Capítulo 16
[Parte 3]
Arthur sacudiu a cabeça levemente, esvaziou sua taça e perguntou:
– Como era seu relacionamento com seus pais?
– Não me lembro de muita coisa. Eu tinha cinco anos quando eles morreram, mas lembro que a minha mãe sempre brincava comigo,
principalmente brincadeiras com maquiagem. o meu pai lia histórias quando me colocava na cama. Eu detestava as histórias que ele contava. Normalmente ele gostava de ler Dostoiévski ou Tolstói – eu ri. – Que criança gosta desse tipo de literatura? Mesmo assim, nunca falei nada. Meu pai era ocupado, passava pouco tempo em casa. O vovô é quem sempre esteve por perto. Até dois meses atrás – suspirei.– Sinto muito, Carla – ele disse, tocando minha mão e deixando a sua ali. Era quente, macia e tão grande que engoliu a minha. – Não consigo imaginar como isso tudo te machucou.
Fiquei imóvel. Seu toque abriu as comportas do meu autocontrole, e de repente eu queria contar toda a minha vida, para que ele me conhecesse de verdade.
– Eu era pequena demais e não entendia bem o significado da morte, que nunca mais veria meus pais. O vovô me levou pra morar com ele na mansão e fez tudo que pôde para que eu fosse feliz. Ele já era viúvo na época. Tivemos dias bem ruins, como nas datas comemorativas, meu aniversário, Natal... Na semana do Dia das Mães, eu inventava uma história pra não ir para o colégio. Fazia o mesmo drama no Dia dos Pais. É claro que o vovô sabia que eu estava mentindo quando dizia que tinha pegado um tipo de malária sueca que impossibilitava meu cérebro de aprender coisas novas, e a única forma de me curar era ficar em casa e tomar muito sorvete, mas ele nunca disse nada. Sempre trazia potes e mais potes de sorvete e comia comigo, dizendo que era pra se prevenir da doença.
– Ele foi um ótimo avô. Você teve muita sorte – sua mão continuava sobre a minha.
– Sem contar essa questão do testamento... – tentei sorrir. – A gente era muito ligado,Arthur . O vovô sempre esteve comigo. Acho que eu não quis pensar que um dia ele poderia... não estar mais – dei de ombros. – Sei que não ando me saindo muito bem sem ele por perto, mas, acredite, estou tentando fazer o melhor que posso.
Ele me lançou um olhar quente, carinhoso e cheio de promessas. Promessas que não pude compreender.
– Eu sei disso.
Eu estava nervosa com a intensidade que vinha dele, não apenas dos olhos, mas de todo ele. Era como se algo realmente físico saísse de seu corpo e me tocasse. Peguei minha taça com a mão livre para ter alguma coisa para fazer que não fosse olhar para aquelas esmeraldas caleidoscópicas, mas meu vinho tinha acabado. Arthur notou e soltou minha mão para servir um pouco mais. Por um instante, me senti em queda livre.
– Humm... me conta sobre você – pedi. – Como é sua relação com seus pais?
– Eles estão muito orgulhosos do que já conquistei. E ficaram contentes ao saber da sua existência.
Fiquei encarando seus olhos enigmáticos por um tempo, até que – não faço idéia do porquê – me ouvi indagando:
– Você tem namorada?
Ele pareceu surpreso.
– Não. – Suas sobrancelhas se arquearam um pouco. – E você?
– Não.
– Que bom! Seria um problema se tivesse. – Meu coração se encheu de calor com aquelas palavras. Contudo, logo a quentura se foi. – Como a gente ia sustentar a mentira se você tivesse um amante?
– Ia ser complicado. Mas não tenho ninguém há muito tempo, quer dizer, alguém sério. Se você quiser... sei lá... – clareei a garganta para que a voz não saísse tão esganiçada – namorar alguém meio escondido, tudo bem. Um ano é bastante coisa.
– Não se preocupa comigo. Você... – ele inclinou a cabeça para que nossos olhos ficassem na mesma altura – pretende sair com outra pessoa?
Com outra pessoa. Não com alguém, mas com outra pessoa.
– Não estamos saindo, Arthur . Você e eu, quero dizer – mas sorri.
– Você entendeu – ele disse constrangido, tomando mais um pouco de vinho.
– Minha vida tá uma confusão. Não quero me envolver com ninguém agora – mas então ele poderia pensar que eu não estava disponível para ele e isso não seria bom,afinal meu querido marido não é de se jogar fora . – Quer dizer, se rolar... – dei de ombros, só para deixar claro que eu não estava, de forma alguma, fechada para o mundo. Eu estava ficando louca!
Ele sorriu.
– Você nunca planeja nada, não é? Deixa tudo acontecer. Acho isso fascinante!
Fascinante era a forma como ele me encarava. Oh, Deus, o vinho estava me deixando em chamas.
– É uma das coisas que admiro em você – ele continuou. – Essa sua espontaneidade, essa vida que transborda dos seus olhos – e me lançou um sorriso torto, que me atingiu como um taco de beisebol.
– Você... me admira? – perguntei baixinho e muito, muito surpresa.
– Que tipo de idiota eu seria se não admirasse uma garota com tanta personalidade é uma atitude impetuosa ? – Ele tocou de leve a ponta do meu queixo com o indicador. Foi como ser tocada por um fio desencapado. Um tremor
desconhecido percorreu todo o meu corpo. – Te vejo amanhã. – então se levantou e foi para o quarto.Permaneci onde estava, aterrorizada. Um súbito calor inundou meu peito, uma cálida sensação de proteção, e mais alguma coisa que eu não conseguia nomear, começavam a brotar em meu coração.
- Boa noite – murmurei após ouvir a porta se fechar.
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Procura-se um marido-Carthur (Finalizada )
General FictionSinopse: Carla Carolina Moreira Diaz sabia como curtir a vida,ela já havia viajado o mundo todo.Ela é mimada e inconsequente,ama uma balada e é louca pelo seu avô,Um rico empresário de grandes posses e de quebra a única família da garota. Como o seu...