Capítulo 19 [Parte 2]

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Capítulo 19

[Parte 2]

Só notei como eu tremia quando estava longe o suficiente.

Não, eu não queria mesada. Porém não era isso que ferroava meu cérebro, insistentemente exigindo atenção. Era Arthur e seu futuro. Mas o que eu podia fazer? Ele era adulto, tomara sua decisão. E eu, a minha. A culpa não seria minha se acontecesse alguma coisa com ele, seria?

Seria. Eu sabia que sim. Ao responder meu anúncio, Arthur havia se colocado em risco. Qualquer outra garota que ele encontrasse para ser sua esposa temporária não lhe traria os mesmos problemas que eu. Apesar de não amá-lo, eu não queria fazê-lo pagar por um erro meu.

Andei a esmo pelas ruas, sem saber pra onde ir. Eu queria tanto conversar com alguém... Na verdade, queria conversar com alguém em especial.

Subi no primeiro ônibus que encontrei – mais vazio agora, até consegui um lugar para me sentar. A viagem foi curta, e assim que desci no ponto comprei um maço de rosas amarelas da florista que aguardava os visitantes sob a sombra de um exuberante ipê-rosa, já com os primeiros botões desabrochando timidamente.

Não foi difícil encontrar o jazigo da família no cemitério no centro da cidade. Eu o visitava desde os cinco anos. Agora, porém, tinha recebido a adição de uma nova placa. Depositei as flores sobre ela e me sentei na grama bem aparada. Dava pra sentir que a terra ainda não havia se acomodado completamente ao novo espaço.

Era um lugar calmo. Árvores altas e majestosas deixavam o espaço agradável. O silêncio era profundo, e nem mesmo o alvoroço caótico do tráfego lá fora perturbava a paz do ambiente.

Suspirei e abracei os joelhos.

- Eu queria que você estivesse aqui – falei, olhando para o nome na lápide. – Você me deixou um problemão, Sr. Pedro . E devia estar aqui para me ajudar a resolver.

Eu não tinha intenção de prejudicar Arthur para conseguir o que queria. Não tinha intenção de prejudicar ninguém, na verdade. Só queria que minha vida voltasse ao normal – ter um lar outra vez, talvez comprar um carro e dar adeus ao transporte público. Arthur era um homem bom, e colocá-lo numa posição complicada era a última coisa que eu desejava.

- Espero que a vovó tenha te dado uma bronca pelo que você fez. Agora o Arthur está encrencado também. Está me ouvindo, vovô? Ele vai se prejudicar por culpa daquele testamento ridículo! Droga!

Sem que me desse conta, os soluços se intensificaram, e as lágrimas desciam mais rápido do que eu conseguia secá-las. Desisti e deixei que caíssem livremente. Eu sentia medo, raiva, vergonha. Raiva do que eu havia feito. Vergonha e medo ao constatar que vovô sempre esteve certo, eu era uma irresponsável que arruinava a vida das pessoas para conseguir o que queria. Eu era um verme. Um verme solitário.

- Queria que você estivesse aqui para me abraçar e me dizer o que fazer. – Mas ele não estava.

E nunca estaria.

Nesse instante, uma borboleta azul pousou sobre a lápide. Contraí-me imediatamente. Ela permaneceu sobre a placa, batendo as asas preguiçosamente.

- Sinto sua falta,vovô – murmurei, secando o rosto e me colocando de pé.

- Desculpa ter dito que te odiava. Eu não te odeio. Só estava furiosa por você ter morrido. Eu... preciso de ajuda, vovô. Tenho que contar ao Arthur tudo que Carlos me disse e não sei como resolver essa confusão.Mas preciso descobrir antes que as coisas piorem.

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Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora