Capítulo 20 [Parte 2]

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Capítulo 20

[Parte 2]

– Ai! – Somente quando espetei o dedo na ponta da faca sobre a pia me dei conta de que havia me agarrado a ela para não cair. – Merda! – Uma pequena linha rubra escorreu por meu dedo indicador.

– Me deixa ver – pediu ele, se apossando de minha mão, limpando o ferimento com um pano de prato e depois o examinando atentamente. Num gesto pra lá de inesperado levou meu dedo à boca e o acomodou ali dentro. Era macia, úmida e muito quente. Dezenas de pulsos elétricos percorreram o meu corpo, minhas pernas se transformaram em gelatina e eu não conseguia lembrar como se respirava. Ele sugou meu dedo com tanta delicadeza e simplicidade que não pude imaginar algo mais erótico que aquele toque. Meu corpo derretia como manteiga esquecida sobre a mesa, e em segundos eu estava em chamas. E queria que aquela boca me tocasse em tantos lugares quanto pudesse alcançar.

Ele soltou minha mão, examinou o dedo e sorriu.

– Parou de sangrar. Foi só um arranhão.

– Ãrrã – murmurei.

Arthur  e eu na mesma cama. Arthur  e eu na mesma cama. Arthur  e eu na mesma cama!

Nada de mais, apenas dois amigos dormindo juntos. Nada com que me preocupar. Arthur  não vai me atacar, já que é um perfeito cavalheiro. Ele não vai me atacar... Droga! Ele não vai me atacar!

– Está tudo bem? Você está um pouco pálida.

– S-só preciso beber alguma coisa. Não almocei hoje.

Ele se apressou a me servir um grande copo de refrigerante. Virei tudo de uma vez, o gás fez meus olhos lagrimejarem.

– Onde você estava? – Ele questionou.

– Depois eu te conto. Sua família está esperando. Vamos levar o jantar.

Ele me avaliou por um segundo, não pareceu gostar da delonga, mas acabou concordando. Ajudei levando os pratos, e Arthur  cuidou da grande travessa de massas.

– Talharim à carbonara – anunciou. – Foi o que deu pra fazer em pouco tempo.

– Tá com uma cara ótima! – Beatriz  exclamou.

– Já não era sem tempo! Eu tô varado de fome! – resmungou Christopher , virando sua cadeira com um pouco de dificuldade, devido ao pouco espaço da sala, e se dirigindo à mesa quadrada.

José sacudiu a cabeça em sinal de negatividade .

– Eu juro que tentamos educar esse menino, Carla .

Eu ri.

– Tenho certeza.

– É que o Christopher  precisa de muita comida pra crescer e ficar forte – ele continuou.

– Eu já sou adulto, pai! – o rapaz protestou.

– Infelizmente – Arthur  disse, espalhando as talhares pela toalha branca. – Tudo era mais fácil quando você era um menino bonitinho que vivia agarrado a carrinhos de ferro.

Nós cinco nos esprememos na pequena mesa de cinco lugares. Acabei entre Arthur  e  Christopher ,mas o garoto pouco falou. Parecia que não se alimentava havia semanas, pela maneira afoita como levava a comida à boca. E, apesar da massa estar deliciosa,Arthur  era brilhante em tudo que fazia, não sei por que me surpreendi com seus dotes culinários –, mal consegui tocar na comida. Meu estômago parecia estar cheio de cimento.

– Agora que a Carla chegou, pode nos dizer o que te deixou tão feliz, Arthur ? – pediu seu pai.

– Já contei pra ela – ele sorriu pra mim.

Não pude deixar de corresponder. Arthur  era tão lindo! Como não sorrir ao olhar pra ele?

– O Hector, presidente da L&L, me chamou hoje de manhã – ele contou, voltando a atenção para sua família. – Disse que gostou muito do que consegui fazer no Comex nesse último semestre. Vou disputar a vaga de diretor do setor – e me passou uma taça de vinho.

Tomei tudo num gole só, nervosa. Os pais de Arthur  eram bem normais, mas achavam que eu era a namorada – ou algo que o valha – de seu filho, por isso se sentiam no direito de me encarar e observar cada gesto meu.

– Isso é maravilhoso, filho! – Beatriz  disse com um sorriso imenso.

– Eu sabia que você ia conseguir – gabou-se José pelo filho .

– Tudo só vai ser decidido na sexta-feira, mas acho que tenho boas chances de ser o novo diretor de comércio exterior. Eu dei duro pra isso e mereço muito a promoção .

– Sexta? – questionei.

Ele arqueou as sobrancelhas.

– O jantar, esqueceu? Com o pessoal da diretoria?

– Ah! Eu tinha esquecido. Sexta-feira, claro. – Estendi minha taça para ele, que a encheu outra vez. Arthur realmente sabia escolher um bom vinho.

– Você parece abatida, Carla  – comentou minha sogra,Beatriz . – Está tudo bem?

Não, não está. E acho que vai piorar muito antes que eu consiga arrumar tudo.

– Está. Só não pude almoçar hoje. Correria, sabe como é...

Ela sorriu.

– Sei sim, mas você não devia permitir que o trabalho interfira na sua saúde. Pode ser perigoso.

Sorri, deliciada com sua preocupação maternal.

– Então... – Christopher , que finalmente tinha a boca vazia por alguns segundos, aproveitou para puxar conversa. – Como foi que o mane do meu irmão,Arthur  conseguiu uma gata como você?

Ah, que inferno. Demorou, mas alguém teve coragem de perguntar.

– Não é da sua conta – Arthur retrucou, olhando para o próprio prato.

– Arthur ! – reclamou seu pai – Isso não são modos.

– Minha vida particular não interessa a ninguém.

– Isso não é verdade, filho – interveio Beatriz . – Você é parte dessa família e sua felicidade nos importa, sim,não fale isso,só queremos sua felicidade.

Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora