Carlos Eduardo.
Passei o resto da tarde velejando à procura de sentir algum vestígio da alegria que vi olhos de Leyla e de Rafael hoje à tarde. Eles brincavam e sorriam de uma maneira invejável. Não posso negar que senti uma vontade imensa de me juntar a eles naquele momento divertido, mas algo me impediu.
Sabia que não seria bem-vindo na brincadeira. Eles não gostam da minha presença, assim como todos os outros, mas hoje pela primeira vez durante anos quis que fosse diferente. Quis poder brincar e me divertir com meu filho. A maneira como ele sorria quando estava na piscina me fez lembrar de Sara. É incrível como os dois são parecidos. Quis me aproximar, prestar mais atenção nos detalhes do seu rosto, procurar nele algum traço meu.
Hoje vi vida dentro da minha casa, e foi aquela empregada perturbadora que a trouxe para nós.
Chega a me irritar a maneira como Leyla desperta minha atenção. Cada centímetro dela me atrai, me atiça. A cobiço, instintivamente, e não consigo deixar de reparar nela muito mais do que deveria.
É inevitável pensar em suas curvas esculturais, em sua maneira sensual de mexer no cabelo, em seu colo convidativo, em seu olhar provocante. Esse desejo pode ser apenas algum fetiche, uma fantasia íntima que foi despertada pela beleza de Leyla, afinal ela é a mais bela de todas as empregadas que passaram por minha casa, e talvez até pelas minhas empresas.
Conheço bem meu instinto de macho. Enquanto essa mulher não visitar minha cama, não vou conseguir tirá-la da cabeça. Depois que eu saciar meu desejo, perderei o interesse do mesmo jeito que acontece com todas as outras. Pela primeira vez na vida serei antiético, mas duvido que aquela morena resista aos meus encantos. Ela me ameaçou claramente de assédio, e estou disposto a pagar o preço para senti-la em meus braços.
Quando Pedro e eu chegamos ao cais, enquanto ele atraca a embarcação, tenho uma ideia.
Pego meu celular no bolso da bermuda, e disco o número de Cláudio. Ele é proprietário da maior rede de restaurantes do estado, e possui duas unidades no Guarujá. Sempre que preciso de seus serviços me atende com prontidão e competência.
Ele atende a ligação com animação e cordialidade.
— Boa tarde, senhor D'ávila!
— Boa tarde, Cláudio. Estou precisando dos seus serviços, mas desta vez gostaria de algo diferente, mais completo. É possível? — Pergunto de forma direta.
— Sim, claro. Para uma noite especial? — Assente animado.
— Não. Apenas quero algo diferente. Se vire para me agradar, pois será muito bem pago. — Digo me sentindo invadido por sua curiosidade.
Antes que Cláudio possa responder, desligo e guardo o aparelho de celular de volta no bolso.
Não sei por que uma pergunta tão simples me deixou irritado. Não preciso nem quero impressionar mulher nenhuma, muito menos uma empregada da minha casa. Leyla não é importante. Será apenas mais uma conquista.
Volto para casa pensando numa maneira de atraí-la até o iate e a dúvida quanto a sua reação me espezinha. Ontem ela me pareceu firme quando me acusou de assedia-la, mas ao mesmo tempo algo em seu olhar, em sua pele, me fez acreditar que naquele momento estava agindo contra a vontade. Ela também queria; eu acho.
— Eu acho? — Me questiono enquanto caminho de volta para a mansão. — Desde quando eu acho alguma coisa? Eu sempre tenho certeza de tudo!
Entro na casa, inquieto à procura da empregada.
— Maria! — Grito ainda no hall. — Maria!
Ela aparece rapidamente à minha frente e limpa a boca, deixando transparecer que estava comendo algo. Provavelmente atrapalhei seu jantar.
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Trapaças do Coração
RomanceCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...