Capítulo 46

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Capítulo 46

Eu Perambulei pelo bairro desconhecido por algum tempo. A noite já caíra e eu sabia que devia voltar para casa, mas não queria enfrentar o Arthur  naquele momento. Não tinha forças para isso. Encontrei uma pracinha, dessas com bancos pichados e a grama tão alta que mais parecia a beira de um riacho. Sentei no encosto do banco e apoiei os pés no assento, jogando a bolsa ali. Meu celular tocou mais uma vez. Peguei o aparelho e o encarei. Era Arthur me ligando . De novo. Ignorei a chamada. Não estava pronta ainda.

-O que você faz aqui, srta. Carla ?

Virei-me e dei de cara com a ex-secretária de meu avô.

- Raquel ! - exclamei, surpresa. - Eu...desci no ponto errado. Acabei me perdendo.

Ela me avaliou atentamente, de meus olhos inchados a minhas mãos frenéticas, que não paravam de se retorcer.

- Eu moro na próxima quadra. Não quer ir até a minha casa e beber alguma coisa enquanto chamo um táxi pra você?

- Eu adoraria. Obrigada Raquel . - Coloquei-me de pé, jogando a bolsa sobre o ombro e alcançando uma de suas sacolas de supermercado. - Deixa eu te ajudar com isso.

Ela sorriu e caminhamos caladas até a casinha cor de abóbora com portas e janelas brancas. Um pequeno jardim repleto de margaridas, bem embaixo da janela, trazia um pouco de cor ao lugar. Por dentro, a casa era repleta de detalhes, tapetes e bibelôs infinitos – e um tanto assustadores – e flores artificiais. Inês me acomodou no sofá estampado e foi para a cozinha preparar um chá. Olhando em volta, vi diversos retratos dela, em várias épocas da vida. Um homem com um vasto bigode a acompanhava em muitas delas. Não nas mais recentes, porém.

- Meu marido – disse ela suavemente, me fazendo pular no estofado – Morreu há dez anos. Seu chá – me estendeu a xícara. Eu a peguei, proveu um pouco e o gosto do rum adormeceu minha língua. Olhei para Inês, surpresa, que sorriu e se sentou ao meu lado com outra xícara na mão. - Achei que poderia ajudar você a se acalmar. Ajudava o seu avô.

- Obrigada, Raquel . Era exatamente o que eu precisava.

- O que te deixou nesse estado? - ela perguntou, sem rodeios.

Suspirei. De algum modo, eu não achava que pudesse ser coincidência topar com a antiga secretária de vô Pedro  num momento como aquele.

- Descobri algumas coisas sobre o Hector. Coisas ruins – mantive os olhos em minha xícara.

Ela gargalhou. Tão alto que alguns bibelôs na mesa de centro vibraram

- Isso nunca seria possível – ela ergueu os ósculos para secar as lágrimas no canto dos olhos. - O Hector é um homem tão honesto e correto quanto o seu avô era.

- Você está enganada, Raquel . O Hector é perverso, sádico, mesquinho e cruel. Coisas que o meu avô jamais foi – retruquei, apertando a xícara em minhas mãos.

Isso fez surgir um pequeno franzido entre suas sobrancelhas.

- Carla me ouça , eu não sei o que está acontecendo, mas posso garantir que o Hector é um homem íntegro. Seu avô o deixou a cargo das empresas por confiar cegamente nele.

- Ele também deixou o Carlos  a cargo da herança. O que me leva a crer que o meu avô confiava demais nas pessoas e pouco em seu próprio sangue.

- Sabe que isso me incomodou um pouco? - disse ela, pousando sua xícara sobre a mesa com delicadeza. - Esse testamento não parece coisa do seu Pedro ,eu te garanto isso .

- Finalmente concordamos em alguma coisa – exalei pesadamente – Não foi ideia dele. Foi do Hector.

- Do Hector? - ela sacudiu a cabeça. - ele nem sabia que o seu avô tinha feito aquele testamento. Quando soube do conteúdo do documento pediu uma reunião com o dr. Carlos  para entender o que estava acontecendo. Ele achou aquilo um absurdo, até discutiu com o Carlos  por conta disso.

- Como você sabe disso?

- Eu estava na sala quando aconteceu.

O sinal de alerta voltou a soar em minha cabeça. A luz vermelha piscava incessantemente.

Virei meu chá de uma vez, queimando o esôfago, mas não me importando com isso.

- Fala mais, Raquel . Me conta o que você viu e ouviu. Desde o começo, por favor.

Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora