Capítulo 7

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Leyla.

Pedro nos leva ao quarto de Rafael, e o acomoda na cama. O menino parece cansado da viagem e não reclama. Depois o senhor calvo, bagunça o cabelo do garoto e abre um sorriso acolhedor antes de se retirar do ambiente. Dá para perceber que ele está feliz com a visita do menino.

Mateus entra logo em seguida, deposita as malas no chão, e acena para que conversemos depois. Assinto de maneira que Rafael não perceba, e vasculho o quarto com os olhos. Este é tão bonito, grande e confortável quanto o da casa na capital.

Sigo até a janela e abro as cortinas. A luz do dia está indo embora, e se forma um lindo crepúsculo no horizonte. Não entendo bem o motivo, mas sempre me sinto melancólica ao presenciar fenômenos assim. Mas agora não é só isso que me espezinha. Estou incomodada com o que Carlos Eduardo disse sobre meu perfume. Quem ele pensa que é para me chamar de vulgar? Ele nem me conhece! Bom, se conhecesse ele certamente repetiria o que disse, mas estou fazendo de tudo para não parecer vulgar. E se existe em mim algo que não é provocante é o meu perfume. Uso essa fragrância desde o dia seguinte que fugi de casa. Mateus me presenteou com um frasco, e apesar de simples, de lá para cá, é minha fragrância preferida. É como se representasse minha nova vida, longe de tudo o que deixei para trás.

Olho através do vidro, e vejo o patrão sentado nas areias da praia. Ele parece compenetrado no pôr-do-sol.

- "Idiota!" - Penso alto.

- Deixa para lá. - Rafael comenta, desinteressado.

- Não foi isso que eu quis dizer. - Disfarço voltando minha atenção para o menino.

- Claro que foi. - Ele abre um sorriso largo. O primeiro desde que o conheci. - Ele é mesmo isso que você disse, só não posso repetir, por que apesar de tudo, ele é meu pai. - Nesse momento ele encolhe os ombros e baixa o olhar.

Arfo, e balanço a cabeça em sinal negativo, tentando entender o porquê de tanto distância entre pai e filho. Rafael não é uma criança chata. É birrento e visivelmente frustrado, mas é agradável em certos momentos, além de ser muito inteligente e perspicaz.

Eu amava meu pai, aliás o amo até hoje. Para mim ele era o melhor de todos. Estava sempre alegre, e disposto a nos ver sorrir. Algum tempo depois de sua morte, minha mãe iniciou um relacionamento com Geraldo. Ele tinha um sítio onde cultivava hortaliças e as vendia na feira da cidade.

Ele também era viúvo e todos o tinham como um homem de respeito. Logo os dois casaram e minha mãe vendeu a casinha que tínhamos na periferia da cidade para pagar as dívidas deixadas pelo meu pai, e se juntou a Geraldo no terreno dele, levando a mim e Alzira.

No começo ele me tratava bem, despertando em mim certo carinho, mas depois que completei dez anos. não demorou para que ele lançasse olhares ostensivos em minha direção.

Eu fingia não notar, evitava ficar às sós com ele em qualquer situação pressentindo que algo de ruim pudesse acontecer, mas um dia, quando minha mãe foi à cidade levar Alzira para uma consulta no posto de saúde, o que era inevitável aconteceu.

Eu estava varrendo a casa quando ele se aproximou com aquele olhar intenso, nojento. No mesmo momento meu coração acelerou, e segurei firme no cabo da vassoura tentando disfarçar minhas mãos trêmulas. Olhei para o chão e continuei meus afazeres fingindo não perceber o desejo que incendiava em seus olhos. Eu era apenas uma menina, mas já percebia a malícia do meu padrasto.

Ele foi até o armário e pegou uma garrafa de pinga, depois sentou-se à mesa e deu um gole diretamente no gargalo. Observando-o de soslaio, vi quando limpou o pouco do líquido que caia sobre seus lábios. Ele me analisava cuidadosamente, dos pés à cabeça. Tinha uma atenção especial por meus seios, que já apontavam por trás do tecido vestido que eu usava.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora