Capítulo 25 [Parte 2]

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Capítulo 25

[Parte 2]

- Não fica assim, Carla . Estou bem com tudo isso.

- Ãrrã - murmurei, roendo a ponta do dedo, sem me atrever a olhar para Arthur .

Assim que entramos em casa, ele quis comemorar sua não promoção com o que restara de cerveja. Eu o acompanhei, ainda tentando analisar meus sentimentos, mas era impossível, porque Arthur era devastadoramente sexy e embaralhava meus pensamentos a cada sorriso que me dirigia. E descobri que, quando se excedia na bebida, ele ficava muito mais comunicativo e sorridente. E, mesmo naquele estado de embriaguez, era inteligente, bem-humorado, educado, ria de si mesmo o tempo todo e era muito atraente. Em outras palavras, eu estava totalmente de quatro por ele e não conseguia pensar em mais nada a não ser nele. Argh!

Quando a cerveja acabou - para meu eterno alívio -, me despedi cordialmente e me tranquei no quarto. Precisava fica sozinha, precisava entender o que estava acontecendo comigo e de algum modo tentar afogar aqueles sentimentos, embora suspeitasse de que já não havia essa possibilidade.

Por um tempo, me limitei a ir e vir aos tropeções - Arthur  não fora o único a ficar ligeiramente bêbado - no pouco espaço existente entre a cômoda e a cama. Depois chutei os sapatos para longe e me joguei no colchão, ainda com a roupa que usara no jantar. Fechei os olhos, encostando a cabeça na cabeceira da cama.

Como eu poderia ter me apaixonado por Arthur ? Como? Como pude ser tão idiota? E que chance eu tinha de conquista-lo agora que causara - ou causaria - sua ruína profissional?

- Você não teve culpa - disse uma voz familiar. Uma voz de que eu sentia muita falta. Terrivelmente.

Abri os olhos. Foi quando o vi sentado ali, na minha cama.

- Vovô! Gritei, pulando para abraça-lo. Enterrei o rosto em seu pescoço e inspirei profundamente. Seu cheiro estava diferente, mais adocicado, lembrando flores, mas não me importei. Então me dei conta de que ele não podia estar ali.

- Você está aqui falando comigo? - olhei em volta e meu quarto parecia absolutamente normal.

- Estou - ele sorriu.

- Por quê? Eu morri? - Não me lembrava de ter morrido, mas sei lá, nunca se sabe.

Ele gargalhou alto. E o som daquela risada tão amada fez meu tremor diminuir um pouco.

- Você não morreu, Carla . Estou aqui porque você pediu minha ajuda. Eu jamais deixaria de atender um
pedido seu.

- Mas... mas... vovô - engoli em seco -, você meio que está... hã... morto. Não pode estar aqui, ainda que eu esteja imensamente feliz em te ver.

- Meu corpo está morto. Minha alma, não - ele apontou. – Você nunca prestou atenção nas aulas de
religião?

- Senti uma falta danada das suas broncas. - Eu estava mesmo falando com vovô ou havia enlouquecido? Eu não sabia se era fruto da minha imaginação, um presente do meu subconsciente para preencher a lacuna deixada por sua morte ou um sonho, daqueles bem realistas. Fosse o que fosse, eu estava mais que feliz em vê-lo naquele momento. - Sinto sua falta todo santo dia. Ando me sentindo tão sozinha e ... sem rumo.

- Eu sei - ele sorriu, acariciando minha cabeça. Do mesmo jeito que eu sentira mais cedo, no banheiro do Le Jacques. - Por isso estou aqui. Aconteceram coisas desagradáveis essa noite, não foi?

Revirei os olhos, entrelaçando meus dedos aos seus. Não eram tão quentes como eu me lembrava.

- Nem me fale! O Carlos  ferrou com a promoção do Arthur  porque eles se desentenderam uns dias atrás. Ele pensa que o Arthur é uma pessoa ruim por ter casado comigo... Diz que está preocupado comigo. Aí ele faz uma coisa dessas! Ele adorou o que fez hoje. Eu vi nos olhos dele. Ele adorou ver o Arthur  cair. Vou matar aquele filho da p...

- Carla , isso não é jeito de se expressar - vovô me interrompeu. - Eu gastei uma pequena fortuna com a sua educação. Use-a – seu rosto ficou sério.

-Você disse que estava aqui para amparar... – apontei.

- Por que você não conversa com o Arthur sobre o que está te afligindo? Conte a ele tudo que o Carlos lhe disse hoje. Isso deve ajudar.

- O quê? Não! Isso é... totalmente o oposto de ajudar! É justamente o que eu não quero que aconteça. Contar ao Arthur que ele não foi promovido por minha culpa vai estragar... hã... meus planos. Não tem nada mais útil do que dizer a verdade aí no além? Você não pode, sei lá, fazer o Carlos  agir como você quer, ou quem sabe possuir o cara pra desfazer a confusão?

Foi a vez dele de revirar os olhos.

- Você é impossível – riu. Naquele instante eu estava absolutamente feliz.

- Você está bem? – perguntei. – Está gostando desse... outro plano?

Ele assentiu.

- Mas estarei por perto enquanto você precisar de mim.

- Eu sempre vou precisar de você – rebati, sentindo o coração se aquietar.

- Nem sempre, querida. Você vai crescer um dia.

O alarme do rádio-relógio no quarto de Arthur  tocou. Dei um pulo na cama, abrindo os olhos, desorientada. Olhei em volta, procurando por meu avô, mas ele não estava ali. O sol já entrava pela fresta da janela. Esfreguei os olhos, tentando entender.

Um sonho. Fora apenas mais um sonho. No entanto, nunca me parecera tão real.

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Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora