Capítulo 14 [Parte 3]

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Capítulo 14

[Parte 3]

Eu Encontrei Arthur na sala, a TV ligada, mas tive a impressão de que ele não prestava atenção no jogo de basquete. Fiquei ali parada, completamente deslocada, sem saber o que fazer. Ele se virou para me observar e me estudou por um segundo antes de sorrir.

- Você está com cara de quem acaba de entrar na sala do diretor – disse de modo gentil.

- Pra ser sincera, é exatamente assim que eu me sinto.

- Esta é sua casa agora. Talvez leve alguns dias para você se sentir à vontade, mas prometo fazer o possível para te ajudar a se adaptar. – Fiquei surpresa com tanta hospitalidade. Mas, por outro lado, parecia ser exatamente o tipo de coisa que Arthur  diria. Ele ainda era uma incógnita para mim. – Por que você não se senta pra gente conversar um pouco?

Pareceu uma boa ideia. Muito melhor que ficar parada no meio da sala sem saber onde colocar as mãos. Ele ainda vestia as roupas da cerimonia, porém sem o paletó. As mangas da camisa haviam sido dobradas até os cotovelos. Arthur  ficava bem de terno, mas ainda melhor naquele estilo mais casual. Menos intimidador, mais... acessível. Era mais fácil falar com ele sem toda aquela armadura que ele costumava vestir.

- O vovô me deixou algumas cartas, Arthur  – comecei, encarando o envelope nas minhas mãos. – Recebi uma na L&L, a respeito do meu emprego. A que Carlos  me entregou no cartório é sobre nós dois, você e eu, quero dizer. – Estiquei em direção a ele a carta endereçada a "marido de Carla Carolina Moreira Diaz ". – Uma era para mim, e essa é pra você.

Ele pegou o envelope e o analisou por um instante, depois o devolveu.

- Não é pra mim, Carla . É para o seu marido de verdade. Guarde e um dia entregue ao homem que você realmente amar e sentir esse sentimento..

- Tudo bem. – Não pude negar que, naquele instante, Arthur  me pareceu um homem ainda maior.

- Gostou do quarto? – ele quis saber.

- Gostei, é bem bacana. Posso mudar algumas coisas?

Ele riu.

- Vejo que gostou muito.

Eu corei.

- É que é meio sem cor. Parece triste e solitário – eu disse, encarando o tapete grosso e macio sob meus pés. Exatamente como eu me sinto. – Talvez um pouco de cor deixe o ambiente mais alegre.

- O quarto é seu. Mude o que achar que deve para se sentir mais confortável. Se precisar da ajuda de um marido forte para mudar os moveis de lugar, posso procurar um na lista telefônica.

Eu ri, surpresa.

- Olha só! Você tem senso de humor! – apontei.

- Claro que tenho. Só é difícil usar quando você está por perto.

Eu estava prestes a perguntar o que ele quis dizer com aquilo quando sua expressão mudou, voltando à seriedade habitual.

- Como... – ele se sentou mais ereto, deixando as mãos unidas sobre os joelhos. – Eu fiquei pensando sobre o que aconteceu hoje e sobre o seu discurso depois que... hã... – ele se remexeu no sofá, procurando uma posição confortável. Ou talvez procurasse um assunto menos constrangedor.

- Como exatamente vamos agir diante das pessoas?

- Não pensei nisso ainda. Mas gostaria que me avisasse da próxima vez que decidir me beijar.

- Eu não pretendo te beijar de novo – ele respondeu imediatamente.

- Ótimo! Assim cumprimos o acordo à risca.

- Sim, mas... fiquei pensando que não vamos parecer amantes – ele apontou. – As pessoas podem estranhar, já que acabamos de casar.

- Humm... Bom... Tem razão.

- Pensei que, se a gente se esforçar para manter a fachada, talvez as pessoas acreditem que o nosso casamento é real, que estamos mesmo apaixonados. O que você acha de vez ou outra almoçarmos juntos?

- Acho razoável. Talvez eu deva sorrir pra você de vez em quando – sugeri, como quem não quer nada. Seria bom se Arthur  pensasse que eu estava desempenhando um papel, não sorrindo involuntariamente toda vez que olhava para ele. E por que isso estava acontecendo afinal?

Ele assentiu.

- Vou fazer o mesmo. E seria bom se nós dois não... hã...

- Se a gente não trocasse desaforos em público? – ajudei

- Isso – ele sorriu. – A partir de hoje, e pelos próximos doze meses, você é minha mulher, e vou tentar te tratar como tal. Pelo menos quando tiver gente por perto – ele fez uma careta divertida.

Não me ofendi. Na verdade, fiquei satisfeita.

- Obrigada por fazer isso, Arthur . Vou fazer o possível para você não se sentir nauseado quando pensar em voltar pra casa.

- Pode ser que eu nem note você por aqui – ele deu de ombros, encostando-se no estofado. – Se eu conseguir minha promoção, vou ter tanto trabalho que provavelmente não vou ter tempo pra perceber muita coisa. Minhas chances de ser promovido são grandes.

- Que bom. Espero que você consiga o que quer – eu disse sinceramente.

Ele sorriu um pouco, depois voltou a ficar sério.

- Eu sei que você vendeu seu carro, e você já deixou bem claro o horror que sente pelo transporte público. – Ele se remexeu no sofá, como se o assento estivesse repleto de espinhos. Que estranho. – Também notei que você tem problema com horários. Honestamente, pra mim tanto faz, mas fiquei pensando que talvez as pessoas achem estranho se a gente não chegar juntos ao trabalho. Já que trabalhamos na mesma empresa e moramos no mesmo apartamento.

- Essa é sua forma de me oferecer carona, não é? – sorri.

- Se você estiver pronta na hora certa – ele esclareceu, sorrindo torto.

Senti meu estomago se revirar e contorcer, como se estivesse numa montanha-russa.

- Essa foi a coisa mais incrível que você já me disse. Não vou me atrasar. Quer dizer, vou fazer o possível para acordar na hora certa. Deus sabe como os ônibus me assustam! Por incrível que pareça, você é menos assustador.

Ele riu.

- Isso foi um elogio?

- Não! – ri também.

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Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora