Capítulo 28 [Parte 1]

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Capítulo 28

[Parte 1]

Deixei o antiquário ao meio-dia e fui direto para a casa da Vivi , desejando evitar sequer pensar em Arthur , aquele filho da puta depravado. Ele era casado! Não lhe ocorreu que ele era casado? Ainda que fosse uma farsa, como ele pôde se esfregar naquela vagabunda?

Almocei com ela, e logo Marinez resolveu preparar um bolo para sobremesa.

- Carla minha filha , você está cada dia mais linda, sabia? – ela disse, adicionando farinha em uma tigela.

- Obrigada. Vindo de você, é um tremendo elogio. – Afinal, era para poucas mulheres exibir, aos quarenta e tantos anos, um corpo fantástico e uma pele perfeita como a dela.

- Sabia que a Viviane está saindo com um amigo seu? – ela começou, com o rosto inocente.

Minha amiga entrou na cozinha naquele momento e me lançou um olhar suplicante.

- Jura? Ela não me contou – menti.

- Hã... Mãe, a Carla e eu vamos sair um pouco, tudo bem? – Any perguntou ansiosa.

- Tudo bem, meninas. Quando voltarem, o bolo já vai estar pronto – Marinez respondeu um pouco decepcionada com minha falta de detalhes sobre a vida amorosa da filha.

- Tá, mãe. Vem, Carla – Vivi me puxou pela mão.

- Até mais, Mari.

Vivi queria esconder seu relacionamento da mãe quanto pudesse, já que não sabia bem o que estava rolando entre Ronan e ela . Claro que concordei em manter a boca fechada até segunda ordem. Acabamos indo para o parque municipal, lotado naquela tarde ensolarada.

- Como foi o jantar com o Arthur ? – ela perguntou enquanto nos esticávamos na grama, aproveitando ao máximo o sol.

- Não foi – suspirei – Arthur teve um encontro.

- O quê? Com uma garota? – ela apoiou no cotovelo, levantando os óculos escuros. Assenti. Seu rosto, normalmente luminoso, escureceu. – O que ele está pensando? Ele é casado!

- Foi exatamente o que eu pensei. Quer dizer, tudo bem que não somos mesmo casados, mas ainda assim, como ele pôde ter um encontro? Droga Viviane ! Eu sou uma esposa traída.

- Não posso acreditar! Simplesmente não posso acreditar! – cuspiu ela ofendida. Viviane era esse tipo de amiga. Meu calo, seu calo. Por essas e outras, eu tinha certeza de que ninguém no mundo tinha uma amiga melhor que a minha. – O Arthur foi um idiota. Pela primeira vez, ele foi um completo imbecil!

- E fica pior. Ele saiu com a Sarah . Ela trabalha com a gente no setor nove – me sentei, abraçando os joelhos.

- Ela... ela é bonita? – Viviane perguntou, cautelosa.

Dei de ombros.

- Loira, cabelão, peitão, bundão, cinturinha, magrela, atirada...

- Que tragédia! – ela colocou a palma da mão sobre a testa.

- Isso para não mencionar as roupas que ela usa. Fico pensando: se no escritório ela usa aqueles decotes, o que veste num encontro? Biquíni? Com certeza algo que exibia aqueles peitões. É só o que ela tem pra oferecer – resmunguei, despeitada.

- Deve ser silicone – Viviane se apressou.

- É! Com certeza são falsos! Mas, Vivi , isso não muda o fato de que o Arthur esteve com ela e não se importou com esse detalhe – murmurei, desviando os olhos.

Ela suspirou.

- Sinto muito Carla – e passou o braço ao meu redor. Descansei a cabeça em seu ombro, e ela apoiou o queixo na minha cabeça.

- Viviane , se eu te contar uma coisa, você vai achar que estou maluca? – Eu tinha que dividir aquilo com alguém. Precisava que alguém me dissesse que eu não havia enlouquecido.

- Eu sempre te achei maluca – ela riu um pouco

Sorri levantando a cabeça. Houve um momento de silêncio, apenas o vento fresco silvava ao nosso redor. Ela me olhava intrigada, curiosa e um pouco confusa.

- Eu tenho falado com o vô Pedro ... em sonhos – confessei, desviando o olhar para os atletas de fim de semana que se acabavam de correr na via pavimentada ao redor da lagoa.

- Muita gente sonha com entes queridos que já se foram. É normal, Carla.

- É, mas... – virei a cabeça para encará-la – Mas é diferente. È como se ele estivesse mesmo ali. Às vezes, não sei se está mesmo acontecendo ou se estou sonhando. Tudo parece real. Tão, tão real, Viviane ! Eu nunca tive sonhos assim antes. De repente o vovô está ali e tenho certeza que estou acordada, só que depois descubro que não estou – suspirei. Ele era real. Tinha que ser real. Eu sentia o amor dele me abraçando todas as vezes que aparecera para mim – Você acha que eu fiquei louca e meu subconsciente anda criando essas conversas?

Ela se calou por um momento, deliberando antes de continuar.

- Ah, sobre nada, sobre tudo. Ele me aconselha a contar ao Arthur o que Juan me disse no jantar com os diretores da L&L. Sobre o Heitor e tudo mais. Mas eu não quero falar com o Arthur . Nunca mais! Tivemos uma briga horrível hoje de manhã. Ele disse que eu sou infantil – cruzei os braços sobre o peito.

Ela sorriu, me soltando.

- Ah, a primeira briga de casal. Que fofo!

- Viviane ! – censurei.

- Eu sei, eu sei. Só pensei alto, desculpa. Eu e o Ronan tivemos tantas que até perdi as contas, mas a primeira é inesquecível – e minha amiga maluca suspirou (suspirou!) com a memória. Recompondo-se, disse: - Entendo que esteja chateada com ele, mas Carla , ele não sabe que você gosta dele desse jeito. Para todos os efeitos, ele é seu marido de aluguel. Por que não sairia com outras pessoas? – ela deu de ombros – Vocês não têm nada além de um acordo verbal com data para terminar. Você devia conversar com ele sobre o que sente. Acho que o seu avô tem razão. Você devia fala com o seu marido,amiga.

- No momento, eu não quero nem olhar para a cara dele. Estou com tanta raiva que... que...vou jogar todos os hidrotônicos dele na pia e substituir por laxante! Eu detesto aquele camarada!

- Ãrrã – ela zombou, então seus olhos se iluminaram. – Ei! Que Tal a gente ir ao cinema e eu pagar o seu ingresso?

- Só posso devolver depois do pagamento – avisei, subitamente confusa com sua animação gratuita.

- Tudo bem. Ah, o que acha de convidarmos o Ronan ? A aula dele já deve ter terminado – ela mordeu o lábio, tentando dar a impressão de que a idéia acabara de lhe ocorrer.

- Achei que as coisas estavam mais... lentas dessa vez – sorri.

- E estão. Mas ele pode ficar chateado se souber que fomos ver um filme que ele quer tanto assistir e não o convidamos.

- Imagino que ele deve estar louco para conhecer a história de amor de duas pessoas que nunca se viram pessoalmente, e uma delas nunca vai ver, já que é cega.

- Tem razão, melhor convidar – ela sorriu, completamente extasiada enquanto ligava para ele.

Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora