Capítulo 20 [Parte 3]

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Capítulo 20

[Parte 3]

Ele hesitou, visivelmente preocupado.

– Tudo bem – toquei seu braço. – Não tem problema contar os para seus pais. Eu não me importo.

– Eu prefiro deixar tudo como está – ele levantou uma sobrancelha.

Entendendo o recado, eu disse:

– Qual é, Arthur ? Que mal há em contar pra eles como nos conhecemos? – sorri, tentando parecer
tranquila.

Ele me fitou, me lançando um olhar de cautela. Assenti brevemente para assegurar a ele que eu tinha tudo sobre controle. Afinal, tínhamos mesmo uma história. Eu não estava mentindo em nada. Não totalmente.

– Eu conheci o Arthur  no meu primeiro dia de trabalho – comecei. Quatro pares de olhos grudaram em mim. O de Arthur  era o mais atento. – Trombei com ele no corredor.

– Que jeito mais besta de conhecer o grande amor da sua vida – Christopher  zombou quando ouviu meu relato .

Corei. Não ousei olhar para Arthur , mas senti que ele enrijeceu ao meu lado. De onde o garoto tirou aquela ideia? , me perguntei, sem encontrar resposta.

– Bom... – continuei – eu tinha acabado de sair da sala da copiadora, não sei se o Arthur  já contou sobre a sala treze. Ela é apavorante. Claustrofóbica e quente com um grande caldeirão... Eu tinha uma pilha de papéis nas mãos e estava furiosa com a minha supervisora, a Karol , aquele doce de pessoa, por ter me chamado de meu bem. Odeio quando me chamam assim. Eu estava distraída andando pelos corredores e acabei colidindo com o seu irmão. Meus papéis e os dele caíram no chão.

– Que clichê – Christopher  disse, enfiando mais comida na boca.

– É, bem ridículo mesmo. Então o Arthur , muito gentil e educado – olhei para ele rapidamente e um pequeno sorriso debochado brincou em seus lábios, se mostrando mais relaxado –, me ajudou a recolher tudo. Mas eu estava furiosa com a Karol , lembra? – Christopher  assentiu. – e decidi mostrar que ela não podia ficar me chamando de meu bem pra lá e pra cá. Então incluí, no meio dos papéis que eu tinha xerocado, uma cópia do meu... hã...

– Da sua bunda? – o garoto perguntou, mais interessado.

– Christopher ! – Alexandra e Victor censuraram.

Eu ri.

– Ia dizer traseiro... E o  encontrou essa cópia. Acho que foi assim que consegui chamar a atenção dele – brinquei.

– Não posso discordar – Arthur  disse, sorrindo divertido.

– Uau! - Christopher   encarou o irmão com os olhos brilhantes, cheios de orgulho. – Cara, você tem tanta sorte! Guardou a cópia? Posso ver?

–  Christopher! – censurou Arthur.

– Vocês viram o jogo de quarta-feira? Que palhaçada foi aquela? – José  tentou mudar de assunto e eu o agradeci mentalmente pelo fato da minha bunda não ser mais assunto .

Deu certo. Arthur  se lançou numa animada conversa sobre futebol. Ele adorava esportes, e seus pais compartilhavam do mesmo entusiasmo. Para minha surpresa, Arthur  era a maior entusiasta futebolística que eu já tinha conhecido.

  Christopher ficou calado, à margem da conversa, com o olhar distante.

– Ele não quis te chatear,  Christopher – comentei baixinho, sem querer interromper a conversa familiar.

– Ah, eu sei – ele sorriu um pouco. Era tão parecido com Arthur  que chegava a ser assustador. – Eu estava pensando no futebol. Se um dia vou voltar a jogar.

– Ah – eu disse, um pouco constrangida.

– Foi no ano passado – ele falou.

– O quê?

– Você deve estar se perguntando como um gato feito eu acabou numa geringonça como essa – ele fez um amplo gesto com a cadeira de rodas. – Foi num acidente no ano passado. Fraturei algumas coisas,
incluindo duas vértebras.

– Eu sinto muito.

– Eu também. Mas não sei se posso reclamar. Era pra eu ter morrido, segundo os médicos, e já melhorei bastante depois do acidente. Minha ortopedista disse que talvez exista uma esperança. Parece que a fratura na coluna não foi das piores, e talvez, depois que o inchaço desaparecer, eu consiga mover as pernas. O Arthur  faz tudo que pode pras minhas chances aumentarem.

– É mesmo? – Mas, de alguma forma, eu já sabia. Claro que Arthur  faria o impossível para ajudar o irmão caçula.

– É óbvio que tive que aguentar um sermão digno de novela mexicana antes disso – ele revirou os olhos. – Mas ele é um bom irmão. Me visita sempre, mesmo sendo tão ocupado, me liga todos os dias, paga todo omeu tratamento, minha fisioterapia, meus remédios. Meu pai é aposentado, sabe como é... – ele deu de ombros.

Eu fazia uma vaga ideia.

– Então, quer dizer que vocês dependem dele financeiramente – apontei. – Dependem do bom emprego de Arthur .

– Eu não usaria essa palavra – ele empertigou um pouco, seu orgulho ferido. Era como olhar para um Arthur  mais jovem, só que de cabelos pretos. – Mas sem a ajuda dele eu não poderia fazer o tratamento. E a Dra. Olenka está bem confiante no meu caso, acha que tem uma possibilidade de eu voltar a andar. Uma chance pequena, é verdade, mas eu não me importo. Uma é melhor que nenhuma, certo? – ele me disse, com os olhos transbordando de determinação.

Oh, Deus! Arthur  precisava muito do emprego.

Eu não valia nada. Ferrava com a carreira de Arthur , tirando a chance de melhora de seu irmão paraplégico, e mentia para seus pais, fingindo que Arthur  e eu éramos um casal. Eu era um verme. Pior! Era o verme que comia lagartas.

– Então, Carla , quando eu estiver andando todo gato por aí, talvez você queira repensar. Talvez decida lagar esse cara mal-humorado e experimentar o que há de melhor nos homens Louzada  Pícoli  – ele deu uma piscadela.

Tentei sorrir quando ele falou isso .

– Tentador,  Christopher. Mas vou recusar o convite. Gosto demais do seu irmão. – Infelizmente, a conversa sobre futebol cessara subitamente e, todos ouviram o fim da nossa conversa.

Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora