Leyla
- Tenho ótimos vinhos em minha casa. - Fernando fala com a fala discretamente alterada por conta da bebida - Você quer experimentar?
- Acho que não é uma boa ideia. - Nego olhando-o de soslaio - Você bebeu mais do que devia.
- Não, apenas me empolguei um pouco. - Diz olhando para a estrada.
- Desculpe, a culpa foi minha. Sugerir para você beeber tequila antes de dirigir foi uma atitude irresponsável. - Encolho os ombros enquanto lembro de tudo o que soube hoje a noite.
- Tudo bem, estou consciente e atento à estrada. Além disso, a pizza ajudou a amenizar o efeito do álcool. - Sorri - Mas você tem razão, ingerir mais álcool não iria ser bom. Que tal assistirmos a um filme? - Insiste pousando a mão sobre minha coxa.
- Desculpa, Fernando, mas não estou bem nesta noite. - Solto um ar pesado.
- Está assim pelo que te contei? - Questiona revezando o olhar entre mim e a estrada.
Após alguns segundos em silêncio, falo pesarosa:
- Preocupo-me muito com Rafael. Essa história toda é muito sórdida. Não consigo imaginar como Carlos Eduardo poderia reagir se descobrisse o que Sara fez.
- Agiria como qualquer homem. - Dá de ombros
- O que poderia acontecer com Rafael? - Indago preocupada. - Rafael é frágil, sofrido, não quero que ele sofra pelos mal passos da mãe.
- Mas ele não precisa passar. Essa história está enterrada. Sara Faleceu, Alexandre sumiu no mundo e eu e você não pretendemos contar nada, certo? - Tenta me acalmar enquanto desliza os dedos em minha perna.
- Alexandre era como se chamava o amante dela? - Pergunto desanimada.
- Sim, mas isso não tem importância nenhuma agora. O importante é que essa história acabou e nós precisamos esquecê-la - Faz sinal de rendição.
- Jamais irei contar nada! - Afirmo com firmeza - Apesar de Carlos Eduardo ser arrogante, egocêntrico, frio e prepotente não merece passar por isso.
- Nossa! Você admira muito seu patrão - Ironiza entre risos.
- Eu deveria ter desistido de tudo e ido embora, mas não consigo deixar Rafael. - Confesso sentido meu peito apertar. - Faz pouquíssimo tempo que o conheço, mas nossa ligação é muito forte, inexplicável.
- Você se refere a desistir do emprego? - Pergunta atento à estrada.
- De que mais seria? - Retruco lembrando da trapaça que armei junto de Matheus.
- É tão ruim assim trabalhar para Carlos Eduardo D'ávila? - Indaga intrigado. - Ele me parecia um bom homem.
- O fato é que ele se transformou após a morte da mulher, mas apesar de muitas vezes ficar irritada por conta do temperamento e atitudes dele, acho que consigo entende-lo. O sofrimento consegue endurecer o coração de muitas pessoas. A frieza é uma espécie de escudo para afastar qualquer fato ou pessoa que possa trazer sofrimento novamente, porque se o fizer a sensação pode ser de morte. - Solto um ar pesado.
- Falando assim você parece ser especialista no assunto. - Me olha intrigado - Cursou psicologia na faculdade?
- Não! - Balanço a cabela em sinal negativo soltando um sorriso falso, pois me sinto envergolhada pelo tipo de pessoa que sou de verdade.
- Então posso subentender que sofreu muito na vida? - Insiste.
- Desculpa, Fernando, mas não estou me sentindo muito bem. Você pode me deixar em casa? - Mudo de assunto - Preciso acordar cedo amanhã.
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Trapaças do Coração
RomanceCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...