Capítulo 03 [ Parte 4]

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Capítulo 3

[Parte 4]

Os escritórios da L&L Cosméticos eram parcamente decorados. A maior parte das salas era composta de muita madeira clara, toneladas de papéis e computadores. As paredes brancas imaculadas davam o tom sério e respeitoso que uma empresa daquele porte exigia como o meu avô gostava .

- Garota, esse documento é do Comex, setor nove. Como veio parar aqui? − Karol a bruxa , aquele doce de pessoa, questionou quando finalmente voltei para o sétimo andar.

- Não faço ideia – dei de ombros.

- Claro que não. – Ela me esticou o papel daquele seu jeito imperioso. – Leve imediatamente para o quinto andar.

- Por que o setor nove fica no quinto andar? O que fica no nono?

- A sala da presidência – ela responde sem me olhar. – Anda, garota! Eu tenho muito que fazer e não tenho tempo para seus erros .

Eu até que estava gostando das andanças. Cada incursão, aproveitava para dar uma olhadinha nos cartazes motivacionais da empresa, só para enrolar.

"Se eu quisesse tapinhas nas costas, seria massagista. A gerência."

"Uma máquina pode fazer o trabalho de cinquenta pessoas comuns. Nenhuma máquina pode fazer o trabalho de uma pessoa extraordinária."

"Como fazer uma empresa dar certo em um país incerto", e seguia-se um longo texto descrevendo o que deveria ser feito para se obter êxito. Achei tudo aquilo ridículo. Quem realmente acreditava naquela
balela?

O quinto andar era muito mais agitado que o sétimo. Dezenas de pessoas se amontoavam nos cubículos, todos falando ao telefone ao mesmo tempo e em idiomas diferentes, como na Torre de Babel. Eu não sabia onde deixar o documento, então decidi que qualquer uma daquelas mesas serviria.

Já estava dando meia-volta quando alguém me chamou.

- Carol . – Ou quase me chamou.

Virei-me e dei de cara com o gigante grosseirão que estava me olhando e me chamando .

- Ah, só podia ser você. Meu nome é Carla . Repete comigo: Carrr-laaa-.

- Tanto faz – ele deu de ombros, parecendo entediado. – Você encontrou um documento que...

- Tá ali naquela mesa – indiquei com a cabeça e dei um sorriso afetado. – De nada.

Ele me olhou com uma expressão dúbia.

- De nada?

- Obviamente você precisa do documento e eu o encontrei. Então, de nada.

Ele sorriu, mas não era nem de longe um sorriso alegre, e cruzou os braços sobre o peito atlético. Eu podia apostar que era enchimento que deixava seus ombros tão largos. Ou talvez o terno escuro desse a impressão de que músculos bem torneados se escondiam sob o tecido... Não. Com certeza era enchimento.

- Ah, entendi. Você quer que eu te agradeça por ter trombado comigo e tirado de ordem um contrato que passei a manhã toda organizando e que você, em segundos, transformou num caos. É isso? – ele perguntou debochado me  olhando mais debochado ainda .

- Talvez – o desafiei, empinando o nariz. Não era porque ele era muito mais alto que eu, que eu não poderia lhe dar uma surra. Aquele policial búlgaro também era bem grande e mesmo assim consegui quebrar seu nariz em dois ou três lugares diferentes.

Ele devolveu o olhar, e um brilho desafiador surgiu em seus olhos.

- Então agradeço a ajuda preciosa. Não sei o que seria de mim sem ela, querida Carla – ele disse zombeteiro.

- Sabe de uma coisa, camarada? Acho que você é assim tão legal porque faltou gente para chutar a sua bunda no colégio. Se quiser, posso te ajudar com isso. Vai ser bem divertido!

- Seu avô deve estar orgulhoso vendo a neta se comportar como uma trombadinha ou agindo como uma bandida sem responsabilidade .

Se ele tivesse me dado um soco na cara, teria doido menos.Tudo menos falar do meu avô,não mesmo,eu posso suportar qualquer coisa menos falarem dos meu avô.

- Você não sabe nada sobre mim – trinquei os dentes. – Nem sobre o meu avô. Você não passa de um idiota extremamente grosseiro que não sabe o que fala,então cala a boca para falar do meu avô .

Ele deu de ombros.

- Não é segredo nenhum que o seu avô te deserdou. Agora entendo o por quê dele ter feito isso,você é um desastre ambulante,seu avô teria vergonha de você .

- Cala a boca! – gritei, atraindo vários olhares.

Com horror, notei que lágrimas escapavam de meus olhos. Não havia como retê-las. O que aquele cara arrogante disse libertou algo que estivera rondando minha cabeça desde que eu soubera que vovô tinha decidido me excluir – ainda que não fosse exatamente isso – do testamento. Eu só não queria admitir, nem mesmo para mim. Assim como não queria admitir perante aquele homem gigante e sensível como um tubarão que eu era uma fracassada irresponsável, no entanto sua hostilidade gratuita me compelia a
revidar.

- Quer saber se eu estou feliz com o que meu avô fez? Não, não estou feliz. Na verdade, estou com muita raiva dele nesse momento por ter me jogado nesse covil de cobra, cercada de pessoas tão gentis como você, a Karol  e a intelectual Lumena  do RH. Mas o fato é que vovô me amava. Eu sei disso! Me impedir de assumir seus negócios não tem nada a ver com o que ele sentia por mim ou com a forma como levo a minha vida. Você. Não. Sabe – apontei um dedo, cutucando seu peito (duro pra caramba, aliás). Ele se retraiu um pouco, ligeiramente desconcertado. – Você não viveu com ele os últimos vinte anos de sua vida. Não correu para a cama dele quando sentiu medo, e ele, sempre carinhoso, apertou sua mão e disse que ia ficar tudo bem, que não ia sair do seu lado. Ele não te consolou quando seu coração se partiu pela primeira vez, nem em todas as outras. Ele não te deu bronca atrás de bronca, para logo em seguida te abraçar e dizer que só brigava com você pra te educar direito. Ele não te abandonou. Foi comigo que ele fez isso!

Ele pareceu confuso e, se estivesse lendo corretamente suas feições, arrependido e penalizado por ter dito algo que não sabia .

Argh! Eu havia chegado ao limite.

- Hã... olha... eu não quis dizer... – ele começou, inseguro.

- Mas disse. Muito obrigada por me lembrar. Será que agora você pode, por favor, me deixar em paz? – e saí o mais rápido que pude.

Eita o tal homem  pegou pesado com a baixinha  quem será hein
Cadê o Arthur ???
Comentem🦋🦋🦋🦋....

Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora