Capítulo 26 [Parte 2]

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Capítulo 26

[Parte 2]

Viviane esperou que a porta do banheiro se fechasse para pular no sofá.

- Ele brincou com seu cabelo!

- Ele faria o mesmo com um chihuahua. Você tinha razão. Eu cometi um erro enorme ao colocar aquele anúncio. Foi uma tremenda burrada.

Ela meditou sobre o assunto e subitamente seu humor mudou.

- Quer saber? Você está sob muita pressão - falou. - Vamos sair um pouco. Que tal darmos uma passada no antiquário?

- Pensei que você não quisesse mais nada com o Ronan - respondi, surpresa.

- E não quero. - Então ela sorriu, envergonhada. - Quer dizer, não muito.

Sorri.

- Vou pegar minha bolsa. - Bati na porta do banheiro. - Arthur , vou sair.

- Divirta-se e vão com cuidado,Carla - gritou ele sob o ruído de água caindo.

Fomos no carro de Viviane . Eu detestava ficar sem carro e, a julgar por meu salário, ainda teria muito tempo antes de poder sequer pensar em comprar um. Talvez eu devesse dar uma olhada no preço das motos. Não uma Ducati, claro, mas qualquer coisa que me livrasse do transporte público serviria.

A galeria Renoir estava aberta, mas, como de costume, deserta. Ronan me recebeu com um abraço desajeitado.

- Só porque casou esqueceu que tem amigo?

- Na verdade, é o trabalho que está me matando,Ronan - reclamei. - Olha só meus dedos!

Ele examinou minhas unhas estragadas pela copiadora e sorriu.

- Eis a prova do crime. Carla Carolina finalmente é uma trabalhadora - zombou e se voltou com o rosto apreensivo para minha amiga. - Oi, Viviane . Tudo bem?

- Oi - ela sorriu timidamente - Você não me ligou mais.

- Você pediu que eu não ligasse - ele respondeu, confuso.

- Eu sei, mas... Sei lá... - ela desviou os olhos, brincando com o babado da blusa - Você podia ter tentado me fazer mudar de ideia. Sobre muitas coisas.

Os olhos de Ronan se arregalaram.

- Podia? - ele perguntou surpreso, a voz levemente estrangulada.

- Podia - ela deu de ombros e sorriu timidamente.

Revirei os olhos e me afastei para lhes dar mais espaço. Viviane era ótima para dar palpites sobre a vida amorosa dos outros. Uma pena que, quando se tratava da sua, ela não soubesse o que fazer.

Corri os dedos sobre a superfície de uma mesa de estilo Luís XV enquanto seguia até a seção de prataria. Parei perto da porta, examinando o legitimo candelabro de prata francês da Renascença, a peça mais bonita da loja, quando notei o cartaz colado na vitrine.

- Ronan , vocês estão contratando?

- Só para os fins de semana. Vou ter que fechar a loja se não encontrar alguém. Tenho que acabar meu curso de mergulho - ele explicou.

- Qual é o horário?

- Sábado em horário comercial e domingo até meio-dia.

- Salário? - eu quis saber.

- Como tem adicional de hora extra, acaba sendo até razoável.

Aquilo seria perfeito. Grana extra e menos tempo com Arthur . Tudo de que eu precisava!

- Tudo bem, eu aceito- sorri para ele.

Ronan pareceu confuso.

- Eu quero o emprego - expliquei.

- Você... Quer? - Viviane me examinou cuidadosamente.

- Um pouco mais de grana viria bem a calhar, Viviane . Talvez eu consiga guardar um pouco para comprar uma moto, e além disso eu ficaria fora o fim de semana todo. Evitaria certo problema - arqueei as sobrancelhas sugestivamente.

Ela cruzou os braços sobre o peito. Seu rosto era a máscara da reprovação.

- Não acredito que você vai fugir. Você não é disso! Carla,afronte a situação,por Deus

- Não vou fugir. Só vou resolver essa confusão. E eu gosto daqui. Gosto dos malucos que às vezes aparecem por aqui.

- Ei! - resmungou Ronan .

- Ah, Ronan , qual é? Só entra doido aqui, admita - brinquei.

- Escuta, Carla - começou ele, cauteloso. - Eu gostaria de te dar o emprego, mas preciso de alguém... Responsável, que abra o antiquário e não durma nas poltronas que estão à venda.

- Eu mudei. - Ele fez uma careta. Apressei-me a persuadi-lo. - É sério! Eu não vou dormir nas poltronas nem vou me atrasar. Prometo dar o melhor de mim. Eu já conheço a loja, sei como tudo funciona. Você não vai precisar perder tempo explicando nada pra mim.

- Dá uma chance pra ela, Ronan - Any pediu com a voz melosa. - Você mesmo admitiu que vendia muito mais quando Carla estava aqui.

- Porque ela inventava histórias malucas e enganava os clientes - apontou ele.

- Mas não é isso que um empregador espera? Que o funcionário dê o melhor de si e consiga conquistar os clientes? - ela questionou.

- Bom... É, mas...

- Por que você não faz um teste? - sugeriu Any. Vamos deixar a Carla aqui por um tempo e ver como ela se sai. A gente podia tomar um café ali na esquina enquanto isso ou...

- Tudo bem! - ele a interrompeu apressadamente e a arrastou pela mão. Ela se virou com o polegar erguido e piscou um dos olhos antes de passar pela porta.

- Obrigada! - sibilei.

Nem um único cliente entrou no antiquário, como de costume. As horas se passavam e nada acontecia. Comecei a me sentir entediada. Sentei no sofá e alcancei uma revista velha. De repente, o tédio ameaçou me vencer. Larguei a revista e repassei mentalmente cada cena, cada conversa com Arthur , desde que tínhamos nos conhecido, tentando entender em que ponto dessa história eu passara a amá-lo.

- Você não contou nada a ele - disse vô Pedro , vindo do nada, me fazendo pular do sofá no qual acabara de me refestelar. Quase derrubei o vaso de cristal na mesa ao lado.

- Caramba! - gritei, colocando a mão sobre o coração, que teimava em querer sair pela boca. - Você quase me matou de susto! Não dá pra fazer barulho ou algo assim antes de aparecer do nada?

Ele sorriu

- Desculpa. Vou me lembrar da próxima vez. - Mas voltou a ficar sério quando disse: - Você não contou nada para o Arthur .

Virei-me de costas, fingindo apreciar o vaso de cristal.

- Ah, eu... Hã... Não tive oportunidade ainda...

- Não minta, Carla Carolina,te conheço muito bem - ele suspirou.

Gemi baixinho, me virando e abaixando os olhos para meus pés.

- Não contei porque não queria... Que o Arthur me odiasse.

Procura-se um marido-Carthur  (Finalizada )Onde histórias criam vida. Descubra agora