Capítulo 34

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Capítulo 34

A noite não saiu como eu havia esperado. Arthur  não me beijou nem nada disso, mas não tinha sido um prejuízo total. Aqueles momentos foram preciosos, íntimos demais para simples amigos. Era como se eu tivesse conseguido finalmente perfurar sua armadura e, através dessa pequena rachadura, algo magico nos conectasse. Senti uma vontade louca de contar tudo a ele. Tudo mesmo. Meus sonhos, meus medos, meus problemas, o que Carlos  havia dito sobre sua carreira, minhas suspeitas em relação a Hector, minhas neuras, as conversas como vovô enquanto eu dormia... Sentia que ser honesta com ele era o melhor caminho para chegar ao coração.

Mas e se ele não entendesse? E se me odiasse por, ainda que indiretamente ter melado sua promoção e colocado em risco sua carreira?

Apressada, me levantei da cama, decidida a arriscar o pouco que tinha conseguido para tentar algo mais profundo, mais solido e, quem sabe, extraordinário. Eu não aguentava mais viver daquele jeito, como se me equilibrasse no fio de uma navalha.

Encontrei Arthur  sentado ao balcão da cozinha, com uma pilha de envelopes na mão.

- Bom dia, Bela Adormecida. Dormiu bem? - ele perguntou, com um sorriso enorme.

Quase desisti.

Quase.

- Bom dia. Eu preciso falar com você.

- Temos tempo. Por que não senta e toma o café da manhã comigo? - ele puxou o banco para que me sentasse ao seu lado.

Sentei-me quicando no banco alto. Minha coragem começava a fraquejar.

Arthur  me passou uma xicara de café fumegante e pão integral. Seu dedo esbarrou na geleia de framboesa. Ele levou o dedo à boca e lambeu, me deixando - por aproximadamente dez segundos - em êxtase. Meu Deus, como meu marido era sexy!

Respirei fundo e tentei começar.

- Arthur , eu queria falar com você sobre um assunto muito chato.

- Tudo bem... Ei, olha! – ele exclamou, me mostrando um grande envelope Conglomerado Moreira Diaz . - O Hector me convidou para a festa anual do conglomerado! Isso nunca aconteceu antes. Será que significa
alguma coisa?

- Pode ser. O Hector conhece você e o seu trabalho. – Ou talvez queira avaliar mais de perto nosso relacionamento. - mas voltando ao assun...

- Diz aqui que a minha esposa deve estar presente – ele sorriu, sedutor. Como se precisasse se esforçar para me seduzir – você me concede essa honra? É no sábado.

- Hã... Tudo bem.

- Os diretores de todas as empresas do Conglomerado Moreira Diaz vão estar presentes. É um pouco intimidador, mas é tradição.

- Eu sei, já estivesse em muitas festas iguais a essa. Na verdade acho que em todas. – Vovô Pedro sempre me arrastava com ele, desde pequena. Achava que não havia mal algum em ter uma pirralha correndo de um lado para o outro, melecando com glacê os caros vestidos das mulheres.

- Ah, claro – de repente seu bom humor se foi e seu rosto se tornou duro – Às vezes esqueço que você é herdeira de tudo aquilo.

- Eu só fui a todas as festas porque o vovô era dono de tudo, não eu. Nunca fui convidada realmente. Nem mesmo para a desse ano.

Sua expressão se suavizou um pouco.

- Bom, estou te convidando. Claro, se você não tiver vergonha de aparecer diante de toda aquela gente acompanhada por um plebeu – apontou.

Demorei um segundo a mais que o necessário para entender. Arthur estava nos separando por classe social. Por isso minha voz saiu tão esganiçada quando resmunguei:

Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora