Carlos Eduardo
Olho para o relógio e faltam alguns minutos para as oito horas da manhã; horário marcado com Gustavo para iniciarmos nossa reunião.
- Com licença - Levanto da mesa, deixando meus pais continuarem seus "causos" enquanto sigo para a varanda.
Coloco as mãos nos bolsos enquanto observo o movimento da lida na fazenda. Peões andando de um lado para o outro em meio a seus afazeres, mas um se destaca mesmo de longe. Fernando!
Meus pensamentos são interrompidos quando avisto a LandRover vermelha de Gustavo se aproximar.
Sigo em sua direção para recepciona-lo e ergo o braço para um aperto de mãos.
- Pontual como sempre! - Abro um sorriso ignorando seu semblante fechado.
- Vamos ao que interessa? - Retribui o gesto parecendo apressado. - Onde podemos iniciar a reunião?
- Pode ser logo ali. - Aponto para a grande mesa rústica cercada por bancos de madeira de lei.
Nos acomodamos e observo Gustavo se apressar em ligar seu Macbook e retirar alguns relatórios de sua pasta. Instantes depois iniciamos a reunião.
Após cerca de meia hora discutindo gráficos e planilhas com orçamentos para abertura de novas unidades do da rede de supermecados, algo chama minha atenção.
Rafael surge em sua cadeira de rodas conduzido por Leyla. O garoto veste trajes de banho e carrega em seu colo toalhas dobradas e um cesto de palha com alguns quitutes. Leyla veste saída de banho de renda branca que permite a vislumbrar as curvas de seu corpo enquanto briga com o maiô azul marinho de gosto duvidável.
Logo em seguida Leyla tenta cuidadosamente descer a cadeira com Rafael pelos degraus, mas parece ter dificuldades. Levanto institintivamente para ajuda-la, mas antes que eu possa dar o primeiro passo, avisto o veterinário praticamente correr em sua direção.
Observo atentamente os sorrisos trocados pelos dois como forma de cumprimento e sinto algo me incomodar.
Sem pensar em mais nada, apresso o passo e sigo até onde eles estão.
- Deixa que eu resolvo isso. - Falo tomando o controle da cadeira de rodas.
- Não precisa, Sr. D'ávila. Deixa que eu resolvo isso rapidinho. - O rapaz sorri em minha direção.
- Não preciso da sua ajuda. - Retruco semicerrando os olhos. - Volte ao trabalho! Não mais nada para fazer?
No mesmo instante percebo novamente olhares trocados entre os dois, antes do peão retirar o chapéu, saudar Leyla com a cabeça e nos virar as costas.
- Atrevido! - Resmungo enquanto suspendo a cadeira de rodas de Rafael com cuidado e levo até o pátio.
- Obrigado, pai! - O garoto agradece, mas consigo somente olhar para Leyla, que me observa com um semblante que não consigo identificar.
Sem nada dizer retorno para a companhia de Gustavo. Enquanto ele retoma os assuntos profissionais, não consigo deixar de acompanhar para onde Leyla e Rafael estão indo. Eles parecem animados e seguem em direção ao rio.
- Carlos Eduardo? - Sou despertado de meus pensamentos pela voz de Gustavo.
- Desculpe! Me destraí - Abro um sorriso fraco. - Recapitule, por favor!
Gustavo coça o queixo enquanto me observa atentamente.
- Recapitule, por favor. - Insisto sob seu olhar analítico.
- Você quer me contar algo? - Indaga arqueando a sobrancelha.
- Contar o que? - Questiono me sentindo incomodado com sua pergunta. - Não tenho nada para contar. Podemos prosseguir com a reunião?
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Trapaças do Coração
RomanceCarlos Eduardo D'ávila é atualmente dono de uma das maiores fortunas do país. Sua rede de supermercados ocupa o primeiro lugar do ranking nacional. Há alguns anos ele perdeu a esposa num acidente aéreo e seu único filho, Rafael, ficou paraplégico. E...