Capítulo 29
[Parte 1]
- Adivinha da onde estou vindo? - perguntou Sarah , apoiando as mãos em minha mesa.
Examinei o rosto maquiado e o decote profundo.
- Humm... Do inferninho mais próximo? - provoquei.
Ela sorriu largamente.
- Da sala do presidente. O Hector quer falar com você.
Levei menos de uma batida de coração para entender o significado daquele sorriso. Ela havia contado a Hector sobre o meu acordo com o Arthur . E Hector queria explicações, ou coisa pior.
Ela não esperou por minha resposta. Encaminhou-se para sua mesa sacudindo os quadris.
Corri para o nono andar, colocando na cara minha expressão mais sincera e esperando que isso bastasse para convencer Hector e não levar suas suspeitas adiante. Ele e Raquel , a secretária do presidente fazia um milhão de anos, me esperavam com cara de poucos amigos na sala da presidência, com uma pilha de papéis sobre a mesa que fora de vovô por tanto tempo. A L&L fora o primeiro empreendimento de vô Pedro , por isso ele tinha um carinho especial pela empresa de cosméticos.
- Fiz um levantamento completo sobre os salários dos funcionários e, analisando atentamente, vi que você tem razão, Carla . O que pagamos não é suficiente para se ter uma vida confortável – Hector disse, me pegando no contrapé. Não era aquilo que eu esperava.
- Não é mesmo – concordei, atônita.
- Nem eu nem seu avô fomos informados sobre isso. Veja bem, eu não posso simplesmente aumentar o salário de todos os funcionários, assim, do nada. Haveria um rombo no orçamento da L&L.
- Entendo. Mas você não pode priorizar quem ganha menos? - sugeri.
- Não é assim que as coisas funcionam. A empresa trabalha como um todo. Não posso dar aumento apenas para uma parte dos funcionários. É antiético e quase ilegal – explicou ele, um pouco sem paciência.
- Humm... Acredito que mais pessoas tenham jornada dupla. Não estou me queixando de barriga cheia. O que eu ganho, e, imagino, o que a maior parte dos funcionários ganha, não é suficiente para viver com o mínimo de conforto. Esse mês tive que escolher como gastar meu dinheiro. Entende o que eu quero dizer? Eu nunca precisei fazer isso antes. Talvez essas pessoas tenham feito isso a vida toda, mas, honestamente, como você acha que uma mãe ou um pai se sente tendo que escolher se vai colocar comida na mesa ou, sei lá, comprar um tênis novo pro filho? Ser pobre é difícil!
Hector passou a mão pelo queixo ligeiramente pontiagudo.
- Eu compreendo. E o que você propõe, já que um dia tudo isso será seu? - ele questionou, abrindo os
braços.Desconfiada, perguntei:
- Por que a minha opinião importa agora?
- Porque você é a herdeira disso tudo. Em pouco mais de um ano, tudo isso será seu, não é? - ele me lançou um olhar penetrante.
Certo. Então era assim que ele pretendia me fazer confessar. Só que, ao me avisar, Sarah acabou me ajudando, e eu não seria pega de surpresa.
Endireitei-me na cadeira, tentando parecer o mair profissional possível. Ali estava minha chance de provar a Hector, Carlos e vô Pedro que eu era capaz de ter boas ideias sem acabar na cadeia. Ao menos eu achava que a ideia era boa.
- Se você está falando sério, então, sim, eu tenho uma ideia.
- E qual seria?- ele cruzou as mãos sobre a mesa.
- Você sabe que eu não entendo muito de negócios, mas pensei em sugerir uma participação nos lucros aos funcionários, como algumas empresas fazem. Dividir entre os funcionários o que sobrar da meta de lucros mensal ou anual.
Ele sorriu largamente. Parecia se divertir.
- Você abriria mão da parte dos lucros para beneficiar funcionários?
Dei de ombros.
- Você sabe tão bem quanto eu que a grana do vô Pedro é um poço sem fundo. Não faria a menor diferença pra mim, mas para os funcionários seria bem significativo, eu acho. E além disso, imagino que, se o funcionário estiver satisfeito, vai trabalhar mais e melhor. O que vai gerar mais lucro para a empresa. Claro que você poderia estudar um aumento também para que a participação apenas complemente o salário.
Ele me observou, seus olhos negros brilhavam.
- Você entende muito mais de negócios do que supõe – falou calmamente parecendo satisfeito. - Muito bem, já encerramos. Pode voltar ao seu setor. Raquel , acompanhe a Carla e ligue para os diretores. Em caráter de urgência. - Ele voltou a atenção aos papéis a sua frente.
- Sim, senhor – disse ela
- Obrigada por me ouvir – agradeci a Hector.
Acompanhei Inês tremendo um pouco. Se aquilo fosse real, se Hector não estivesse armando para me fazer confessar que havia burlado as regras do testamento, então talvez eu pudesse ter meu aumento, comprar minha moto e evitar as idas e vindas constrangedoras com Arthur – para não mencionar que me livraria definitivamente dos terríveis ônibus. Sorri ao pensar que vovô enfartaria se ainda estivesse vivo e soubesse que eu iria comprar uma moto. Se bem que ele enfartaria mesmo morto, ante o horror de me ver sobre um daqueles objetos mortais. Ele fez um estardalhaço quando comprei meu skate. Eu tinha uns quatorze anos e passava por uma fase meio grunge. O encanto acabou quando quebrei o braço esquerdo e perdi meus cabelos. Vovô deu fim ao meu skate, de toda forma.
Raquel se virou abruptamente e, para minha total perplexidade, sorriu.
- Você teria deixado seu avô orgulhoso – disse num tom amável.
- Teria?
- Ah, sim. Você pensou no grupo, como ele fazia. Grande homem,. O seu Pedro ficaria orgulhoso de você ... - seus olhos castanhos ficaram opacos, perdidos em outros tempos. Ao julgar pelo saudosismo em seu rosto, eram tempos que ela adorava. Piscando e sacudindo a cabeça ligeiramente, ela voltou ao presente e acrescentou. - Se precisar de alguma coisa, tiver alguma dificuldade, pode me pedir ajuda. Vai ser um prazer ajudar, srta. Carla .
Quase engasguei de surpresa. Fiquei chocada e de certa forma emocionada, não só pela oferta de ajuda, mas por ela me tratar com tanto respeito. Era como se ela me visse como... como... a neta de Pedro Moreira Diaz . Alguém de valor e importante também .
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Procura-se um marido-Carthur (Finalizada )
General FictionSinopse: Carla Carolina Moreira Diaz sabia como curtir a vida,ela já havia viajado o mundo todo.Ela é mimada e inconsequente,ama uma balada e é louca pelo seu avô,Um rico empresário de grandes posses e de quebra a única família da garota. Como o seu...