Capítulo 26 [Parte 1]

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Capítulo 26

[Parte 1]

- Vivi , aconteceu uma catástrofe! - chorei ao telefone.

- Ah, não! O que foi? Você está bem? Claro que não está bem, que pergunta imbecil! Você está ferida? O que aconteceu? Fala, criatura! - cuspiu ela, sem parar para respirar.

- Me apaixonei por meu marido! - gemi.

- Ah, isso... - ela exclamou, pouco surpresa. - Onde você está?

- Em casa. Acho que o Arthur foi correr como ele sempre faz . Ainda não vi ele hoje.

- Estou indo pra aí - ela desligou.

Enquanto Viviane não chegava, preparei um queijo frio - eu não aguentava mais queijo quente, a única refeição que era capaz de preparar sozinha - e um cappuccino daqueles de sachê, com gosto de meia suja. Repassei na cabeça a noite anterior, do momento em que fui para cama após Arthur e eu brindarmos à sua não promoção até o instante em que sonhei com meu avô. Arthur aceitara tudo muito bem, o que me fazia pensar que talvez ele reagisse da mesma forma quando soubesse o real motivo de Jeferson ter ficado com a vaga no Comex. Mas então uma vozinha irritante gritava em minha cabeça: Ah, tá! Até parece!, de modo que deixei tudo como estava.

Viviane apareceu com sacolas cheias de chocolate, sorvete e uma revista de moda ainda no plástico.

- Eu sei, muitas calorias. Mas achei que fosse uma emergência - explicou, derrubando tudo sobre a pequena mesa de centro da sala e me abraçando com ternura.

-E é uma emergência - resmunguei em seu ombro. - Como fui deixar isso acontecer, Viviane ? Como pude ser tão burra? Me apaixonar pelo Arthur ? Isso é ridículo? Vai além do ridículo. Vão ter que inventar uma palavra nova para definir alguém tão estúpida quanto eu.

Ela se afastou, mas manteve os dedos fincados em meu ombro.

- Você ama o Arthur , tipo ama mesmo, ou só acha que ama? - perguntou.

- Viviane !

- Tô falando sério, Carla . Muita gente acha que ama alguém, mas não ama de verdade. É apenas carinho, ou às vezes só tesão mesmo. Me conta o que você sente por ele. De verdade dessa vez - apenas uma
sobrancelha se arqueou.

Suspirei, me jogando no sofá. Ela se sentou ao meu lado e me entregou uma barra de chocolate.

- Eu não sei o que sinto. É como se eu sentisse tudo ao mesmo tempo. - Abri a embalagem e dei uma dentada. - Eu quero tocar o Arthur ,quero que ele me toque, adoro ouvir o que ele tem a dizer, amo a forma como a boca dele se enverga num sorriso tímido. Adoro como ele formula as frases, todo sério, mas dá pra ver uma pontinha de escárnio ali. Ele é tão gentil e cortês, e me defende quando acha que eu preciso...

- Pensei que você detestasse ser protegida - ela pegou um pedaço do chocolate e mastigou.

- E detesto! Mas com ele é diferente. Eu me sinto... Indefesa perto dele, e adoro isso. Ele acaba com todas as barreiras que eu crio.

- Humm... Me responde uma coisa. - Ela lambeu os dedos sujos de chocolate. - O que mais te irrita no Arthur ?

Suspirei.

- Quase tudo.

- Mas você acabou de dizer que adora um monte de coisas nele.

Afundei a cabeça no encosto do sofá.

- Eu sei! Eu odeio muitas coisas no Arthur , mas até essas eu amo. Eu sou ridícula!

- Uau! - ela sorriu enormemente, com um brilho extasiado nos olhos amendoados. - Isso é mais sério do que eu pensava. O que você vai fazer agora?

- Como assim, o que vou fazer? - levantei a cabeça.

- Vai contar pra ele?

- Tá maluca? De jeito nenhum! Vou arrumar uma forma de me desapaixonar, isso sim. Eu não posso amar meu marido. Além de ser ridículo, vai complicar tudo quando o nosso acordo terminar e ele sair da minha vida.

- Ele pode se apaixonar por você também assim como você se apaixonou por ele - ela cantarolou.

- Não, Viviane . Não pode. O Arthur gosta de mim, mas como amiga. Eu conheço ele bem agora. Ele jamais amaria uma mulher que não admirasse. E tenho certeza que ele não me admira o bastante para querer se envolver comigo dessa maneira. Ainda mais depois da noite de ontem. Quando ele souber que não foi
promovido por causa de uma interferência minha, ainda que indiretamente, vai me odiar. Eu sei que vai. - Fiz um breve relato do que acontecera no jantar da noite anterior. - Entende agora? O Arthur nunca vai me perdoar nem se interessar por mim.

- Ah, Carla . Não fala assim, como se não tivesse nada em você que atraísse o Arthur . Eu já notei. Aquele dia na pista de dança, eu vi como ele ficou atormentado depois que você deu um agarrão nele. Você também deve ter notado. Usa isso a seu favor.

Meu queixo caiu.

- Você está sugerindo que eu...

- Exatamente - ela sorriu, maliciosa. - Você mora com ele, não é difícil criar o clima certo e encontrar a hora perfeita, a lingerie perfeita...

Imediatamente, imagens de Arthur e eu rindo, cúmplices, na cama inundaram minha cabeça. Mas eu não podia me deixar levar pela imaginação. Não dessa vez.

- Não. Não! Nem pensar. Eu não vou jogar tão baixo. Nem a pau! Eu não quero o Arthur só por uma noite, Viviane . Porque seria só uma noite para ele. Eu quero que ele me ame... - Então pensei melhor. - Não! O que eu quero é deixar de amar o Arthur e não sentir o que eu sinto nesse momento !

- E por que você não tenta fazer com que ele te ame? Talvez sondar o território, ver se ele corresponde de alguma forma ou...

A porta se abriu. Arthur apareceu com toda aquela altura, o corpo glorioso molhado de suor, os cabelos ensopados e a camiseta branca com grandes manchas úmidas deliciosamente posicionadas sobre os músculos do peito definido e rígido, encharcando a sala de testosterona.

- Viviane ! Como vai? - ele cumprimentou com um sorriso, tirando do ouvido os fones do MP3.

- Bem, Arthur . A Carla me ligou, espero que não esteja atrapalhando.

- Claro que não. Fique à vontade. Vou tomar uma ducha e ficar apresentável - ele sorriu para ela. No caminho para o banheiro, brincou levemente com meus cabelos. - Bom dia, Carla .

- Bom dia - murmurei com o rosto quente.

Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora