Capítulo 24 [Parte 1]

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Capítulo 24

[Parte 1]

- Carla ? – Arthur  chamou, batendo na porta do banheiro.

- Tô terminando de arrumar o cabelo. Só um minuto! – Decidi não fazer nada de especial nos cabelos para o jantar com Arthur  naquela noite. Porém deixa-los soltos, perfeitamente lisos e naturais tomava algum tempo. Desliguei a chapinha e escovei-os uma ultima vez. Olhei-me no espelho e fiquei satisfeita com o resultado. Fechei o roupão negro mais firmemente e abri a porta.

Arthur  havia saído uma hora antes. Disse que precisava resolver um problema de última hora, mas que voltaria a tempo.

- Eu me visto em dois segundos... ei! Você já tá pronto! – exclamei assim que o vi em seu terno escuro perfeitamente alinhado e totalmente sexy. Parecia ter saído de um anuncio de revista.

- Não tem muita coisa que eu possa fazer para melhorar – ele disse, parecendo sincero em sua modéstia, o que era um absurdo, já que Arthur  era tudo aquilo. Qualquer ator de Hollywood se descabelaria para ter aquele rosto, ou aquele corpo, ou aquela voz, ou aqueles cabelos... – Você está muito bonita.

Sorri.

- Imagina o frisson que vou causar aparecendo no restaurante vestida assim...-brinquei. Ele sorriu em resposta. - Fico pronta em um minuto.

- Não precisa ter pressa. Estamos bem de tempo.

- Tá. Já volto.

Arthur  esteve um pouco distante o dia todo,não que alguma vez tenha estado próximo. Tudo bem, eu estava bêbada na noite anterior e meio que o ataquei, mas não tão fora de mim a ponto de não saber o que havia feito. Eu sentia o rosto queimar toda vez que me lembrava de como tinha me jogado em cima dele e como ele havia me rejeitado. Envergonhada até a medula, me obriguei a lhe pedir desculpas pela manhã , enquanto ele tomava seu café preto. Meu estomago revirou ao sentir o cheiro e minha língua seca salivou desagradavelmente.

- Arthur , sobre ontem à noite, eu...

- Eu sei.

- Não sei o que deu em mim. Acho que...

- É, eu sei. Não se preocupa. Está tudo bem.

- Poxa, Arthur – suspirei pesadamente e sorri. – Fico aliviada por termos tido essa conversa.

Depois disso, ele agiu como se nada tivesse acontecido, e, claro, fiz o mesmo, mas me magoava um pouco o jeito como ele parecia querer se manter longe de mim.

Eu me enfiei em meu quarto jogando o roupão no chão e procurando os sapatos para combinar com o vestido que havia usado no casamento, o único mais arrumado que eu trouxera da minha antiga vida. Não havia pegado muita coisa de vovô. Pensei que, como fora deserdada, não precisaria de roupas formais enquanto estivesse – eu tinha que admitir de uma vez pobre.

Eu sou pobre.

Aceitar isso não surtiu o efeito que eu esperava. Não me senti melhor ao admitir minha nova posição. Dei de ombros e me sentei na cama, esmagando uma sacola.

- Mas o quê...? – Eu não havia deixado aquilo ali. Na verdade, nem conhecia aquela sacola cor de areia decorada com letras vermelhas. Peguei-a com cuidado, alcancei o pacote envolto em papel de seda e desembrulhei-o lentamente, até ver surgir o delicado vestido preto. Meu queixo caiu quando eu reconheci.

Avancei correndo para a porta, mas me detive a tempo, antes de aparecer diante de Arthur  usando apenas calcinha. Vesti o roupão apressadamente e voei para a sala.

- O que é isso? – perguntei.

Ele estava mexendo em seus CDs. Não se moveu quando disse:

- Eu acho que se chama vestido.

- Eu sei que é um vestido. Eu quero saber o que ele estava fazendo na minha cama.

- Eu pensei que você quisesse esse vestido...

- Essa não é a questão. Ele é lindo, Arthur , mas eu não posso pagar. – Era irritante a forma como ele evitava olhar para mim.

- E não vai. É um presente, Carla . Você devia experimentar e ver se eu acertei o tamanho.

- Arthur ! Quer fazer o favor de olhar pra mim? – exigi, furiosa.

Ele deixou a pilha de CDs e lentamente se virou. Seu olhos estavam hesitantes.

- Por que você me comprou esse vestido? – eu quis saber.

- Porque eu quis – ele deu de ombros, jogando uma das caixinhas de CD sobre a estante.

- Ele custa mais que três salários meus. É caro demais. Isso é... – olhei para o vestido em minha mão, Arthur provavelmente saíra ainda há pouco para ir busca-lo. Engoli em seco. – É lindo, mas eu não posso aceitar.

- E por que não? Eu sou seu marido, posso comprar o que quiser para a minha esposa. É algum crime? – ele perguntou mais relaxado, cruzando os braços sobre o peito largo.

- Se a gente fosse casado de verdade, talvez não. Mas você sabe tão bem quanto eu que não passamos de... amigos que dividem o apartamento. Não posso aceitar – estiquei o vestido para que ele pegasse.

Arthur  passou a mão pelos claros e suspirou. Deu alguns passos, até ficar com o peito largo a dois palmos do meu nariz.

- Carla , essa noite é importante pra mim. Muito importante. Muita gente respeitável da empresa em que nós dois trabalhamos vai estar lá para me avaliar. Você é minha mulher, para todos os efeitos. Você é meu reflexo – ele sorriu.

- Mas...

- Quero que todos te vejam como você realmente é. A garota linda e carinhosa que raramente se deixa ver, porque se esconde atrás do sarcasmo. E esse vestido é só um presente, não precisa ficar preocupada. Não estou tendo algum tipo de ideia que vá além do que o nosso acordo permite. Realmente não estou.

- Mas, Arthur , eu...

- Você usaria esse vestido como um favor a um amigo? Só para eu me sentir mais seguro. Já estou ansioso o bastante. – Seus olhos brilharam tanto que quase me cegaram.

Claro que ele não estava tendo ideias. Apenas queria exibir uma mulher bem-vestida. Nada mais. Seu gesto atencioso não passava de uma tentativa de se sentir mais seguro.

- Tudo bem – concordei, irritada. – Eu... Obrigada pelo vestido. Vou... – e apontei para o meu quarto com o polegar.

- Eu espero – ele sorriu.

Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora