Capítulo 53

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Capítulo 53

Por um momento eu achei que tivesse presa num pesadelo. Tudo aconteceu tão rápido e de repente desacelerou, como em câmera lenta. Até a bala que vinha na direção da minha cabeça se movia lentamente. Fiquei esperando o tal filme da minha vida começar, louca pra relembrar os momentos felizes, mas o que vi se desenrolar à minha frente foi muito mais assustador do que todas as piores memórias juntas.

Antes que eu pudesse piscar, um ombro largo bloqueou minha visão e mãos fortes agarraram meus braços, seu peso me fez perder o equilíbrio e seguir em direção ao piso frio de mármore. Ouvi o som aterrorizante de carne e músculos sendo dilacerados pelo projetil. Escutei o gemido de dor. Então encontrei aqueles olhos castanhos me observando, espantados.

- Não! – tentei gritar, mas estava sem ar. Na queda, seu peso me fez perder o fôlego.

O corpo de Arthur  ficou mole sobre o meu. Tentei empurrá-lo para o lado, para que eu pudesse acudi-lo, mas não consegui. Ele piscava muito, tentava não gemer. Eu não conseguia ver onde a bala o atingira.

O mundo voltou a girar, veloz e assustador. Alguém caiu. Vicky . Viviane  se abaixou atrás do sofá, e Hector, ignorando a idade e o bom-senso, estava lutando com Carlos , tentando desarmá-lo. Os seguranças se entreolhavam sem saber o que fazer.

Arthur omeçou a se mover, tentando sentar, a mão pressionada sobre o ombro esquerdo, os olhos presos no embate entre carlos e Hector. Antes que ele decidisse se levantar e tentar salvar o mundo, procurei qualquer coisa que pudesse usar como arma para atingir Carlos , que acabara de empurrar Hector com violência, derrubando-o ruidosamente. Hector gemeu.

- Você não devia ter me desafiado! – bramiu Carlos , subitamente à minha frente.

- Arthur , não! – gritei, mas não fui rápida o bastante.

Arthur  se lançou sobre Carlos , desajeitado, e acabou acertando um soco naquela cara redonda. Carlos balançou, e Arthur  usou o peso do próprio corpo para derrubá-lo. O punho de Arthur  encontrou o nariz de Carlos  uma, duas, muitas vezes. Carlos  era menor, porém mais pesado e, em sua insanidade, forte como um mamute. Eles trocavam socos e chutes, e eu não conseguia me meter entre os dois, com medo de que Arthur  se ferisse ainda mais. Em algum momento, avistei a arma ali no meio. Era como naqueles filmes em que o bandido e o mocinho se engalfinham, e em seguida haveria um tiro. Um dos dois estaria morto. Eu não podia permitir que isso acontecesse.

- Chamem a polícia! – ordenei aos dois seguranças abobalhados. Eles se entreolharam novamente e, depois de um minuto de hesitação, um deles deixou a sala. O outro observava a luta, sem saber emquem deveria atirar.

- Faz alguma coisa! – gritei para ele, que assentiu e correu em direção a Hector.

- Ela... não... vai... ficar... com meu dinheiro – grunhiu Carlos , conseguindo se colocar sobre Arthur  e envolvendo seu pescoço com uma das mãos gordas, enquanto a outra alcançava a arma, que caíra no chão por um microssegundo.

Tomando impulso, voei sobre Carlos , derrubando-o meio de lado. Acertei-o como pude, no estomago, no queixo, na orelha, nas costelas. Ele tentou apontar a arma para mim, mas mãos grandes e fortes o impediram. Arthur  se esforçava para desarmar Carlos  enquanto eu tentava nocauteá-lo. Os ossos de minha
mão estalaram, mas eu não senti a dor. Numa última tentativa, Carlos conseguiu enviar o joelho entre minhas costelas e eu caí, sem fôlego.

Arthur hesitou ao me ver arfando em busca de ar, e Carlos  se aproveitou, atingindo-o no nariz, deixando-o atordoado o suficiente para se livrar de suas mãos. Carlos se colocou de pé, meio torto, trôpego, ensanguentado, os olhos injetados presos aos meus. Então seus lábios se curvaram para cima, num sorriso diabólico. Ele ergueu o braço lentamente, apontando o cano do revólver para mim.

Fechei os olhos e esperei que tudo acabasse.

Um baque surdo e um gemido me fizeram abrir os olhos. Carlos  estava caindo, os olhos revirando nas órbitas. Arthur  estava em pé bem atrás dele, arfante, ferido. O vaso de prata - pesado e maciço - pendeu de sua mão e caiu a seus pés. Carlos  desabou, mole, soltando a arma, os olhos fechados, a boca entreaberta.

Arthur  chutou o revolver para longe antes de entregar os pontos e se deixar afundar no chão. Corri para ele, desabalada.

- Arthur , fala comigo! – pedi, me agachando a seu lado, tocando seu ombro e encharcando minhas mãos de sangue. Observei-as por um momento onírico, tomada pelo mais absoluto horror. – Ah, Deus, não!

- Shhh... – ele gemeu com a voz engasgada. – Estou... bem. Não se pre...ocupe.

- Não fique aí parado como um idiota! Chame ajuda! – ouvi Hector dizer. Talvez ele se dirigisse ao segurança, eu não conseguia desgrudar os olhos de todo aquele sangue. Meu coração batia num ritmo alucinante, doía, sangrava. Arthur  sangrava. E era minha prioridade.

- Ah, não! Você, não! – chorei, saindo do torpor, quando percebi que ele pretendia se sentar. Eu o empurrei o mais gentilmente que pude de volta para o chão, estendo as pernas embaixo de sua cabeça na tentativa de deixa-lo o mais confortável possível, quando vislumbrei a enorme ferida em suas costas, no meio do ombro. – Não!

- Estou bem... Não chora – ele ofegou, num esforço hercúleo para soar menos agonizante. Seus olhos estavam fixos nos meus. Seu rosto estava coberto de sangue. Sangue dele, de Carlos , eu não fazia ideia.

- Por favor, não morre! – implorei

Ele sorriu brevemente.

- Não vou morrer. Prometo. – Mas uma poça de sangue se formava no mármore branco.

- Ah, meu Deus! O Carlos  matou o Arthur ! O Carlos  matou o Arthur ! – ouvi Viviane gritar histericamente.

- O Arthur  está ferido, mas está consciente – Hector tentou acalmá-la.- Ele vai ficar bem. Acalme-se, querida, você só está tendo uma noite ruim – e tentou se endireitar.

Tentei mudar de posição para que Arthur  ficasse mais confortável, se é que isso era possível, mas ele me interpretou mal.

- Fica comigo - pediu, com a voz mais controlada.

Lagrimas turvavam minha visão. Eu assenti freneticamente.

- Fico. Pra sempre,Arthur!

Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora