me traz muitas lembranças e por mais que eu saiba que foi o correto a se fazer, por mais que eu esteja feliz por rever meus pais e por deixa-los felizes com minha visita e de Rafael, é muito doloroso para mim.

Andar pela sala e ter revisto todos aqueles murais de fotos que trazem tantas lembranças de uma vida feliz, acaba comigo.

Caminho pelo quarto inquieto, tentando encontrar uma maneira de jogar para longe tudo o que me angustia.

Sigo até o criado mudo, pego meu celular e ligo novamente para Gustavo.

Após duas chamadas ele atende animado.

- E aí, cara?

Fico em silêncio por alguns segundos e respondo tentando esconder o desespero que me consome:

- Você me colocou nessa, Gustavo. Preciso de você aqui. Traga todos os relatórios para a fazenda amanhã. Quero despachar alguns assuntos com você. Tenho algumas ideias e quero coloca-las em prática. Penso em investir em outros nichos de negócios, criar uma incorporadora.

- Espera um pouco, Carlos Eduardo! - Guga me interrompe com um tom de voz alterado. - Por que não esquece um pouco o trabalho e vai curtir sua família? Amanhã é feriado aqui em Minas e eu estava pensando em fazer algo com minha esposa, leva-la para passear. Não estava nos meus planos pegar estrada e passar o dia inteiro trabalhando.

- Não lembrava que amanhã era feriado por aqui. Nesse caso, mude seus planos, Gustavo. Preciso de você amanhã.

- Mas Cadú, está tudo planejado. Não me faça ter que desmarcar tudo. Patrícia está ansiosa pelo o passeio.

- Não me interessa o que você e sua esposa planejaram para amanhã. O alto salário que te pago cobre todas essas frustrações inclusive trabalhar em feriados ou fins de semana em que eu solicitar seu tempo e esforço. Quero aproveitar que estou em Minas Gerais e transferir algumas ideias da minha cabeça para papéis. Preciso transforma-las em projetos de sucesso.

- Cadú, escuta - Gustavo amansa o tom de voz - sei o quanto é difícil para você estar aí. Entendo tudo o que você passou, não consigo imaginar o que eu faria se eu perdesse minha mulher, mas você tem que entender que você está vivo e que ainda existem pessoas no mundo com quem tem que se importar. Seus pais estão ficando velhos e cansados. Não perca o oportunidade de conviver com eles o máximo de tempo que conseguir. Não desperdice o amor que os envolve. Você os ama, sei disso, mas não sei porque diabos quer se manter distante de tudo e de todos que podem te fazer bem.

- Dispenso seu sermão e te aguardo amanhã, às oito horas. - Retruco tentando não absorver suas palavras.

Ouço-o bufar no outro lado da linha e chego a sentir um pouco de remorso, mas não o suficiente para voltar atrás.

- Até amanhã, Senhor D'ávila. - Gustavo ironiza e desliga.

Jogo o celular sobre a cama e sigo até a varanda. Debruço meu corpo apoiando meus braços na grade. Olho para o céu estrelado e por alguns segundos consigo admirar a beleza das estrelas e da lua cheia até que a moda de viola que os peões tocam me retiram do transe. É uma música antiga, que meus pais costumavam cantar junto de seus amigos nas festas que faziam em casa quando eu ainda era criança.

Volto minha atenção para o grupo de peões formado ao redor da fogueira e avisto Leyla junto deles. Ela parece animada ao conversar com o veterinário da fazenda.

Desde que chegamos aqui notei o olhar de cobiça dele cair sobre ela e bastou apenas que eu retornasse a casa para que fosse aborda-la.

Volto para o quarto tentando não me importar com a cena que acabei de presenciar, mas algo me deixa agitado. O que essa mulher tem que todos os homens se sentem atraídos por ela? Primeiro foi o Wagner e agora esse peãozinho de merda.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora