Capítulo 16 [Parte 1]

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Capítulo 16

[Parte 1]

Na volta para casa, eu tinha muitas perguntas para Arthur . Entretanto, sua armadura havia retornado, e não tive ânimo para perguntar o que aquele monte de coisas escritas no chat significava. Se é que tinha algum significado. Eu achava que sim, já que seu olhar naquele momento parecia me dizer muito.

Viviane me esperava na portaria do prédio, com os braços cheios de sacolas.

– Você esqueceu algumas coisas lá em casa. Não que isso seja surpresa – ela riu, depois olhou para Arthur  um pouco encabulada. – Oi, Arthur .

– Oi, Viviane . Deixa eu te ajudar com isso – ele tomou as sacolas das mãos de minha amiga, deixando-a paralisada feito um poste. – Vai ficar para jantar?

Ela me encarou, a boca aberta como a de um peixe agonizante.

– Eu posso? – me perguntou num sussurro.

Arthur riu diante da minha pergunta , e foi ele quem respondeu:

– Não só pode como deve. Vai ser um prazer. Essa é a casa da Carla agora, ela pode receber quem quiser. Vamos subir? – e indicou o elevador.

– Tá bom – ela disse sorrindo. Abraçou minha cintura e sussurrou: – Me diz que você já tirou uma casquinha, por favor!

Não tive certeza se Arthur ouviu. Rezei para que não tivesse escutado nada.

Viviane adorou o apartamento e aprovou a decoração despojada. Assim como eu, acho meu quarto um pouco sem personalidade, mas viu potencial e começou a ter milhares de idéias de decoração de baixo custo. Ela adorava mudar ambientes aproveitando o que já tinha e gastando pouco. Eu sempre opinava a respeito de tudo, afinal cinco anos de faculdade me serviam de alguma coisa.

Arthur pediu comida chinesa e se negou a aceitar que eu pagasse minha parte.

– Nunca imaginei que seria assim – Viviane soltou, enquanto comíamos na pequena mesa de jantar. – Quer dizer, a vida de casada. Não é tão ruim, Carla .

– Ãrrã – murmurei distraída.

Arthur largou os hashis na hora .

– Tem algo te incomodando? – me perguntou. Não estava bravo nem parecia triste. Apenas curioso.

– Não. Mas isso aqui não é bem um casamento. É mais como um alojamento. Imagino que casamento seja diferente.

– Diferente como? – ele quis saber, voltando a comer.

– Pra começar, as pessoas normalmente estão apaixonadas e dormem na mesma cama – apontei.

Ele refletiu por um momento, engoliu a comida e acrescentou:

– E com certeza o marido não ficaria surpreso se flagrasse a esposa nua na cozinha.

– Provavelmente não – concordei.

– Você ficou pelada na cozinha? – Viviane sussurrou, mesmo estando sentada a dois palmos de Arthur .

– Antes que sua imaginação viaje e não volte mais, não foi bem assim. Eu pensei que o meu querido" marido" já tivesse saído e não fosse mais voltar. – Voltei-me para ele. – E eu já disse que isso não vai mais acontecer.

– Não acredito que você não me contou, Carla . Você sabe como estou ansiosa por detalhes – resmungou ela, sem notar a surpresa estampada no rosto de Arthur .

– Detalhes de quê? – ele quis saber.

Ela corou ao notar seu lapso.

Suspirei exasperada.

– Não é nada, Arthur . A Viviane adora viver no mundo do faz de conta. Ela está esperando que a gente se apaixone perdidamente um pelo outro. Ela lê horóscopo todo dia e acredita que borboletas são sinais de alguma coisa – revirei os olhos. – É só ignorar que ela acaba cansando.

Ele me lançou um olhar inquisitivo, e havia um pequeno sorriso em seus olhos quando disse:

– Vou tentar.

– Ah, Carla , eu só queria que você fosse feliz. Nos últimos meses você ficou órfã, pobre, virou assalariada e está sem carro. E ainda teve aquela confusão em Amsterdã um pouco antes. É errado querer que a sua melhor amiga tenha uma vida feliz?

– O que aconteceu em Amsterdã? – Arthur perguntou a ela.

– Nada! – gritei, ao mesmo tempo em que Viviane dizia:

– Ela foi presa injustamente.

Ele me fitou, intrigado.

– Presa? Parece que eu devia ter dado uma olhada no seu atestado de antecedentes criminais – e uma de suas sobrancelhas se arqueou.

– Muito obrigada, Viviane Queiroz ! – resmunguei.

– Eu não sabia que ele não sabia – ela se encolhe na cadeira. O rosto anguloso estava rubro como sangue. – O seu avô ficou tão irado na época que pensei que todo mundo soubesse. Saiu nos jornais e tudo, poxa!

– O que aconteceu para você ser presa em Amsterdã? – Arthur inquiriu.

Suspirei.

– Ninguém nunca vai esquecer essa história?

Ele apenas me observou com o rosto impassível, brilhando de obstinação, esperando por um
esclarecimento. Arthur tinha que me ensinar como fazer aquilo. Era muito eficiente. Talvez eu pudesse usar com Carlos e fazer com que ele ficasse do meu lado...

– Tudo bem – bufei. – Conheci um cara em Dublin, um australiano. Acabamos viajando juntos para vários lugares de Europa. Quando chegamos em Amsterdã, não sei se foi pelo clima liberal ou pela quantidade de chás exóticos que tomamos, mas o fato é que acabei... ficando com ele onde não devia.
Baixou polícia e fomos presos. O vovô mandou três advogados pra me livrar da confusão. Fim da história.

– Quando você diz ficou... quer dizer... – disse ele, cruzando os braços sobre o peito.

– Quero dizer que estávamos quase nas estrelas,Arthur .

Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora